A pandemia tem sido particularmente dura com o Senado Federal, em que 3 dos 81 senadores já perderam a vida em razão da Covid-19. Essa altíssima taxa de letalidade significaria perto de 8 milhões de brasileiros mortos caso fosse transposta para toda a população do país. É bem verdade que a casa é repleta de anciãos, mais suscetíveis à doença. Dos três senadores que morreram, dois deles eram provectos: Arolde de Oliveira (PSD-RJ) tinha 83 anos; José Maranhão (MDB-PB), 87. Causou mais espanto a morte de Major Olímpio (PSL-SP), que, aos 58 anos, não resistiu após duas semanas de internação em São Paulo. Em seu primeiro mandato como senador, Olímpio se posicionou como força antibolsonarista, embora sua agenda coincidisse com a dos seguidores do presidente em diversos temas, como a da instauração de processos de impeachment contra ministros do STF. Foi esse, aliás, o mote de sua campanha à presidência do Senado, em fevereiro. Ex-PM paulista, o major elegeu-se deputado federal em 2014, e, ao tentar a Casa Alta nas eleições de 2018, obteve 9 milhões de votos, numa dobradinha com o então candidato Bolsonaro. Políticos e colegas de parlamento que divergiam dos posicionamentos do senador reconheciam o aguerrimento e a lealdade de Olímpio. Ciro Gomes, por exemplo, disse que “dele se podia discordar, mas fui testemunha de sua coragem e espírito público”. Jair Bolsonaro não se manifestou até hoje sobre a morte do ex-correligionário. Outros membros do gabinete do senador contraíram a Covid-19 – o evento maligno teria sido uma romaria de prefeitos a Brasília, no começo de fevereiro. (Crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Ex-governador de Goiás, ex-senador, o goiano de Jataí Maguito Vilela venceu a eleição para a prefeitura de Goiânia em 2020 já internado num hospital, em São Paulo. A discussão durante a campanha de segundo turno, aliás, colocou em cena o atual prefeito e então candidato a vice, o pastor da igreja Universal Rogério Cruz (Republicanos), pois havia a hipótese, que acabou por se confirmar, da morte de Maguito. Ex-líder regional do PMDB, Maguito chegou a ser o mais bem avaliado governador do Brasil por dois anos seguidos, em 1997 e 1998, numa pesquisa do Datafolha. O político, que teve como padrinho político o ex-governador “old school” Iris Rezende, também recebeu uma esmagadora votação para prefeito em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana de Goiânia, em 2008, elegendo-se com 81,1% dos votos. O político militou no futebol, tendo sido dirigente do Vila Nova, um dos mais populares clubes de futebol de Goiás, e da Confederação Brasileira de Futebol.
(Crédito: Agência Senado)
De longuíssima vida pública, filho de um chefe político local, o paraibano Wilson Braga foi quatro vezes deputado federal por seu estado e governador paraibano nos anos 1980. Por duas vezes foi o deputado mais votado da Paraíba. Apesar de um namoro de juventude com a esquerda – chegou a participar de um encontro da juventude comunista na Tchecoslováquia –, Braga fez carreira na Arena, partido de sustentação do regime militar, e depois, com o fim do bipartidarismo, no também governista PDS de Paulo Maluf. Maluf, candidato a presidente nas eleições indiretas de 1984, teve apoio do então governador Braga, rara decisão entre os chefes estaduais do partido, que se bandearam para o lado do concorrente Tancredo Neves. Mais tarde, Braga passaria pelo PFL, PDT, PSDB e PSD, entre outras siglas. Braga tinha 88 anos ao morrer, em maio de 2020, e havia perdido a mulher também em razão da Covid-19, a ex-deputada federal Lúcia Braga, um dia antes de sua própria internação.
(Crédito: Reprodução/Facebook)
Com as famigeradas comorbidades – diabetes, cardiopatia, hipertensão –, o ex-deputado federal Nelson Meurer foi o primeiro parlamentar brasileiro condenado durante o exercício do mandato pelo STF em razão das investigações da Operação Lava Jato. E o primeiro a contrair na prisão a Covid-19 e lá morrer por essa doença. Isso aconteceu em julho passado, quando Meurer estava a dias de completar 78 anos. Assim como com Bernie Madoff, que morreu na prisão na quarta-feira (14), os advogados de Meurer haviam solicitado prisão domiciliar à Corte, pedido recusado pelo ministro Edson Fachin, do STF. O agravo interposto pela defesa foi votado na Segunda Turma, e o 2×2, com a abstenção do voto da ministra Cármen Lúcia, acabou por manter o réu na penitenciária estadual de Francisco Beltrão (PR), ironicamente a cidade em que Meurer iniciou sua carreira política como prefeito. Catarinense de Bom Retiro e fazendeiro, teve cinco mandatos consecutivos na Câmara Federal, de 1999 a 2018. Inicialmente no PPB, migrou para o PP. Foi vinculado à bancada ruralista em todas as legislaturas. Meurer foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por pedir e receber cerca de R$ 30 milhões no chamado “Petrolão”. A denúncia também levava em conta outros R$ 4,5 mi de Caixa 2 para sua campanha. Após sua morte, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), hoje líder do Governo na Câmara, condenou, pelo Twitter, o “ativismo judiciário” que, segundo ele, teria mantido Meurer na cadeia a despeito de suas debilidades. “Nelson Meurer faleceu. Aos 78 anos de Covid adquirida no presídio. No grupo de risco, Meurer não conseguiu prisão domiciliar, negada seguidamente pelo ministro do STF Edson Fachin. Ativismo político do judiciário tem que acabar. Lei igual para todos.”
(Crédito: Viola Junior / Câmara dos Deputados)