Às vezes, um charuto é apenas um charuto, disse, ou não disse, o que não importa muito aqui, Sigmund Freud. O filme Barbie, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta (20), também pode – ou não pode – estar a invocar uma crítica feroz ao patriarcado, como seu roteiro, com uma incursão da boneca protagonista ao “mundo real”, faz crer.
Também pode estar a fazer a própria autocrítica de um produto de muito sucesso criado numa época em que questões de diversidade eram impensáveis. Assim como era impensável contestar o padrão de beleza seletivo que Barbie encarnava. No filme, a propósito, todos os personagens chamam-se Barbie ou Ken, seu par masculino; mas há versões étnicas dos dois, aos montes, com eles a contracenar.
Crítica ao patriarcado e à falta de sensibilidade para a diversidade, portanto, estão dadas, mas, considerando que o filme foi concebido e patrocinado pela própria fabricante da boneca, a Mattel, é crível pensar que o verdadeiro interesse é fiduciário – o que, aliás, é uma premissa de Hollywood para qualquer uma de suas produções. A Mattel já anunciou plano de arrecadar cerca de US$ 950 mi com o filme, grande parte disso com licenciamento.
Seja como for, Barbie chega ao Brasil acumulando duas polêmicas que podem fazer bem a seus propósitos “Avida Dollars”. No Vietnã, o filme foi censurado por mostrar um mapa, numa cena, com a representação cartográfica que a China reclama para alguns territórios marinhos – e que o Vietnã contesta. A imagem do mapa foi considerada “ofensiva” pelas autoridades vietnamitas, como publicou a revista especializada Variety.
Da mesma forma, um guia de entretenimento cristão estadunidense, o Movieguide, pede que pais “não levem suas filhas” ao cinema pois o filme, que apela à “nostalgia dos adultos”, empurra histórias com personagens “gays, lésbicos, bissexuais e transgêneros”.