A ampla janela serve de moldura para Estação da Luz, o relógio inspirado no Big Ben e os trilhos da estação de trem mais charmosa da capital paulista. Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca, conta que a vista o faz se lembrar diariamente da Alemanha, país onde nasceu, com sua enorme malha ferroviária. Os passageiros de todos os tipos que passam por ali são uma espécie de reflexo do que a Pinacoteca vem ambicionando ao longo dos últimos anos: se tornar um museu diverso, de múltiplos olhares e saberes.
Responsável por exposições bem-sucedidas como OSGEMEOS: Segredos; Grada Kilomba: Desobediências Poéticas; Véxoa: Nós Sabemos; e Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985, Jochen trouxe para o centro da cena artistas ainda marginalizados, como os de rua, as mulheres, os afrodescendentes e os indígenas. “É muito importante questionar qual história não nos foi contada. Para além de uma reparação histórica, olhar para essa diversidade é também uma forma de trazer outras contribuições filosóficas fundamentais, como de uma Grada Kilomba ou de um Ailton Krenak”, acredita ele, que assumiu a direção da Pinacoteca em 2017.
Em sua mesa de trabalho, inúmeros catálogos das exposições da Pinacoteca dividem espaço com uma gravura de onça do artista Denilson Baniwa e cartões-postais. Em um deles, uma colagem em cima de uma foto do artista plástico Christo revela um pedido inusitado de um curador alemão que pediu para que Jochen entrasse em contato para tratar de um assunto muito importante. “Ele podia me enviar um e-mail, mas me mandou um postal, que levou semanas para chegar”, conta o diretor, rindo. Já o assunto ele nunca soube, pois o curador não respondeu o e-mail de Jochen até hoje.
Uma maquete do projeto inicial do novo prédio Pinacoteca Contemporânea, que foi inaugurado em março deste ano, ocupa a mesa lateral da sala. A ideia é que o conjunto dos três edifícios: a Pina Contemporânea; a Pina Luz, primeira sede da Pinacoteca e a mais visitada, fundada em 1905; e a Pina Estação, no Largo General Osório, inaugurado em 2004 e o antigo escritório da Estrada de Ferro Sorocabana, seja um grande museu internacional de arte brasileira. “O museu é um lugar de memória e de exercício de um espaço democrático. Ele nos permite pensar que somos diversos, temos múltiplas vozes, mas a vontade de construir um futuro juntos é a mesma”, finaliza, em frente à icônica parede de tijolinhos do museu de arte mais antigo da cidade.