Ministros do STF sobem o tom e batem boca por “passeio no parque”

Alexandre de Moraes e Nunes Marques || Crédito: Carlos Moura/SCO/STF

Segundo dia da votação dos atos de 8 de janeiro tem Moraes a detonar Mendonça e Nunes Marques a (quase) tudo perdoar

As primeiras horas do segundo dia do julgamento dos réus envolvidos nos atos de 8 de janeiro no STF foram prenhes de discussões entre membros da Corte – e Nunes Marques e André Mendonça, os ministros indicados por Bolsonaro, foram aqueles que mais receberam bordoadas da, digamos, velha guarda.

Dentre os quiproquós, a intervenção mais leve foi a de Gilmar Mendes, que em dado momento, em aparte a Mendonça, sublinhou a gravidade dos fatos em apreciação, como que a querer explicar didaticamente ao colega, e também a Marques, que o objeto de julgamento não era um “passeio no parque”.

Passeio no parque e a variante “domingo no parque”, não por acaso, foram as expressões usadas pelo relator da causa, ministro Alexandre de Moraes, na quarta (13), justamente para ironizar os argumentos da defesa do réu Aécio Costa, o primeiro a ser julgado.

Depois de mencionar o “passeio no parque”, Gilmar ilustrou sua tese dizendo diretamente a Nunes Marques que a “cadeira que o senhor está sentado estava lá na rua no dia da invasão”. Este, gentilmente, explicou ao colega que a expressão “passeio no parque” não era dele – tampouco dedurou Moraes.

Mas a pancadaria maior aconteceu entre Moraes e Mendonça.

Xandão interpretou fala do colega como se este endossasse as teses bolsonaristas de que os atos de 8 de janeiro foram armados por Lula 3. “É um absurdo, com todo respeito, vossa excelência querer falar que a culpa do 8 de janeiro foi do ministro da Justiça (…) Agora vossa excelência vem no plenário do STF, que foi destruído, para dizer que houve conspiração do governo contra o próprio governo? Tenha dó”.

Mendonça, mais calmo, por três vezes se viu obrigado a replicar Moraes: “Não coloque palavras na minha boca” e, por fim, “tenha dó, vossa excelência.”

Antes do entrevero, Mendonça havia dito que não conseguia entender “como o palácio do Planalto foi invadido da maneira que foi invadido”, uma vez que é conhecido o “rigor de vigilância e cuidado que deve haver lá”. Moraes rebateu, ainda com alguma civilidade, enumerando os fatos que ajudavam a explicar a invasão: “Cinco coronéis comandantes da PM estão presos exatamente porque desde os finais das eleições se comunicavam por zap dizendo exatamente que iriam preparar uma forma de, havendo manifestação, a PM não reagir.”

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Com tudo isso, a cana do primeiro réu julgado no STF, o ex-técnico da Sabesp Aécio Costa, vai ser dura e segue a dosimetria proposta por Xandão: 17 anos. Nas duas mais polêmicas e importantes imputações de crimes, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e Golpe de Estado, houve apenas dois votos contrários: Nunes Marques, sempre; e Luís Roberto Barroso (abolição violenta) e André Mendonça (golpe de estado).

Como não viu ameaças ao Estado de Direito, Nunes Marques, coração mole, propôs 2 anos e meio para Aécio.