Por Bernardo Bittar, de Brasília
Faltou argumento? Parta para o grito. É o que estão fazendo candidatos à prefeitura de algumas cidades brasileiras que disputam, neste domingo (29), o segundo turno das eleições municipais. O pinga-fogo se intensificou nesta semana com acusações de racismo, homofobia, alusões ao diabo, fake news…
…e, sim, menções ao kit gay.
“Desde a escola aprendemos a desmerecer o coleguinha chamando-o de feio, chato e bobo. Isso só aumenta na vida adulta. Fofoqueira é a vizinha que reclama do barulho. Racista e corrupto são os adversários políticos. É estrutural”, explica o sociólogo Eduardo Camacho, professor da Universidade de Brasília (UnB).
Em Porto Alegre (RS), a briga é entre Sebastião Melo (MDB) e Manuela D’Ávila (PCdoB). O racismo entrou forte na pauta da cidade com o assassinato no Carrefour da capital gaúcha, e a candidata fez alusões ao suposto racismo de Sebastião.
O caso parou na polícia, com o emedebista registrando um boletim de ocorrência contra a adversária.
No Rio de Janeiro (RJ), o prefeito candidato à reeleição Marcelo Crivella (Republicanos) tenta associar Eduardo Paes (DEM) ao Psol e ao velho “kit gay” do Bolsonaro ainda dos tempos de Câmara, tática para tentar diminuir a diferença de 30 pontos percentuais de desvantagem a Paes.
Em sua réplica, o demista chamou o adversário de “pai da mentira” – expressão que o neopentecostalismo traduz por “diabo”. O impacto foi gigante, já que que Crivella é pastor licenciado da Igreja Universal. “Que Deus tenha misericórdia dele”, alfinetou Paes pelo Twitter.
Em Recife, parente é serpente: na disputa entre os primos de segundo grau João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), a baixaria corre solta. Ela diz ter sido vítima de “uma campanha de ódio” enquanto ele afirma que “vai partir para o ataque para se defender”.
No mata-mata, perde quem morrer primeiro. Politicamente, claro.