O FUTURO É REGENERATIVO

Crédito: Freepik

Visão 2050, movimento empresarial pela biodiversidade, oferece roteiro para que negócios façam frente às transformações de que o mundo necessita

Por Marina Grossi*

Os negócios precisam de um novo olhar. O ano passado foi marcado pela pandemia de Covid-19 e as diversas crises que a doença deflagrou seguem em 2021. O impacto global causado pelo novo coronavírus explicitou nossa dependência de um ambiente ecologicamente equilibrado, revelando a interdependência entre biodiversidade, clima e saúde. A desigualdade social agrava ainda mais o problema, de modo que a busca por soluções é tarefa de todos. Ao mesmo tempo, três letras ganharam holofotes como nunca: ESG – a sigla em inglês para a adoção de critérios ambientais, sociais e de governança por investidores na hora de aportar seus recursos. O tema não é novo, mas vem ganhando força nos últimos dois anos, com gestoras de fundos internacionais se posicionando de modo mais contundente sobre o tema, o que traz reflexos para todos os negócios. 

É imperativo fazer mudanças profundas no nosso estilo de vida e na forma como se produz e consome. Em 2012, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que faz parte de uma rede global de conselhos empresariais voltados ao tema, desenvolveu a Visão 2050. O documento trouxe um roteiro inédito para que os negócios se localizassem frente às demandas por maior equidade social, equilíbrio ambiental e transparência. 

Mas o mundo vem se transformando rapidamente. A pandemia acelerou várias situações que já estavam sendo colocadas como riscos globais: a perda da biodiversidade tem levado ao surgimento de novos males, que se agravam num contexto de emergência climática e de desigualdade social. Esses riscos já vinham sendo descritos anualmente no relatório que todos os anos é elaborado pelo Fórum Econômico Mundial. 

Não à toa, as duas palavras de ordem que já ecoam no universo dos negócios afinados com o conceito de sustentabilidade são o impacto positivo e a economia regenerativa. É sobre esses pilares que trata a Visão 2050, de modo que o documento contemple esses novos desafios e se torne um norteador para que as empresas planejem seu futuro de forma mais sustentável, em consonância com o ESG agora tão solicitado pelo mercado. 

Essa visão de futuro, lançada no fim de março, foi construída de forma coletiva, com mais de 4 mil especialistas de diversas áreas e backgrounds, a partir de uma abordagem sistêmica, que reflete o entendimento comum das transformações necessárias e urgentes das quais o mundo precisa. Foram definidos oito temas prioritários – Pessoas, Cidades, Economia Circular, Água e Saneamento, Biodiversidade, Alimentos, Energia e Finanças. Todos eles dialogam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, grande esforço coletivo no qual os negócios da atualidade precisam estar inseridos e ativos na proposição de soluções. 

Entendemos que estamos no fim da era do chamado capitalismo de shareholder, baseado no binômio risco-retorno, cujo objetivo central é gerar retorno financeiro ao acionista. O clamor agora é para o capitalismo de stakeholder, das partes interessadas, no qual as empresas dialogam efetivamente com seus diferentes públicos e buscam atuar no trinômio risco-retorno-impacto. É na construção dessa transição que estamos trabalhando, e a Visão 2050 traz olhares e princípios para que as empresas possam atuar. 

O documento também aponta as incontáveis oportunidades que o Brasil terá nessa caminhada. Somos reconhecidos por ser um país com uma matriz de energia limpa, riquíssimos em biodiversidade e com o potencial de produzir comida e gerar segurança alimentar para o mundo, em consonância com a proteção ambiental. Essas características precisam ser transformadas em vantagens competitivas e colocar o Brasil no centro e na liderança da nova geopolítica de uma economia circular, de baixo carbono, regenerativa e inclusiva. Esse é o caminho que propomos, com as empresas brasileiras como importantes atores desse cenário. A hora de construir esse futuro é agora.

*Marina Grossi é economista e presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)