No ano passado, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), o Brasil e mais de 100 países firmaram o compromisso global para a redução de 30% das emissões de metano até 2030. Segundo maior contribuinte para o aquecimento do planeta, o gás de efeito estufa é altamente poluente e estima-se que 70% das suas emissões provenham de atividades humanas, entre elas os aterros sanitários, a queima de combustíveis fósseis e a pecuária.
Com o objetivo de promover debates e reflexões sobre essas emissões na cadeia bovina e das medidas que podem ajudar a frear o aumento da temperatura global, no mês passado aconteceu o Fórum Metano na Pecuária – O Caminho Para a Neutralidade Climática, promovido pela JBS, líder global em alimentos à base de proteína, em parceria com a Silvateam, maior produtora mundial de extratos vegetais utilizados na alimentação animal. O evento contou com a participação de empresas públicas, privadas, instituições e órgãos de pesquisas, reunindo em São Paulo durante dois dias os maiores especialistas internacionais no tema. Na pauta, as soluções disponíveis para mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEEs), casos de sucesso de iniciativas públicas e privadas e as oportunidades para financiamento e créditos de carbono.
“A JBS assumiu o compromisso de zerar o balanço líquido de emissões de gases de efeito estufa”, disse Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da JBS. “Parte desse desafio envolve as emissões de metano da cadeia bovina, para o qual já estamos desenvolvendo projetos de mitigação. Ainda assim, sabemos que não temos todas as respostas. É por isso que promovemos um evento desse porte, com o objetivo de reunir alguns dos maiores nomes do planeta nessa missão crucial.”
Uma das grandes referências no assunto, Frank Mitloehner, professor chefe do departamento de Conscientização e Pesquisa Ambiental (Clear) da UC Davis (Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos), explicou que os GEEs funcionam como uma espécie de cobertor ao redor da atmosfera. O metano, especificamente, é um cobertor 28 vezes mais grosso que o gás carbônico (CO2). No entanto, por ser eliminado em um período de dez a 12 anos, enquanto o CO2 permanece estocado por cerca de 100 anos. Reduzir as emissões de metano é uma das formas mais eficazes e rápidas para desacelerar as mudanças climáticas.
“Temos olhado para o metano incorretamente quando se trata de reduzir o aquecimento. É importante entendermos que ele é muito diferente de outros gases”, alertou Mitloehner. “Em um rebanho de gado, após dez anos de emissões de metano, que é o tempo que esse gás leva para ser eliminado da atmosfera, o aquecimento é neutro se as emissões permanecerem constantes. Isso porque a quantidade que está sendo emitida é igual à que está sendo eliminada. Consequentemente, o aquecimento é neutro”, detalhou, ressaltando que se as emissões forem reduzidas podem também desacelerar o aquecimento global. Segundo Frank, o Brasil, por ter um dos maiores rebanhos de gado do mundo, precisa enxergar o cenário como uma oportunidade e não como uma ameaça. E o segredo disso passa pelo bom manejo da pecuária, pelo adequado uso do solo e pela busca da eficiência energética.
Quem também trouxe importantes reflexões durante o Fórum Metano foi a nutricionista Diana Rodgers. Ela é coautora do livro best-seller e do documentário Sacred Cow (Vaca Sagrada, em tradução livre), um exame aprofundado das controvérsias nutricionais, ambientais e éticas em torno da carne no mundo moderno. A especialista defende que uma dieta isenta de proteína animal pode ser mais nociva para o planeta do que a criação sustentável de gado. “As pessoas estão indo contra a carne de uma forma emocional e pouco científica, sem argumentos embasados. A carne é um dos melhores alimentos que temos, pois podemos produzi-lo usando energia solar e uma série de iniciativas sustentáveis”, disse ela, ressaltando “a importância única da carne para a saúde humana”.
Entre as soluções tecnológicas apresentadas no Fórum Metano na Pecuária, um dos destaques ficou para inovações promissoras de aditivos alimentares que influenciam numa melhor digestão dos animais, o que, consequentemente, pode reduzir as emissões de metano. Exemplos de produtos com essa finalidade são os ingredientes naturais e ecologicamente corretos da Silvateam e o Bovaer, lançado pela empresa de nutrição animal DSM.
O CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, também participou do fórum e falou das iniciativas da companhia para ajudar produtores rurais a se integrarem às demandas globais e destacou a importância de gerar conhecimento para a criação de uma pecuária ainda mais sustentável. “Neutralizar as emissões de toda a cadeia produtiva é o grande desafio a ser enfrentado por todos. É o grande desafio da humanidade, da civilização. Nós, da JBS, temos como essência a produção de alimentos. O nosso sistema é biogênico e por isso tomamos a decisão de ser Net Zero em 2040. Tenho certeza de que vamos vencer esse compromisso e teremos um planeta mais sustentável para as próximas gerações”, garantiu o executivo.
O Brasil é responsável por 3% da emissão de GEEs no planeta, sendo que parte vem da pecuária. Por isso é tão importante tornar mais acessível o conhecimento sobre práticas sustentáveis. A pecuária pode ser parte da solução climática, desde que tenha acesso aos recursos técnicos e financeiros para transformar sua produção.