Estados que criaram seus próprios antídotos à Covid-19
Estados que criaram seus próprios antídotos à Covid-19
08/abril/2021 por Lincoln
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Jogados à própria sorte em 2021, ano em que as variantes brasileiras do coronavírus botaram para quebrar – e matar ainda mais –, os estados estão desenvolvendo sistemas de proteção próprios para suas populações. Em presença de um auxílio emergencial nacional desossado e da letargia federal na compra e distribuição de vacinas contra a Covid-19, várias unidades da federação adotaram políticas “autóctones” de combate à pandemia. Como o Maranhão, que é o estado com o menor número de casos e mortes por 100 mil habitantes, 3 467 e 89,52, respectivamente. Como comparação, o Rio de Janeiro tem 3 835 casos por 100 mil habitantes e uma letalidade 2,5 vezes maior que a do Maranhão, 220,44. O estado nordestino vem colhendo desde 2020 os resultados de medidas protetivas mais radicais, como um lockdown que durou dez dias em maio, com o fechamento dos acessos à Grande São Luís, onde vive cerca de 25% da população do estado. O governador Flávio Dino tem sido um crítico da morosidade da Anvisa, que condicionou uma viagem à Rússia para a autorização de importação da vacina russa Sputnik V. “Inacreditável”, disse ele na terça (6). Na tentativa de minorar a dor da população, atingida pela queda econômica, Dino também deu início em abril ao programa “Comida na Mesa”, em que os 55 restaurantes populares do estado, que servem almoço a R$ 1, também passam a servir jantar, pelo mesmo preço; há ainda outras ações, como a distribuição de 360 mil cestas básicas e de 2,2 milhões de máscaras – mais 1 milhão desses equipamentos devem chegar logo à população. (Crédito: Divulgação)
Já no final de 2020 o governador baiano, Rui Costa, fechou um pré-contrato para compra de 50 milhões de doses do imunizante Sputnik V, que é utilizado na campanha de vacinação da Argentina, por exemplo, desde dezembro passado. As entregas seriam feitas até abril, mas a União acabou por não dar suporte à operação. Hoje o consórcio de governadores do Nordeste, firmado desde o começo da pandemia e que contou com a supervisão científica do neurologista Miguel Nicolelis, afirma já ter adquirido 37 milhões de doses da vacina russa, lote que ainda depende do aval da Anvisa para poder ser distribuído à população. Não surpreende que Costa seja uma das vozes mais estridentes diante da velocidade de passo de cágado da vacinação brasileira. Na terça (6), assim como Dino, o governador criticou a Anvisa: “Após mais de 3 horas de reunião (…), o que nós presenciamos foi mais burocracia e falta de sensibilidade com a vida humana”. Costa voltou a ameaçar ir ao STF para deslindar o problema. A Bahia, como o Maranhão, tem bons resultados em comparação aos demais estados. Detém o segundo menor coeficiente de mortes de Covid-19 por 100 mil habitantes – 107,8, que é metade do Distrito Federal, por exemplo – e 5 526 casos por 100 mil habitantes. Santa Catarina tem o dobro desse último coeficiente. No campo assistencial, a Bahia priorizou os 800 mil alunos das redes públicas com uma bolsa-alimentação e benefícios de R$ 150 para jovens de baixa renda e outros R$ 100 para quem se engajar em aulas de reforço. Além disso, a conta de água e esgoto de cerca de 860 mil baianos será bancada por 3 meses, num desembolso de R$ 17 milhões. Há restrições: o consumo não pode ultrapassar 25 metros cúbicos por mês e é válido apenas para clientes da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa).
(Crédito: Camila Souza/GOVBA)
O protagonismo de São Paulo no país não é apenas esperado, como cada vez mais necessário. Com pouco mais de um quinto da população do país, detém a vanguarda econômica, tecnológica e científica do Brasil. O que não se imaginava é que o estado tivesse de se descolar da União para se tornar o principal responsável pela imunização do país. Com a paternidade da CoronaVac, desenvolvida pela Sinovac chinesa e produzida no Instituto Butantan, em São Paulo, João Doria se tornou o principal antagonista de Jair Bolsonaro. Doria costuma divulgar que 4 em cada 5 brasileiros foram imunizados pela “vacina do Butantan” – os demais 20% receberam o imunizante da Oxford/AstraZeneca, hoje produzido na Fiocruz, no Rio de Janeiro. No campo social, na quarta (7), o governador anunciou a unificação de programas e, afeto às táticas de marketing político, denominou de “Bolsa do Povo” um conjunto de repasses de até R$ 500 para até 500 mil paulistas. Alguns desses repasses seriam dados a 20 mil pais e mães de alunos da rede pública, que teriam de dedicar 4 horas diárias de trabalho nos colégios, em atividades de manutenção e administração das escolas e de engajamento dos estudantes. O projeto ainda depende do aval do parlamento estadual, que deve começar a apreciá-lo na segunda (12). São Paulo é o oitavo estado com as mais baixas taxas de casos de Covid-19 por 100 mil habitantes, mas performa mal em letalidade – é o décimo pior entre todas as 27 unidades da federação.
(Crédito: Divulgação/Gov-SP)
Diversos outros estados tiveram de criar alguns anteparos próprios na tentativa de melhorar os repasses federais. O Ceará mirou um dos setores mais atingidos pela crise sanitária, o de bares e restaurantes – ainda mais impactado em estados que têm o turismo como importante fonte econômica, como é o caso. O governador Camilo Santana (PT) anunciou em março pagamento de R$ 1 000 (em duas parcelas) a trabalhadores desempregados desse segmento. E nesta quarta (7), mandou para apreciação da assembleia legislativa o “auxílio cesta-básica”, que pagará R$ 200 a até 150 mil famílias de ambulantes, feirantes, mototaxistas, guias de turismo, taxistas e bugueiros; Pará e Piauí também criaram auxílios financeiros a autônomos e funcionários desempregados desses segmentos.
(Crédito: Reprodução/Verdes Mares)