Um guia para investir nestes novos tempos, por Bernardo Pascowitch

Créditos: Getty Images

Com os juros baixos de hoje, não faz sentido investir em renda fixa esperando pela rentabilidade milagrosa do passado. É hora de pensar em ações – e não só as das companhias brasileiras –, nos índices compostos por elas e até mesmo em criptomoedas

Por Bernardo Pascowitch*

Já houve um tempo, não tão longínquo, em que a taxa básica de juros no Brasil chegava a patamares acima de 14% ao ano. Isso quer dizer que fazer o dinheiro “trabalhar” era moleza. Bastava comprar títulos de renda fixa (aqueles de baixo risco emitidos por bancos, financeiras, empresas ou pelo Tesouro Nacional que costumam acompanhar a taxa Selic) e ir pescar. Qualquer investimento com uma rentabilidade razoável já garantiria um bom retorno. Para se ter uma ideia, o maior investidor da atualidade, o oráculo Warren Buffett, possui uma rentabilidade histórica média de seus papéis de 20% ao ano; ou seja, conseguir 14% anuais não é nada mal para quem não é um Warren Buffett.

Mas o Brasil não vive mais esse momento de juros altos e facilidade em rentabilizar o dinheiro. A taxa Selic despencou de 14,25% para 2% ao ano – menor valor da história do Brasil. Pior: a inflação fechou o ano de 2020 em 4,52% no caso do IPCA (a inflação oficial do Brasil) e em surpreendentes 23,14% no caso do IGP-M (divulgado pela FGV e bastante influenciado pela variação do dólar). Em outras palavras, quem deixou o dinheiro somente em renda fixa no ano passado acabou fazendo um péssimo negócio, pois teve prejuízo, já que a inflação foi mais alta que a taxa que balizou o retorno dos investimentos.

E para quem acha que a taxa Selic retornará rapidamente aos patamares anteriores, melhor tirar o cavalinho da chuva: o cenário de juros baixos (em alguns casos, negativos) é um fenômeno global e, ao que tudo indica, veio para ficar. E já que a rentabilidade da renda fixa não deve mudar tão cedo, melhor mudar sua maneira de investir. Não dá para deixar o dinheiro nos mesmos ativos do passado. O mundo evoluiu, as economias evoluíram e você também precisa evoluir. É hora de diversificar e conhecer novas alternativas.

AÇÕES BRASILEIRAS
Ação talvez seja o investimento mais conhecido em todo o mundo, excluindo talvez o colchão, a poupança e o jogo do bicho. Mas o que significa, na prática, investir em uma ação? O mercado de ações permite que você seja acionista (ou seja, dono de uma fração de uma companhia listada em bolsa, que no Brasil é a de São Paulo, a B3). A ação é a menor unidade do capital social de uma companhia. Quer ser dono de uma parte minúscula do Itaú Unibanco? É só comprar uma ação. Dono de parte da Vale? Mesma coisa. Da Embraer? Está valendo. O cenário de juros baixos tende a favorecer a ida do investidor para a bolsa e, com isso, o crescimento de receitas das empresas de capital aberto.

Ao comprar uma ação e se tornar acionista, o investidor possui em geral dois grandes interesses: lucrar com a valorização do ativo e receber proventos. Para isso, essa aplica ção precisa ser acompanhada de planejamento financeiro para que o investimento perdure por muitos e muitos anos. Em um cenário de juros baixos como o atual, é fundamen – tal que você tenha parte do seu dinheiro em ações – sempre respeitando o seu perfil de risco e os seus objetivos.

O segundo interesse de um acionista é receber proven – tos. Proventos são distribuições (de capital) realizadas pelas companhias para os seus acionistas, principalmente na forma de juros sobre o capital próprio, bonificações e divi – dendos. O mais importante é o dividendo, basicamente a distribuição do lucro da companhia para seus acionistas. A companhia que teve lucro pode destiná-lo a diversas fren – tes, como investimento interno, contratação de pessoas, aumento de salários e muitas outras coisas. Caso a compa – nhia opte pela distribuição de dividendos, os acionistas vão embolsar algum. Com isso, quanto mais ações você tiver de uma companhia, mais dividendos você receberá.

Resumo: ação é a menor unidade do capital social de uma companhia e oferece ao investidor um potencial de valorização do seu preço e o recebimento de proventos
Como comprar: por meio de uma corretora de valores brasileira (prefira as com taxa zero!)
Risco: muito alto

AÇÕES AMERICANAS
A lógica é exatamente a mesma do investimento em ações brasileiras. A diferença é que estamos falando do maior mercado financeiro do mundo e das maiores empresas do planeta. Amazon, Apple, Walmart, Disney, Google, Facebook, General Motors, Microsoft, Boeing, Intel e milhares de outras companhias estão listadas nas bolsas dos Estados Unidos – são várias bolsas, aliás.

Talvez você esteja se perguntando por que deveria investir em ações americanas e não em ações brasileiras? Bom, em primeiro lugar os Estados Unidos possuem o maior mercado de capitais do mundo. Já a bolsa brasileira não aparece nem entre as dez maiores. Ter ações das maiores empresas do planeta (aquelas que mais crescem, mais inovam, mais se desenvolvem e mais geram lucros) é do interesse de qualquer acionista.

Em segundo lugar, quando pensamos em diversificar os investimentos (o famoso “não colocarás todos os ovos no mesmo cesto”), isso envolve combinar não apenas entre diferentes classes de ativos (por exemplo, renda fixa e renda variável), mas também em locais diferentes, moedas distintas, economias sem correlação direta, governos independentes, entre outros elementos. Portanto, investir na maior economia do mundo, nas maiores empresas do globo e na moeda mais forte da economia global (o dólar) é algo fundamental para que você invista melhor e de forma mais saudável, financeiramente falando.

