O impacto dos ‘reis’ do OnlyFans: Uma conversa com Deivid Samuel Hodecker

Deivid Samuel Hodecker || Créditos: Reprodução/Instagram
Deivid Samuel Hodecker || Créditos: Reprodução/Instagram

Por Anderson Antunes

O cenário digital de hoje está inundado de ‘criadores intangíveis’. Porém, poucos se destacam tanto quanto Deivid Samuel Hodecker, uma força no OnlyFans brasileiro, mas também uma representação viva do novo paradigma do empreendedorismo digital universal. O diferencial dele? Basicamente, trata-se de articular o ponto de vista de seu público-alvo: “Priorizo uma abordagem centrada nos meus assinantes do OnlyFans. Afinal, é a interação e a lealdade deles que direciona minha marca”.

No epicentro do fenômeno OnlyFans, é fácil se perder nos números astronômicos. Conforme divulgado recentemente pela Fenix International Limited, dona do OnlyFans, aproximadamente 84% de sua receita provém do subsidiário, cujas receitas aumentaram 19% em seu último ano fiscal (encerrado em 30 de novembro de 2023), chegando a US$ 6,6 bilhões. No entanto, cada cifra representa uma interação humana, um clique, uma compra.

Por trás disso, estrategistas como Hodecker estão constantemente recalibrando, antecipando tendências e se adaptando à dinâmica em constante evolução da plataforma. É uma era de ouro para os criadores de conteúdo digital, mas é também um terreno minado de volatilidade.

Os lucros são substanciais, mas também são seus riscos. As recentes notícias sobre criadores que rapidamente acumularam fortunas, apenas para vê-las evaporar em uma névoa de má gestão e ignorância fiscal, são um testamento desse paradoxo. Ganhar dinheiro no mundo digital é uma coisa, porém mantê-lo e fazê-lo crescer é outra completamente diferente.

E, aqui, um dos xis da questão: a Geração Z, apesar de ser menos sexualmente ativa, está profundamente enraizada no mundo digital, tornando plataformas como o OnlyFans instrumentos primordiais para sua expressão e exploração. Sua interação quase sinérgica com a tecnologia a posiciona como uma formada de consumidores primordiais para o futuro da internet.

Updates necessários

Como o OnlyFans e seus pares mudaram radicalmente o cenário de monetização do conteúdo digital, é crucial olhar além do fenômeno empresarial e focar nos indivíduos que conduzem tamanho sucesso. Hodecker, com sua abrangente presença em várias redes sociais e planos profissionais ambiciosos, exemplifica esse lado da moeda.

O catarinense de 26 anos e 1,92 metro de altura não é apenas um criador de conteúdo no gigante do entretenimento adulto, onde além de ganhar a vida com a própria imagem ainda teve a ideia de torná-la uma marca rentável que se autovaloriza a medida que é exposta. Isso o converte em um exemplo do novo empreendedor digital.

“Anteriormente, minhas gravações focavam em pessoas que atraíam minha atenção ou que buscavam aumentar próprio engajamento. Agora valorizo e acredito na opinião dos meus assinantes como a possível fonte de sucesso e vendas”, afirmou Hodecker sobre sua estratégia. A astúcia de sua abordagem à monetização do site proibido para menores é evidente em suas outras redes. “Nem todos os trailers de vídeos que publico no X estão disponíveis no OnlyFans. Faço um a seleção de alguns conteúdos que são exclusivamente disponibilizados para compra [no site]”.

Ao priorizar o conteúdo centrado em seus assinantes, ou consumidores, e controlar minuciosamente o acesso, Hodecker não apenas garantiu a proteção de seu material autoral contra vazamentos, mas também valorizou os que pagam para acessá-lo. A segmentação de seus ‘previews’ no microblog, somada à sua decisão de oferecer alguns conteúdos com maior potencial monetizável no carro-chefe da Fenix, demonstram sua capacidade de alavancar diferentes plataformas para maximizar o engajamento e, por consequência, os ‘benjamins’.

Complementando essa ideia, Hodecker revelou à Poder Online que, atualmente, o OnlyFans representa cerca de 80% de suas receitas totais. Ainde que utilize outras plataformas, o jovem o considera a mais confiável. “De tempos em tempos, é possível obter lucros maiores em outras [plataformas], porém essas ocasiões não ocorrem com frequência”, ponderou.

