Com “extremamente satisfeito”, Tarcísio reedita “mirar na cabecinha” meia década depois

Tarcísio de Freitas e Capitão Derrite || Crédito: Josué Emidio / Governo do Estado de SP

Governador paulista assume lado de suas forças de segurança em ação no Guarujá e evoca Witzel; ministro Silvio Almeida fala em "limite para as coisas"

O “mirar na cabecinha” está de volta sem o “zeitgeist” de 2018 — e com o ostracismo do autor da frase, o governador impichado do Rio Wilson Witzel. Em São Paulo, em entrevista coletiva na manhã desta segunda (31), o governador Tarcísio Gomes de Freitas se disse “extremamente satisfeito” com a operação da PM no Guarujá que deixou um rastro de sangue e um “body count” de ao menos dez pessoas.

Não é possível dizer que o governador trouxe de seu Rio de Janeiro natal a complacência com a violência policial pois isso já está universalizado há tempos. São Paulo, o estado dos “111”, teve ainda uma chacina em Osasco e Barueri  que precede a do Jacarezinho, no Rio. Em Osasco, 18 mortos; na Zona Norte do Rio, 28.

Tarcísio se disse ainda “extremamente triste” com a morte do soldado PM da tropa de elite Rota vitimado na quinta (27), possível razão para a operação no Guarujá.

A violência policial pode ter sido efetivamente desnecessária quando se tem que Erickson David, suspeito de ter feito o disparo que vitimou o soldado e preso no domingo (30) fez uma gravação em que pede ao governador e a Derriti pararem de “fazer essa matança aí”. [Estão] “matando uma ‘pá’ de gente aí, inocentes. [Estão] querendo pegar minha família. Eu não tenho nada a ver. ”

Moradores do Guarujá relataram tortura policial, algo que foi negado por Tarcísio e por seu secretário de Segurança, o ex-PM Guilherme Derriti na entrevista. “Nós reagimos com essa violência na mesma proporção com que eles atacam as polícias”, disse o secretário.

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Autoridades federais manifestaram-se com bastante retardo no começo da tarde desta segunda-feira. Em fio no ex-Twitter, o ministro Silvio Almeida, titular da pasta dos Direitos Humanos e Cidadania, disse que “(…) foi cometido um crime bárbaro contra um trabalhador que precisa ser apurado, mas nós não podemos usar isso como uma forma de agredir e violar os direitos humanos de outras pessoas”.

E seguiu:

“É preciso um limite para as coisas. Então eu acho que o limite para isso é o respeito aos direitos humanos, seja para os agentes da segurança pública, seja para a população dos territórios onde a polícia atua.”