Por Luís Costa
A agenda de José Eduardo Belmonte não para. Em 2022, os trabalhos do cineasta e diretor artístico da TV Globo impressionam: são três longas-metragens, séries para a tevê, além de projetos de documentário e uma coprodução internacional. “Trabalho, para mim, é algo orgânico, como a vida. O que é bem diferente de ser workaholic”, diz o diretor.
Ao lado dos formatos clássicos, Belmonte prepara novas investidas em podcasts, games e realidade virtual. “A questão é ser fiel a quem se é”, conta. “Minha percepção é de que nos ensinos de artes no país, em vez de ajudarem a descobrir um estilo próprio, tenta-se impor um jeito de fazer”, opina o diretor, que começou a carreira fazendo videoarte e viu seu ofício se metamorfosear. “Vi o fim da película, o surgimento do digital, a mudança de cinema para audiovisual, a chegada do streaming, a apropriação da linguagem cinematográfica pelos games. Por isso é importante pesquisar as possibilidades que vão surgindo”, afirma.
O menino inquieto e curioso, que desmontava relógios para entender o mecanismo, diz agora que tenta e persevera, assumindo os riscos dos projetos. “Preciso não ter medo do fracasso, que é um bom professor e faz parte da jornada. Penso que é importante reter o que é bom e avançar.”
Em março, Belmonte lançou Alemão 2, thriller que sucedeu seu maior sucesso comercial e levou 1 milhão de espectadores ao cinema em 2014. Em junho, foi a vez de As Verdades, drama com Lázaro Ramos, ambientado no interior da Bahia, que conta a história de um assassinato sob a perspectiva de três personagens. Com Johnny Massaro, O Pastor e o Guerrilheiro estreou em julho, com um drama histórico que aborda a vida do país na segunda metade do século passado, no período entre a ditadura e a redemocratização.
Nos três, Belmonte usou uma espécie de fórum permanente com o elenco. “Sempre consultar, estudar e ouvir sobre questões do roteiro, das mensagens do filme, a forma de fazer, de mostrar”, explica. “É um processo que varia de acordo com a maleabilidade da produção, mas funciona, porque a essência do audiovisual é colaborativa.”
Entre as muitas referências do cinema, três diretores permanecem como “faróis”, segundo ele: Scorsese (“não apenas pelos filmes, mas pela política”), Godard e Alain Resnais. “Já se passaram décadas e Meu Tio da América [de Resnais], segue sendo meu filme preferido”, conta Belmonte, que também cita a música, a poesia, a pintura e a fotografia como inspirações para o seu trabalho.
Aos 51 anos, o paulista que cresceu em Brasília lembra da cinefilia da adolescência, quando ia atrás de filmes que traziam uma experiência de sonho. Na faculdade de cinema da UnB, onde foi aluno de Nelson Pereira dos Santos – um dos principais nomes do cinema novo –, ele se aprofundou no modelo documental. “Creio que sou uma mistura dialética entre essas duas coisas”, brinca.
Belmonte também assinará na TV Globo, onde ocupa a direção artística desde 2016, uma série cômica baseada em contos de Ariano Suassuna e planeja, entre outros projetos, um documentário sobre a artista visual Rita Wainer e uma coprodução que deverá ser rodada em Detroit, nos Estados Unidos.