Assessorada pelo escritório Machado Meyer na negociação fechada na segunda-feira (26), a centenária Companhia Hering surpreendeu ao se tornar subsidiária de uma empresa muito mais jovem, surgida dois séculos mais tarde, a Soma, dona das marcas Farm e Animale, entre outras.
Para o sócio da Machado Meyer que liderou a negociação, Nei Zelmanovits, contudo, sinais dados com alguma antecedência pela Hering mostram que essa dita surpresa não é tão… surpreendente assim.
Em entrevista a PODER Online por telefone, Zelmanovits lembrou de um follow-on (rodada de emissão de ações depois do IPO) pelo qual passou a Hering já em 2008. “Naquele momento crucial a família [dos fundadores] deixou de ter o controle das ações com direito a voto, ali ficou claro que ela tomava uma decisão em prol da empresa, acho que isso mostrava que já pensavam em perenizar a Hering.”
O advogado diz que uma das marcas deste acordo com a Soma foi o “timing”, uma vez que a Hering tinha recebido uma oferta “hostil” (não solicitada) da Arezzo havia apenas uma semana. De qualquer forma, isso não teve o condão de açodar o vendedor. “A Hering sempre olhou oportunidades, calhou desta oferta acontecer no momento em que a oferta hostil da Arezzo foi rechaçada.”
Zelmanovitz, que está há 35 anos na Machado Meyer, conta que tem uma ligação “muito antiga” com a Hering, tendo sido membro do conselho por “talvez 15 anos”. Ele diz que ficou feliz pelo “entusiasmo” que viu em alguns membros da família durante a negociação. “Fico feliz por eles, de conseguirem perpetuar a marca que já tem essa jornada de mais de 100 anos.”
Por ser uma negociação entre duas companhias abertas, e, portanto, com nível alto de transparência, o acerto para a assinatura do acordo foi vencido com rapidez. Mas há agora diversas etapas até a conclusão do deal, inclusive a aprovação pelos órgãos de regulação de concorrência.