Sentindo-se deslocado, o vice-presidente da República escreveu uma carta para um destinatário ilustre: a presidente.
Declarava ali todo o seu descontentamento com a gestão da qual fazia parte. Sentia-se sem função. Não participava de reuniões importantes. Uma frase em latim à guisa de epígrafe e voilà, Michel Temer dava início assim a sua campanha para deixar de ser um “vice decorativo”.
Esperar faz parte do trabalho do vice-presidente. Via de regra, o camarada está ali para ser um “stunt”, um substituto. O problema é que tanto Temer quanto o general Hamilton Mourão, vice de Jair Bolsonaro, não gostam de ficar na regra 3.
Nesta terça-feira (09), Bolsonaro convocou seus ministros para uma reunião. Estavam presentes 22 dos 23, já que Fábio Faria (Comunicações) faz soirée pelo Oriente para conhecer os candidatos a fornecer a tecnologia de 5G para o Brasil.
Mourão ficou de fora. Disse à imprensa pela manhã que não havia sido convidado.
Mais tarde, o general da reserva falou com a PODER Online. Garantiu que mais essa canelada do presida não gerou “mal estar algum”.
“Não houve a necessidade de ir ao evento”, disse. “É normal haver momentos em que o vice não se faz necessário.”
Convincente, persuasivo e sempre bem-disposto, Mourão procura sempre passar uma imagem de altivez, mas seu círculo íntimo está preocupado.
É que o vice-presidente foi se apequenando durante a gestão Bolsonaro, inicialmente fechada em si mesma e agora enamorada pelo Centrão.
Em 2019, Mourão recebia delegações estrangeiras, grandes empresários, lobistas, pessoas interessadas em falar e também ouvir sua opinião. Só que aí, conforme as portas da sede do palácio do Planalto foram se abrindo, as do anexo, onde fica o gabinete do vice, foram se fechando.
Existe, sim, um ressentimento. É não é por causa desta reunião de hoje.