O presidente Lula deve inaugurar na semana que vem o trecho que finalmente integra as duas pontas da ferrovia Norte-Sul, obra iniciada no governo Sarney, circa 1985. O trecho foi custeado pela Rumo, do grupo Cosan, concessionária privada que detém o controle de 1500 quilômetros do trecho sul da Norte-Sul.
A inauguração estava prevista para o começo de tarde desta sexta (16), mas o mau tempo em Rio Verde (GO), impediu que Lula desembarcasse, o que levaou ao adiamento da cerimônia.
A obra agora finalmente conecta, sem interrupções, o centrão do Brasil, os estados de Goiás e Tocantins, por exemplo, área de grande produção agrícola, com os portos de Santos, a sul, e Itaqui, na Grande São Luís, no Maranhão, a norte.
Lula disse, em entrevistas radialistas goianos, que seu governo irá investir num “sistema intermodal” combinando “rodovia, ferrovia e transporte marítimo”.
A declaração é uma platitude, bastante mais do mesmo do que vem dizendo, sistematicamente, chefes e chefes do Executivo. Enquanto isso, o transporte ferroviário interurbano de passageiros, por exemplo, vai perdendo qualquer relevância nos planos de mobilidade do país.
A Norte-Sul é uma metáfora do Brasil não só pelo tempo inaceitável em que a obra chega a termo, mas pelo fato de a licitação, em 1987, ter sido viciada. Trechos da obra foram sendo prometidos — e cedidos — para um pool de construtoras.
A negociata foi desvendada pelo jornalista Jânio de Freitas, então na Folha de S.Paulo, que publicou antecipadamente o resultado, de maneira cifrada, na velha seção de classificados do jornal.