Fica clara a importância do OnlyFans na vida dos criadores de conteúdo como Hodecker. E, no caso específico do criador digital – que conta com mais de 141 mil seguidores no Instagram (@samuelhodecker) e mais de 466 mil na rede social de Elon Musk (@samuelhodecker) – a estratégia de verticalizar seus nudes profissionais em serviços que concorrem com o OnlyFans (como o PornHub e o brasileiro Privacy) indica a adaptabilidade e capacidade de navegar em um mercado em constante mudança que, de fato, o torna um ‘player’ dessa indústria multibilionária – que é a da pornografia digital portátil. Mas a história de Hodecker, claro, não começou com investimentos pesados.

“No início da minha carreira, eu não fiz nenhum investimento. Simplesmente produzia vídeos caseiros e gravava pouco. Depois de ingressar [na produtora] Meninos Online, recebi mais exposição e comecei a fazer colaborações com outros atores”, Hodecker contou. Suas origens profissionais humildes no mundo do conteúdo adulto dão um vislumbre da jornada de muitos criadores. Como nem tudo são flores, com o crescimento surgiram as necessidades por investimentos em melhores câmeras e afins e locais de gravação. “Posteriormente, comecei a aplicar mais capital em equipamentos mais modernos, cenários mais agradáveis, transporte e na contratação de um operador de câmera”.

Dessa forma, o sucesso financeiro de Hodecker no OnlyFans não se resume a ganhos brutos – dinheiro na conta, basicamente, e ao contrário de vários. Uma abordagem mais apropriada de geração de valores seria a de ganho em escala, ou seja, o ganho real lá na frente: ‘branding’. Cifras vultuosas podem servir para ilustrar o poder do site que está entre os 100 mais visitados de todo o mundo, mas também destacam um ponto interessante sobre hábitos de consumo da ‘Gen Z’ e como ela escolhe suas marcas favoritas.

Recentemente, estudos têm mostrado que, embora a ‘caçula’ das gerações esteja fazendo menos sexo que as gerações anteriores, seu consumo de conteúdo adulto online é significativamente maior. Segundo o “The State of Sexual Health and Relationships“, muitos jovens dessa geração optam por consumir conteúdo digital ao invés de se envolverem em interações físicas ‘tradicionais’, muitas vezes devido ao fácil acesso à pornografia, à superexposição nas redes sociais e a uma educação sexual deficiente. Assim, plataformas como o OnlyFans têm se tornado cruciais, proporcionando um ambiente no qual esses jovens podem consumir conteúdo de forma controlada, pagando por ele e, em muitos casos, interagindo com os criadores.

Mesa redonda

Hodecker personifica essa evolução da indústria ao se adaptar e se posicionar estrategicamente para aproveitar esse novo mercado. Enquanto membros do conselho de grandes empresas são frequentemente desconectados da realidade de seus principais ‘atores’, a Fenix International Limited poderia se beneficiar consideravelmente de alguém como Hodecker entre seus conselheiros.

A Fenix não divulga todos os detalhes de sua equipe de liderança, mas dados públicos indicam que a maioria de seus membros tem raízes nas finanças e na tecnologia, mas passam a impressão de que falta uma representação mais direta de seus clientes: os criadores de conteúdo, corações pulsantes da ‘máquina’ OnlyFans. Incluir Hodecker, ou alguém com experiência semelhante a dele, poderia fornecer insights inestimáveis.

Tanto o OnlyFans quanto criadores como Hodecker navegam por esse cenário em rápida mudança, e dessa conjuntura surge um desafio potencialmente disruptivo: a ascensão da Inteligência Artificial (IA) no domínio da pornografia digital. Com o desenvolvimento de “deepfakes” e outras formas de conteúdo gerados por IA, a indústria do entretenimento adulto corre o risco de ser inundada por ‘conteúdo sintético’, levantando preocupações sobre consentimento, privacidade e autenticidade. De quebra, aponta uma possível ‘salvação’ para tal ‘equação’ que mistura novos hábitos sexuais mais saudáveis com velhos preconceitos nocivos.

Lá na frente…

Hodecker cogita migrar para a produção e se afastar da atuação eventualmente, o que revela uma perspicácia e, talvez, outro enigma sobre essa encruzilhada tecnológica. “Desejo mudar meu papel para a parte de produção, ao invés de ser um ator”, ele expôs. Sua meta não é apenas uma decisão tática no contexto atual, mas uma previsão astuta sobre onde o valor estará à medida que a IA começa a desempenhar um papel maior na criação de conteúdo. A produção, especialmente aquela que pode garantir autenticidade e qualidade, permanecerá inestimável.

