Avanços da imunoterapia prolongam a vida de pessoas com câncer de bexiga

Conversamos com a  médica oncologista Mariana Bruno Siqueira, da Oncologia D’Or e pesquisadora do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, para entender a importância deste trabalho científico, que foi divulgado na sessão presidencial dedicada a ensaios clínicos que mudam a prática médica.

O tratamento contra o câncer está ficando cada vez mais sofisticado. Uma das opções mais avançadas é a imunoterapia, um tipo de tratamento que potencializa o sistema imunológico de modo que ele possa combater o câncer.

No Congresso Europeu de Medicina Oncológica, que terminou na última terça-feira (17), na Espanha, o respeitado oncologista britânico Thomas Powles, da Universidade Queen Mary, em Londres, apresentou um estudo que envolveu vários países sobre a aplicação da imunoterapia com durvalumabe em pacientes com câncer bexiga invasivo.

 

Porque o estudo conduzido pelo dr Thomas Powles é relevante?

O estudo NIAGARA foi o primeiro trabalho científico a analisar a quimioterapia associada à imunoterapia no cenário antes da cirurgia em tumores de bexiga. Esta associação de quimioimunoterapia é aprovada no Brasil para pacientes com doença avançada ou com metástases.

Mas, pela primeira vez, existem resultados que suportam seu uso antes da cirurgia, que é um tratamento com intenção de curar os pacientes portadores de câncer de bexiga localizado, mas já com invasão de camadas mais profundas da bexiga. Em torno de 50% a 70% dos pacientes têm sobrevida de cinco anos, mesmo com a cirurgia de retirada da bexiga (cistectomia). Era uma necessidade médica melhorar o tratamento sistêmico antes e depois da cirurgia para aumentar a chance de cura.

Quais as características do câncer invasivo de bexiga, cujo tratamento envolve a remoção do órgão? É comum? É agressivo? Como é a vida do paciente pós-cirurgia? Como é viver sem bexiga?

Cerca de 1/3 dos tumores que se desenvolvem na bexiga são do tipo invasivo. Ele possui este nome porque invade as camadas mais profundas do órgão e tem o potencial de causar metástases em gânglios ou em outros órgãos como fígado e pulmão.

O câncer de bexiga é mais frequente nos homens do que nas mulheres. No público masculino, é o segundo câncer mais comum, ficando atrás apenas do câncer de próstata. Ele está entre os sete tipos de câncer que mais acometem os homens no Brasil.

O câncer invasivo pode ser agressivo e suas chances de cura variam de 50% a 70% mesmo com a retirada da bexiga. Para aumentar a chance de cura, o paciente é submetido à quimioterapia no pré-operatório. Dependendo do resultado encontrado na patologia do espécime cirúrgico, o paciente pode ser tratado com imunoterapia no pós-operatório.

A cistectomia é uma das maiores cirurgias em oncologia, mas é possível viver com qualidade sem a bexiga. Pode ser feito uma neobexiga com um pedaço do intestino que funciona bem ou pode ser necessário uma derivação para pele, onde a urina fica armazenada numa bolsinha no abdômen e o paciente faz a limpeza quando necessário. Parece complicado mas, com apoio multidisciplinar adequado, o paciente pode ter uma qualidade de vida muito boa após cistectomia.

O câncer de bexiga tem como principal fator de risco o tabagismo. O número de fumantes no Brasil e no mundo vem caindo. O número de casos de câncer bexiga vem acompanhando esta queda?

Certamente a principal medida para reduzirmos a incidência do câncer de bexiga é o controle do tabagismo. Mas esse declínio ainda não é visto do ponto de vista mundial. Globalmente, ele ainda está com tendência de alta, mas a incidência varia muito por região. No Brasil, se analisarmos as estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) sobre o número de novos casos, também vemos que ainda não houve uma redução. Possivelmente, precisaremos de mais tempo para observarmos uma queda.