O atual titular da afamada 13ª Vara Federal de Curitiba, a vara responsável por julgar as ações da Operação Lava Jato, o juiz Eduardo Appio, foi afastado de suas funções na noite desta segunda-feira (22) por decisão de uma certa Corte Especial Administrativa do TRF da 4ª Região.
A razão é insólita: o desembargador da TRF da 4ª Região Marcelo Malucelli representou contra o juiz, por suposta ameaça de Appio contra seu filho, João Eduardo.
João Eduardo vem a ser namorado da filha do senador pelo Paraná Sergio Moro, que se erigiu nacionalmente por suas decisões como juiz da Lava Jato. É também sócio do escritório de advocacia de Moro e de sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (UB-SP).
É difícil entender como um telefonema em que Appio teria se passado por um servidor da Justiça Federal, como indica a representação, para perguntar a João se ele era mesmo filho do desembargador Malucelli, poderia levar um juiz a ser afastado de sua vara.
A suspeição deriva de dois acessos feitos por Appio de um processo judicial em que constaria o telefone de João.
Em entrevista ao site Fórum, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que o afastamento é um “abuso inominável”, o “judiciário desdenhando do judiciário”.
Appio vem colocando em xeque as decisões da Lava Jato por conta, entre outras razões, do impacto econômico que tiveram. Nesta segunda-feira (22), horas antes da decisão da Corte Especial, ele deu longa entrevista à Globo News em que disse coisas como:
“Os juízes não estão muito conscientes dos efeitos econômicos que suas decisões produzem, esse é um grande debate nacional que tem de ser iniciado. O Ministério Público Federal propõe acordos de leniência envolvendo as maiores empresas do pais – JBS, Odebrecht, Camargo Correa, não importa quem – e as ações acabam se voltando não somente contra diretores, mas acima de tudo contra as empresas, levando-as à falência, é evidente [assim] que estamos trabalhando com política econômica”, disse.
“E política econômica só pode ser feita, idealizada e executada por quem for eleito para essa função, no caso o poder Executivo com controle do Congresso Nacional.”
Appio vem sendo combatido por menestréis da Lava Jato por, entre outras razões, suposta parcialidade – eis uma aplicação exata para o tão contemporâneo conceito do “lugar de fala – e simpatia com o lulismo. Appio usava, à época da prisão de Lula, a senha LUL22, com a qual tinha acesso ao sistema da Justiça Federal.
Inquirido pelos jornalistas da Globo News sobre a senha, justificou tratar-se de um “protesto isolado individual contra uma prisão” que ele reputava “ilegal”.
E seguiu:
“Não sou petista”, disse.