Por Renato Ochman – advogado, mestre em Direito Societário e autor dos livros “Vivendo a Negociação” e “Código da Negociação”
O Brasil não é para amadores. Desde quando Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal que o melhor fruto que aqui se podia produzir, na visão dele, era salvar a gente que aqui vivia, temos altos e baixos. Alguns inevitáveis a uma jovem nação, outros obras de escolhas equivocadas e falta de investimento prioritário em educação. Mas fomos miscigenando e abertos a tantos que chegaram, postergando soluções, tentando camuflar conflitos, sem deixar de mostrar ao mundo um jeito próprio.
Sempre procuro olhar para a metade cheia do copo. Millôr Fernandes, mais irônico, dizia que “o otimista não sabe o que o espera”, posso não saber, mas sigo acreditando e me incluo no grupo daqueles que creem no ditado que “Deus ajuda a quem cedo madruga”. E desse grupo, dos otimistas batalhadores, fazem parte empresários que criaram uma certa casca que ajudou a superar tantos sobressaltos, verdadeiros malabaristas. Se a pandemia foi atroz para os negócios, foi mais para as pessoas e famílias, vidas foram perdidas e isso é irreparável.
É importante lembrar outro dito popular: “Um olho no peixe, outro no gato”. Com muita tenacidade, disposição, ação e também um pouco de sorte, alguns empresários souberam se equilibrar, proteger suas empresas e passar com o menor impacto possível por esse período cruel e se viram diante de oportunidades de crescer via aquisições.
A ONU apresentou o novo ranking de atração de investimento. Éramos o sexto país em 2019, caímos para a 11ª posição e fomos ultrapassados pelo México na liderança da América Latina. Entraram no Brasil quase US$ 25 bilhões em investimentos, contra US$ 65 bilhões um ano antes – claro que a pandemia prejudicou a todos, nós sofremos mais. O mundo das fusões e aquisições movimentou, em 2020, US$ 2,8 trilhões, número próximo ao de 2017 (US$ 2,9 trilhões), mas inferior a 2018 (US$ 3,4 trilhões) e 2019 (US$ 3,3 trilhões).
Novos investimentos transformam, impulsionam e fazem falta, mas é importantíssimo ressaltar que o empresário nacional, que vem sabendo aproveitar oportunidades, opera em real e aceita as oscilações da nossa moeda, conhece bem o mercado e tinha aquele concorrente mapeado e pôde partir para uma negociação até mesmo favorável. Claro que muitas lições de casa foram necessárias e a incorporação é sempre o desafio de maximizar as operações.
Entre bons números, tivemos no primeiro trimestre de 2021, segundo levantamento da PwC, 333 transações, ante 222 do ano passado. De 2015 a 2019, a média do período foi de 163. Você pode pensar que o número do primeiro trimestre tende a ser menor. Verdade, mas reforçando a metade do copo cheio, em 2020, ainda que sob impacto inesperado da pandemia, foi batido o recorde de transações: 1.038. E quem consulta o gráfico da PwC descobre que os empresários nacionais respondem por nada menos do que 80% dos negócios – das 333 transações, 252 foram feitas por capital nacional e 62 por estrangeiros. Os setores mais agitados foram TI, serviços auxiliares, serviços públicos, financeiro e educação. Se o cenário não tem favorecido um olhar positivo estrangeiro, o brasileiro comprometido com o longo prazo do país não titubeou, deu passos ousados para sonhar com outros, seja IPO, seja aquisições aqui ou no estrangeiro, com pururuca na celebração.