O PETRÓLEO É NOSSO
A ideia de o Brasil chegar à série A da geopolítica mundial pela autossuficiência na produção de petróleo é datada, para não dizer anacrônica. Mesmo assim, sucessivos presidentes embarcaram nessa esparrela. A coisa fica bastante temerária no século 21, quando o mundo desenvolvido, por amor de minorar os efeitos do aquecimento global, começa gradativamente a abandonar o velho “ouro negro” como matriz energética, especialmente no caso dos veículos automotores. Jair Bolsonaro não inventou a roda, portanto, ao “meter o dedo”, na expressão presidencial, no comando da petroleira, mesmo com a recente Lei das Estatais a limitar a indicação de apaniguados e cupinchas dos mandatários de plantão. Silva e Luna, o indicado de Bolsonaro, teria de contar com dez anos de atuação no setor ou possuir formação acadêmica compatível com o cargo. A nota curiosa é que o virtual defenestrado, Roberto Castello Branco, indicado à presidência da Petrobras por Paulo Guedes, fazia um esforço de recuperação econômica da estatal, ainda que o modelo empregado tenha sido o da eliminação de ativos. Nesse sentido, a esquerda poderia até estar a rir à toa com a interrupção do programa de passar nos cobres refinarias e outras unidades fabris encetado pelo sujeito que Bolsonaro acusou de ganhar muito e não trabalhar – que é para o “PR” o que significa adotar o home office.
(Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)
AFUNDANDO NAS PROFUNDAS
A imagem é uma das mais fortes do governo Lula. Com o macacão laranja dos petroleiros da Petrobras, o ex-presidente enlameia as mãos nos primeiros jorros do petróleo do pré-sal, o óleo explorado em águas profundas do Atlântico. O que seria a nova fonte de riquezas do governo quase serviria a uma verdadeira festa da vaca holandesa louca, com estados se digladiando pelos recursos que de uma hora para outra cairiam macios em seus orçamentos anuais. O problema é que na primeira década do século 21 o mundo iria conhecer uma nova relação entre a demanda e a oferta do petróleo, com aquela muito menor do que esta, e, assim, o preço internacional do barril conheceu alguns de seus níveis mais baixos. Mesmo assim, o pré-sal ajudou o Brasil a engordar suas reservas internacionais, livrar-se de seu velho problema de dívida externa, mas não foi, nem de longe, a panaceia que um dia se vislumbrou. E num momento em que o país poderia ser um importante indutor de mudanças ambientais globais, viu seu programa de desenvolvimento do etanol combustível ser novamente deixado de lado.
(Crédito: WikiCommons)
A MÃE DAS CRISES
Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza, diz o ditado, e algo parecido pode ser transposto para o mundo petrolífero dos anos Lula: quem nunca explorou (um monte de) petróleo, quando explora, se emporcalha. Boa parte dos delatores da famigerada Operação Lava Jato tiveram postos na Petrobras nos anos 2000, casos de Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, entre outros – não à toa o escândalo, que envolveu também políticos que miraculosamente se mantêm aidna hoje em evidência, ganhou o nome de “Petrolão”. O que então poderia ser a redenção econômica dos anos Lula-Dilma virou o estopim da Operação Lava Jato, que seria responsável pela dinâmica política que faria de outsiders e loosers completos os grandes vitoriosos da eleição de 2018. Embora muito escandalosos, os diálogos mantidos entre os agentes da lei, os promotores do Ministério Público lotados em Curitiba e o juiz Sergio Moro, a quem coube julgar a maior parte dos casos da Operação, que agora vêm a público revelados pela chamada Vaza Jato, não têm causado o mesmo estupor na opinião pública.
(Crédito: WikiCommons)
O POÇO DO VISCONDE
A exploração do petróleo embalou sonhos nacionalistas ao longo do século 20. Do escritor Monteiro Lobato, autor de “O Poço do Visconde”, de 1937, em que Dona Benta, Pedrinho, Narizinho e toda a turma se lançam, sob supervisão técnica do Visconde de Sabugosa, à perfuração de terras dentro do Sítio do Picapau Amarelo, a Getúlio Vargas, que é o responsável pela fundação da Petrobras. Durante o governo Dutra, a “Campanha do Petróleo”, que coloca em cena o imortal slogan “O Petróleo é nosso”, açula os instintos nacionalistas em conferências no Clube Militar. A falta de recursos para a nacionalização completa da produção e para o investimento em refinarias impede, contudo, a indicação de um monopólio estatal clássico sobre produção e comercialização do produto. Em 1951, quando Vargas assume novamente o poder, desta vez aclamado eleitoralmente, apresenta projeto para criação da Petrobras, e nele autoriza participação minoritária de estrangeiros no capital acionário da futura companhia. O projeto teve idas e vindas no Congresso, com o monopólio estatal sendo restaurado na Câmara por pressão da UDN, que, para atazanar Vargas, muda suas convicções privatistas e adere ao nacionalismo sem peias. Aprovado o projeto em 1953, Getúlio disse: “Constituída com capital, técnica e trabalho exclusivamente brasileiros, a Petrobras (…) constitui novo marco da nossa independência econômica”.
(Crédito: Divulgação)