A revolução dos ativos digitais não termina com o OnlyFans. A blockchain e outras tecnologias emergentes estão remodelando o panorama digital, permitindo maior transparência, segurança e, acima de tudo, propriedade sobre ativos virtuais (que valem mais que os tangíveis). Hodecker explora o universo intangível (e altamente valioso) do OnlyFans, e há um mundo mais amplo lá fora que aguarda os empreendedores digitais astutos. Essa migração para o mundo digital 3.0 exige não apenas adaptabilidade, mas uma compreensão profunda das tendências em evolução e das necessidades do consumidor. E dos clientes.

Um relatório da McKinsey destacou que, até 2025, estima-se que o valor de mercado dos ativos digitais atinja a marca dos trilhões de dólares, à medida que mais empresas e indivíduos começam a explorar suas possibilidades. Tal potencial tem atraído investidores e criadores de conteúdo, que veem uma oportunidade sem precedentes de capitalizar sobre essa nova fronteira digital.

Em resumo, enquanto o futuro traz consigo um terreno incerto mas sólido, a história e a visão de Hodecker refletem o pulso da indústria e os contornos de sua evolução. Nas redes e fora deles, adaptabilidade e visão continuam sendo, sem dúvida, as moedas mais valiosas.

Questão de privacidade

Enquanto isso, o mercado brasileiro, um gigante adormecido, começa a despertar para as possibilidades do mundo digital. Plataformas nacionais como o Privacy estão entrando em cena, oferecendo concorrência ao OnlyFans e potencialmente remodelando o cenário digital no Brasil. A ascensão dessas plataformas locais indica uma coisa: a fome por conteúdo autêntico e relações genuínas é fundamental em todos os cantos do mundo.

A história de Hodecker, embora singular, é um reflexo de um fenômeno global mais amplo: o desejo de se conectar, de possuir e de controlar nossa narrativa digital. Atualmente, somos inundados com informações e distraídos por inúmeras notificações, a capacidade de criar um espaço único, autêntico e, mais importante, humano, é mais valiosa do que nunca. A indústria do entretenimento adulto, com todas as suas nuances e complexidades, e grande geradora de impostos, serve como um microcosmo do cenário digital em expansão. Em meio a esse panorama dinâmico, há uma constante imutável: novamente, a natureza humana.

Por mais que avancemos tecnologicamente e nos adaptemos às novas tendências, nosso desejo por um elo maior, reconhecimento e autenticidade, permanece inalterado. É aqui que o verdadeiro valor do OnlyFans e plataformas semelhantes se manifesta. Todas não são apenas espaços para trocar conteúdo sob medida por dinheiro, mas arenas onde as emoções humanas, aspirações e desejos são validados e celebrados sem hipocrisia e com planejamento.

Ao olharmos para o futuro, fica cada vez mais evidente que a era dos ativos digitais está apenas começando. À medida que a IA e outras tecnologias emergentes continuam a evoluir, enfrentaremos novos desafios éticos e morais. Dito isso, é vital lembrar que, no cerne dessas questões, estão indivíduos como Hodecker, que buscam navegar pelo mundo digital com integridade, paixão e uma perspectiva clara para o futuro que almejam.

As ideias de Hodecker, sobre sua transição da atuação para a produção, nos lembram de uma verdade mais ampla. O verdadeiro sucesso não é mais ser somente o rosto na frente da câmera, mas a mente estratégica por trás das lentes. A capacidade de antecipar tendências, de se adaptar a mudanças e manter a autenticidade será o que diferenciará os líderes dos seguidores na próxima década. Ao menos, e por enquanto, sob os olhares da liderança chamada ‘Gen Z’. O horizonte dos ativos digitais, embora ainda um pouco incerto, promete ser repleto de inovações e transformações.

Mas uma coisa já está clara: agora o conteúdo é realmente rei, e a verdadeira majestade estará naqueles que entendem o valor da ligação humana com a veracidade dos fatos. Em sua busca contínua por inovação e excelência, Hodecker e outros como ele estão pavimentando o caminho para uma nova era digital, onde a grande revolução não é tecnológica, mas inteligentemente humanitária. E é nesse intercâmbio entre tecnologia e humanidade pensante que encontraremos as histórias mais poderosas e impactantes – e em tempo real. || A.A.

“Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de competência” ~HENRY FORD