Depois de longa carreira no Psol, o deputado federal Marcelo Freixo decidiu virar casaca. Trocou o partido claramente de esquerda pelo muito mais escorregadio PSB em busca de uma sigla com mais viabilidade eleitoral.
Freixo é candidato a governador do Rio pela sigla socialista em 2022 e sabe das grandes dificuldades que terá para administrar o estado, ferido pela força das milícias que ele ajudou a combater quando deputado estadual e pelo narcotráfico. “A gente vai fazer o Rio se encontrar, a voltar a sonhar, a se desenvolver, a ter empregos”, disse em entrevista exclusiva a PODER Online.
Freixo bateu na trave na campanha à prefeitura do Rio em 2016, quando perdeu no segundo turno para Marcelo Crivella e atualmente é líder da minoria na Câmara dos Deputados. Crítico ao presidente Bolsonaro, Freixo acredita que as eleições de 2022 serão “as mais importantes de nossa história”. Em cena, segundo ele, o “combate ao fascismo e às ameaças à democracia”, além da emergência dos temas da “fome” e do “desemprego”.
Veja os principais pontos da entrevista.
CPI DA COVID
ALIANÇA NO RIO
“Hoje a chapa pela qual concorro ao governo do Rio tem quatro partidos e vai chegar a seis. Estamos dialogando por uma aliança progressista que tire o Rio deste lugar de tamanha crise. O estado é governado por uma máfia. Tenho conversado com empresários. Setores da economia abriram portas importantes para pensar uma recuperação econômica do Rio. Converso também com setores das polícias militar e civil. Há muita gente boa da saúde, da educação, da segurança, do mundo econômico, das questões ambientais, todos dispostos a recuperar o estado. Isso tem me animado muito, tem sido um combustível.”
CONTROLE DO MP
“Não existe a menor relação entre o voto divergente entre as esquerdas com a relação de aliança no Rio de Janeiro. Eu sou deputado do PSB, muitos deputados do meu partido, do PDT e do PSol, votaram contra a PEC que amplia o controle do Ministério Público por terem entendimentos diferenciados. Isso vai acontecer muitas vezes, já aconteceu outras. Tentamos sempre unificar. Na votação dos precatórios, por exemplo, estamos unificados. Em outras, não. Isso é uma democracia. Temos uma relação muito respeitosa aqui dentro da Câmara. Nas redes sociais, usa-se outra linguagem, não é lá que se faz aliança, se constrói política, ganha-SE governo. A relação do PSB no Rio está muito sólida com o PT, o PCdoB e a Rede. Estamos conversando com o PSD e o PV também.”
TROCA DE PARTIDO
“A eleição de 2022 vai ser a mais importante da nossa história porque vai combater o fascismo, a ameaça à democracia, irá enfrentar o tema da fome e do desemprego. O Brasil voltou a ter fome. E tem um presidente da República indiciado por crimes contra a humanidade. O PSB vai ser o partido que consolidará essa aliança progressista, de centro-esquerda, que permitirá um programa de desenvolvimento e de combate à fome. Acho que nesse partido consigo contribuir mais com essa aliança do que no Psol.”
MILÍCIAS
“Podemos e devemos enfrentar as milícias e o tráfico no Rio de Janeiro. Não é possível termos mais da metade dos territórios do Estado dominados pelo crime e [ter] um governo que é conivente. A CPI das Milícias, da qual fui presidente, gerou a prisão de mais de 200 milicianos. Mudou a opinião pública, transformou milícia em crime. Fiz 58 propostas concretas que os governos não cumpriram. É hora de cumprir. Não adianta só prender. Tem que prender e tirar os donos dos territórios, o poder do dinheiro. Só se combate crime organizado retirando seu dinheiro. E nenhum governador do Rio até hoje teve coragem para fazer isso. Por isso, acabaram presos. Foi o que aconteceu com Garotinho, com Rosinha, com Cabral, com Pezão. O Witzel foi impichado, e o atual governador, Cláudio Castro (PL), que é investigado. Essa tragédia política de governadores marcados por envolvimento com o crime fez o crime crescer e se consolidar no estado. É esse ciclo que queremos interromper.”
MARIELLE
“É um dos maiores absurdos da história da segurança pública no Brasil. A [ex-vereadora] Marielle [Franco] era mulher negra, de origem popular, que foi brutalmente assassinada. Foi da minha equipe durante 10 anos. Sua morte é a morte da democracia. Quando o Rio não diz quem mandou matá-la, afirma que uma vereadora negra pode ser assassinada. E uma forma de fazer política no Rio é matando pessoas. Isso, em pleno século 21. É isso que temos que enfrentar no Rio. Precisamos tirar uma máfia que está no poder há tanto tempo e faz a população, principalmente a mais pobre, sofrer. Faz a população evangélica sofrer, a católica, moradores de favelas e periferias, moradores da Zona Oeste. É um Rio violento, desigual, que tem fome, desemprego, milícia e tráfico. Esse cenário é o que tirou a vida de Marielle. Não podemos achar isso normal. As explicações dadas pelo governador são extremamente desrespeitosas. Ele mudou o delegado inúmeras vezes, não há nenhum sinal de avanço da investigação. A própria Polícia Civil, de alguma maneira, atrapalhou as ações do Ministério Público. Não se vê por parte do governo do Rio um desejo de se esclarecer o crime da Marielle.”
TERCEIRA VIA E BOLSONARO
“Não vejo viabilidade. E temos de tomar muito cuidado quando colocamos Lula e Bolsonaro no mesmo plano. Não estão. As pessoas podem até discordar do Lula, mas ele está no campo da democracia. Lula nunca propôs fechamento de Congresso, nunca mandou jornalista calar a boca. Você pode discordar do Lula como já discordou do FHC, do Alckmin,mas eles estão no campo da democracia. Bolsonaro, não. Bolsonaro promove atos antidemocráticos, desrespeita a ciência, comete crimes contra a humanidade. Representa uma ruptura da democracia, da vida.
Eu acho que Bolsonaro chega ainda competitivo para 2022, e quem o derrota, hoje segundo as pesquisas, é Lula. A tendência é que caminhemos para uma aliança do campo progressista que possa dar a Lula não só a vitória, mas também governabilidade. Precisamos nos preocupar com o que será o Brasil depois de Bolsonaro. O resultado de seu governo é que várias pessoas não se vacinaram, temos uma sociedade armada, mais violenta, das fakes news. Os resultados do governo Bolsonaro não vão acabar com sua derrota. Por isso, precisamos criar uma governabilidade muito sólida, tendo responsabilidade para consertar os graves equívocos e o retrocesso do governo Bolsonaro.”