O OUTRO SOMOS NÓS

Aos 90 anos, a fotógrafa Claudia Andujar tem sua carreira de luta pelo reconhecimento dos direitos do povo ianomâmi celebrada em exposições no Brasil e no exterior

Claudia Andujar compreende a fotografia como um processo de mão dupla – nunca é apenas uma captura unilateral, mas uma relação de troca e cumplicidade. Quando a fotógrafa chegou pela primeira vez a uma aldeia ianomâmi, em 1971, os indígenas a chamavam de “estrangeira”. Décadas depois, hoje ela é a “napa” – a mãe.

O longo tempo de maturação da convivência permitiu a Claudia – que nasceu na Suíça em 1931 – a tentativa de uma relação de mútuo entendimento com o povo de caçadores-agricultores da floresta tropical do norte da Amazônia, cujo contato com o Brasil não indígena é relativamente recente. “Meu trabalho de fotografia essencialmente foi feito para pegar a maneira que os ianomâmis veem o mundo”, diz a artista.

Anterior Próximo

Com 90 anos recém-completados em 12 de junho, Claudia tem agora sua carreira – e seu legado de luta pelo reconhecimento dos direitos dos povos da floresta – celebrada em homenagens e exposições. Na Galeria Vermelho, duas séries de fotografias ficam em cartaz até o fim de julho.

Sonho, na qual sobreposições imprimem um tom onírico às imagens, foi concluída em 2002, dez anos após a demarcação que garantiu a posse da terra aos povos originários da floresta, hoje em risco com o avanço da mineração e do garimpo. “Fiz todo o meu trabalho e luta pelos ianomâmis”, afirma. “Conseguimos a demarcação da terra com o desejo que sejam uma população que vai ser respeitada e que eles vão continuar a viver da maneira como pensam.”

Anterior Próximo

A outra série é Genocídio do Ianomâmi: Morte do Brasil, exposta pela primeira vez em 1989, no Masp. Fotos de Claudia estão hoje em mostras individuais em Miami (Institute of Contemporary Art) e em Londres (Barbican Centre). Produzido pela TV Cultura, um documentário também compilou 50 anos do acervo da emissora, ainda em fita cassete, para recuperar imagens, reportagens e programas gravados com Claudia.

Para a artista, o Brasil por vezes ainda teima em não reconhecer os indígenas na sua integralidade humana. “É um povo diferente, que entende e tem uma visão do mundo diferente da de outros povos”, diz. “Mas todos esses povos diferentes têm uma coisa em comum: são seres humanos.”