Ela é braba

Cris Gambaré || Crédito: Rodrigo Gazzanel

Cris Gambaré, diretora de futebol feminino do Corinthians, é o rosto de uma máquina de títulos. Sob sua gestão, o time alvinegro conquistou três das últimas quatro edições do Campeonato Brasileiro e entrou para o livro dos recordes

Por Bianca Penha

Imagine um time de futebol campeão em todas as competições de que participou e que tem campanha registrada no Guinness Book. Pense em uma equipe que foi capaz de bater o recorde de público na modalidade. O Corinthians feminino é só sucesso sob o comando de Cristiane Gambaré.

Para falar dessa cartola precisamos voltar no tempo, quando nasceu sua paixão por esporte. O início foi no basquete, que Cris jogou como federada até seus 17 anos, passando por equipes como o Juventus e o próprio Corinthians. Mudou-se para Santa Catarina e retornou com 21, já mãe. Começou a jogar futsal e, entre 2006 e 2007, estreitou de vez os laços com o clube quando foi convidada para o cargo de conselheira.

Quase dez anos se passaram até que a Confederação Brasileira de Futebol passou a exigir que clubes da Série A tivessem também equipes femininas – adulta e de base – para poderem atuar. “Andrés Sanchez e Roberto de Andrade [dirigentes de futebol] me convidaram para fazer um projeto pensando no time de mulheres”, conta Cristiane, que chegou a indagar o motivo da escolha, mas tudo parecia lógico. Ela sempre foi atuante no esporte e na modalidade, inclusive montou a escolinha de futebol feminino dentro do Corinthians.

O primeiro passo foi fechar uma parceria com o Audax, clube com tradição dentro do futebol feminino. E deu tão certo que, logo no ano de estreia, a equipe se sagrou campeã da Copa do Brasil e, em 2017, foi campeã da Copa Libertadores da América. Primeiro passo dado, veio o segundo desafio: migrar para um time exclusivamente do Corinthians. Em 2018, o Timão passou a ter a própria direção. Nesse momento, Cris deixou o conselho do clube e se tornou diretora de futebol do Corinthians. “O início do projeto foi o mais desafiador. Aquele era o momento de entender o cenário do futebol feminino e como seria com uma gestão própria.” À frente da diretoria, criou a campanha Cale o Preconceito!, em que as jogadoras apareciam com frases preconceituosas estampadas em seus uniformes no lugar onde tradicionalmente ficam as empresas patrocinadoras. A ideia era chamar a atenção das empresas para cobrir aqueles dizeres com investimentos na modalidade.

E conseguiu. Os patrocínios chegaram, assim como conquistas fora de campo. As jogadoras passaram a ter vínculo empregatício. “Quando a atleta me disse: ‘Vou treinar’, pude responder com: ‘Bom trabalho’, porque o treino agora era o trabalho dela”, lembra a diretora, falando sobre o quanto isso representou para ela, o time e a modalidade. E se no futebol a competência de um cargo é medida pelo desempenho dentro das quatro linhas, a cartola deu conta do recado. De 2018 ao início deste ano, o Corinthians feminino foi campeão em diferentes torneios: Brasileiro Série A1 (2018, 2020 e 2021), Paulista (2019, 2020 e 2021), Libertadores (2017, 2019 e 2021) e Supercopa (2022). Como se não bastasse, em 2019, marcou seu nome no Guinness Book ao conseguir uma sequência extraordinária de 48 jogos sem perder (pouco depois, a equipe francesa Olympique Lyonnais comprovou ter uma sequência de 48 vitórias, sendo o atual recordista mundial entre homens e mulheres).

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No futebol Cris é conhecida pelas opiniões fortes: “Sempre me exponho em relação ao que é melhor para a modalidade. Sou vista como uma pessoa exigente por todos que organizam nossas competições (FPF, CBF, Conmebol). Com isso, acho que consegui um espaço importante, não só para mim, como para outras lideranças. Sabemos que o universo do futebol é feito de homens. Esse cenário é novo para as mulheres, mas sigo adiante com respeito de grandes homens do esporte”.

Sempre de olho no futuro, Cris Gambaré já alinha as expectativas para os próximos anos. A cartola sabe que a pandemia atrasou planos, mas não prolonga muito os prazos por conta disso. “Tornar o departamento autossustentável é a meta para 2023.”