Armínio critica “área econômica”, justifica juro alto do BC e deplora possível revisão da privatização da Eletrobras

Armínio Fraga, Lula e Campos Neto || Crédito: World Economic Forum/Flickr/CC/Jefferson Rudy/Agência Senado/Marcos Corrêa/PR

Em entrevista ao “Valor Econômico”, ex-presidente do Banco Central diz, contudo, não estar arrependido por ter votado em Lula contra Bolsonaro em 2022

Em interessante e reveladora entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta terça (23), o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, um dos economistas ligados historicamente ao Plano Real e ao grupo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, jogou algumas boias de salvamento para o Banco Central e para seu presidente, Roberto Campos Neto, alvejado dia sim, dia sim, pelo presidente Lula.

Armínio, que junto com André Lara Resende, Pedro Malan e Edmar Bacha, colegas da plêiade econômica brasileira, declarou com clareza sua opção pelo voto em Lula contra Bolsonaro em 2022, disse ainda não estar arrependido por ter, como se dizia, optado. “Foi um ótima decisão. E foi por um triz.”

Mas revelou decepção com o andar da carruagem econômica de Lula 3: “Confesso que esperava mais. Imaginava que as lições do PT no poder (…) tivessem sido razoavelmente absorvidas. Do lado macroeconômico, desde as eleições as falas do partido em geral, inclusive do próprio presidente, sobre temas como a responsabilidade fiscal e a atuação do Banco Central, foram preocupantes, até raivosas. Do lado micro, tem havido muito ruído em torno de assuntos onde houve progresso nos últimos anos, sempre na direção contrária ao que seria desejável. (…) A área econômica vai mal.”

Na entrevista, Armínio não pareceu considerar que o Banco Central sob Campos Neto mantém as taxas de juros altas por, digamos, teimosia ou sabotagem. “Nossa política macroeconômica está desequilibrada, impondo muito peso ao monetário e pouco ao fiscal. Aí está a principal causa do alto nível de juros no Brasil. A questão é o que fazer a respeito. Para mim, o número 1 da lista é recuperar a responsabilidade fiscal perdida (…) Pelo menos a discussão está agora com sinal certo, que é trabalhar para construir saldo primário. Falta o lado do gasto.”

Sobre a possível revisão da privatização da Eletrobras, criticada por Lula e seu estamento por ter retirado controle decisório da União, ainda o principal acionista da empresa, Armínio chamou o ato, caso aconteça, de “inaceitável calote”.