Resumo: investir nos Estados Unidos é fundamental para diversificar risco e acessar investimentos potencialmente mais rentáveis.
Como comprar: corretora de valores americana ou fundos de investimento no Brasil
Risco: muito alto

BRAZILIAN DEPOSITARY RECEIPTS (BDRS)
Os BDRs são recibos de ativos estrangeiros negociados no Brasil. Confuso? Vamos então por partes. Para começar, recibo. Trata-se de uma cópia, digamos, de uma ação americana negociada na bolsa brasileira. Uma ação americana que, em vez de ser negociada nas bolsas de Nova York, pode ser comprada diretamente na B3, a bolsa brasileira.

Na prática, significa a possibilidade de você comprar uma “cópia” da ação da Apple diretamente na bolsa brasileira e sem precisar abrir uma conta em uma corretora americana. O BDR terá a mesma variação de preço que a ação original da Apple nos Estados Unidos teria, além do fato de variar de acordo com a cotação do dólar. Os BDRs foram liberados para todos os investidores a partir de outubro do ano passado e têm sido cada vez mais procurados por pessoas interessadas em possuir papéis das maiores empresas do mundo, mas podendo utilizar a mesma conta da sua corretora aqui no Brasil. Tem coisa melhor do que investir lá fora sem sair do Brasil?

Resumo: os BDRs permitem que você invista em ativos estrangeiros utilizando corretoras brasileiras e por meio da B3
Como comprar: corretoras de valores brasileiras
Risco: muito alto

FUNDOS DE ÍNDICE (ETFS)
As bolsas de valores possuem vários índices compostos por ações em diferentes proporções. O índice mais conhecido da bolsa brasileira é o Ibovespa, composto por mais de 70 empresas tidas como as mais negociadas no Brasil e utilizado como referência para diversos investimentos em renda variável. Nos Estados Unidos, os índices mais famosos são o Dow Jones (um dos mais antigos e mais importantes, com 30 das empresas mais relevantes dos Estados Unidos), o S&P 500 (composto pelas 500 empresas mais negociadas nos Estados Unidos) e o Nasdaq Composite (índice das empresas de tecnologia negociadas na bolsa Nasdaq).

Ok, mas qual a utilidade em saber sobre todos esses índices? É aí que entra o fundo de índice (Exchange Traded Fund, em inglês). O ETF replica a combinação de empresas saudáveis das diversas bolsas. E investir nesse produto traz ainda uma vantagem grande em termos de diversificação e acessibilidade. Em vez de escolher empresas individualmente e analisar ações específicas, o ETF permite diversificar em companhias e setores distintos. Por exemplo, comprar uma cota do BOVA11, o investidor automaticamente passa a possuir ações das mais de 70 empresas que compõem o Ibovespa. Seria muito mais caro e difícil se ele optasse por comprar individualmente cada uma das ações que formam o índice Ibovespa. Por meio do IVVB11, um ETF que replica o S&P 500, o investidor adquire mais de 500 ações das maiores empresas negociadas nos Estados Unidos. Quer diversificação mais fácil e rápida do que essa?

Voltando mais uma vez ao maior investidor da atualidade, Warren Buffett, ele frequentemente aconselha quem começa a navegar nesse mercado a comprar um ETF que replica o S&P 500. Isso significa menos risco e mais diversificação para o novo investidor.

Resumo: ETFs são fundos de índice que permitem alta diversificação com riscos mais baixos em comparação à escolha individualizada de ativos
Como comprar: por meio de uma corretora de valores brasileira
Risco: alto

Créditos: Getty Images

 

BITCOIN
A famosa moeda digital é emitida por protocolos tecnológicos descentralizados – ou seja, não há um banco central ou uma autoridade monetária responsável pela emissão, controle e fiscalização da moeda. Na prática, um bitcoin (ou uma fração dele) é uma chave (formada por um conjunto de caracteres) que pode ser confirmada por uma rede dedicada.

E o que isso tem a ver com investimentos? Bom, em 2020, bitcoin foi, simplesmente, um dos investimentos mais rentáveis do planeta. O preço disparou mais de 400% e, de acordo com especialistas, deve continuar em rota de valorização nos próximos anos. O que motiva tanta valorização? Em primeiro lugar, o bitcoin é um ativo escasso (só há 21 milhões de unidades). Em termos de risco de inflação em alta, um ativo escasso deflacionário é muito buscado. Em segundo lugar, o bitcoin pode se tornar uma reserva de valor, uma espécie de lastro universal (assim como o ouro – por isso, muitos chamam o bitcoin de “ouro digital”), um ativo com a característica de reter valor em momentos de crise. Além disso, grandes investidores, empresas e até governos estão acumulando cada vez mais bitcoins, o que traz credibilidade para a moeda digital e incentiva que mais pessoas invistam. Tudo isso pode fazer com que valorize ainda mais no futuro.

Mas nem tudo são flores: é um ativo de altíssimo risco e pode fazer você perder dinheiro caso não se prepare financeiramente. Para investir em bitcoin, duas perguntas precisam ser respondidas afirmativamente: 1) em caso de perda, seu patrimônio não corre riscos?; 2) você pode manter o seu investimento em bitcoin por, no mínimo, três anos? Caso a resposta seja “sim” para as duas perguntas, vale a pena considerar alocar parte do seu capital em bitcoin como estratégia de diversificação.

Resumo: bitcoin é uma moeda digital descentralizada e com alto potencial de valorização no longo prazo.
Como comprar: por meio de uma corretora de criptomoedas
Risco: altíssimo

 

*Bernardo Pascowitch é empreendedor, fundador do buscador de investimento Yubb e faz um balanço diário da movimentação da bolsa aqui na Poder Online e em seu canal do Youtube