O QUE PENSA RODRIGO PACHECO, O NOVO PRESIDENTE DO SENADO

Rodrigo Pacheco || Crédito: Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Apoiado por petistas e pelo presidente Jair Bolsonaro, Rodrigo Pacheco chega à presidência do Senado após curtos sete anos de vida política com a missão de manter a independência da casa e o empenho em acelerar medidas de enfrentamento à pandemia

Por Mari Tegon

Diante de um Senado aglomerado de caciques como Tasso Jereissati (PSDB-CE), Antonio Anastasia (PSD-MG), Fernando Collor (Pros-AL), Renan Calheiros (MDB-AL), Jaques Wagner (PT-BA), Cid Gomes (PDT-CE), entre outros nomes célebres da política nacional, coube a um ilustre desconhecido dos brasileiros a tarefa de assumir o comando da casa pelos próximos dois anos: Rodrigo Otavio Soares Pacheco (DEM-MG), 44 anos, advogado nascido em Porto Velho (RO). Com boa interlocução e diálogo aberto com espectros de esquerda e direita do Congresso Nacional, Pacheco precisou de apenas sete anos de vida pública e uma legislatura para conseguir chegar a um dos três principais cargos da República. No atual cenário em que o país se encontra, com a pandemia se misturando a problemas sociais, políticos e econômicos, é de se admirar que houvesse um nome a unir polos tão distantes quanto o Partido dos Trabalhadores e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sem grande alarde, sem polêmicas.

Rodrigo Pacheco iniciou a sua trajetória política em 2014, eleito deputado federal pelo MDB. Na Câmara, votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e presidiu a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Derrotado na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte dois anos depois, retornou à Brasília como senador em 2019. É o atual presidente do diretório mineiro do DEM e, no Senado, foi líder do partido.

Ao longo de 2021 e 2022, o novo presidente terá de encarar uma série de desafios na casa. Na lista de Prioridades está a busca pela independência do Senado; a análise das reformas tributária e administrativa; e o empenho em medidas de enfrentamento à pandemia da Covid-19. Nesta entrevista exclusiva a PODER, Pacheco analisou sua vitória à presidência, falou sobre o combate à corrupção e algumas das pautas mais urgentes que o país precisa destravar se quiser avançar. O senador diz que pretende unir os extremos para que haja uma convergência a favor do Brasil, fazendo com que as classes políticas federal, estadual e municipal se ajudem para enfrentar a crise, e também expôs suas ideias sobre auxílio emergencial, PEC emergencial e geração de emprego e renda.

PODER: O SENHOR TEM 44 ANOS E É SENADOR DE PRIMEIRO MANDATO. OUTROS SENADORES FICARAM RESSENTIDOS PELO FATO DE O SENHOR TER TÃO POUCO TEMPO DE CASA E ALCANÇADO, EM TEMPO RECORDE, A PRESIDÊNCIA?
RODRIGO PACHECO:
Esse movimento de renovação começou com o ex-presidente Davi Alcolumbre (DEMAP), senador mais novo a ser eleito para o cargo de presidente nas últimas décadas. A minha eleição, de certa forma, dá continuidade a esse movimento que começou há dois anos. Fui eleito com 57 votos e com apoio de diversos partidos, da base de governo e da oposição, que viram no meu nome o preparo necessário para presidir o Senado e conduzir os trabalhos na casa. E, particularmente, não vi nenhum tipo de ressentimento. Aliás, assim que a votação foi concluída, não existiram mais candidaturas nem divisões e, sim, senadores interessados em discutir os projetos urgentes para o país.

PODER: QUANDO DAVI ALCOLUMBRE FOI ELEITO, ERA CONSIDERADO UM DESCONHECIDO PARA O PAÍS. SAIU MAIOR DO QUE ENTROU. QUAL ESTILO DE GESTÃO O SENHOR PRETENDE ADOTAR?
RP: Aprendi a fazer política em Minas Gerais. A política mineira sempre foi de pacificação, busca de união e unidade, de respeito, de conciliação, de moderação, de equilíbrio e de muita racionalidade. A política não deve ser movida por arroubos do momento ou por radicalismos. Devemos superar os extremismos que vemos surgir de tempos em tempos, de um lado e de outro, como se a vida tivesse um sentido só, uma mão única ou uma única vertente.

PODER: COMO ADVOGADO CRIMINALISTA O SENHOR DEFENDEU RÉUS IMPORTANTES NO MENSALÃO. COMO VÊ O COMBATE À CORRUPÇÃO NO BRASIL E COMO SE COLOCA NO DEBATE NACIONAL SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO?
RP: A Lava Jato foi uma operação importante, mas temos que seguir avançando na pauta de segurança pública, com as proposições que dão mais capacidade ao Estado para enfrentar a criminalidade, notadamente a organizada e violenta. Da mesma forma, temos que prosseguir na agenda legislativa de enfrentamento aos crimes contra a administração pública, em especial o combate à corrupção.

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PODER: O SENHOR FOI APOIADO TANTO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA QUANTO PELO LÍDER DA OPOSIÇÃO DO GOVERNO. COMO SERÁ O TRABALHO PARA EQUILIBRAR E MANTER AS DUAS PONTAS UNIDAS PELOS INTERESSES DO BRASIL E DA POPULAÇÃO EM GERAL?
RP: A minha candidatura foi uma candidatura dos senadores e agregou vários partidos. Sou de um partido político, portanto, a minha candidatura se originou também de uma indicação do Democratas. Houve uma manifestação de simpatia por parte do presidente à minha candidatura, algo que eu recebi com honra. Com a minha eleição, mantenho uma relação de respeito e de diálogo para poder solucionar os problemas do país, mas sempre garantindo independência do Senado para a tomada de decisões livres, autônomas e com bastante respeito.

PODER: COMO O SENHOR VÊ A GESTÃO DO GOVERNO NO QUE DIZ RESPEITO À PANDEMIA? ALGO PODE SER MELHORADO, ALGUMA MEDIDA NÃO ESTÁ SENDO TOMADA E DEVERIA ESTAR SENDO PRATICADA?
RP: A pandemia atingiu o Brasil e o mundo de maneira surpreendente, muito severa e trágica. Não há um país ou um estado da federação brasileira que tenha só acertado. Sinceramente, não há qualquer comprovação científica do que deveria ser realizado há um ano sobre a pandemia. Há um estado de incertezas que nos faz ter compreensão de que a sanha de achar culpados a qualquer custo deve dar lugar a um ambiente em que a ciência prevaleça e amadureça, e que façamos um enfrentamento mais inteligente ao que nos exige o momento: facilitar, o máximo possível, o acesso à vacina. É uma obrigação do Estado e um direito do cidadão ter acesso às vacinas. De onde quer que venham, certificadas pela Anvisa, que sejam colocadas à disposição da sociedade.

PODER: QUAL É A GRAVIDADE DOS ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS OCORRIDOS NO ANO PASSADO E DOS ATAQUES ÀS INSTITUIÇÕES, PRINCIPALMENTE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL?
RP: Há um nível de acirramento que deveria ser normal da democracia – atrito, divergência –, mas, infelizmente, isso se potencializou. Um atrito de rispidez, de intolerância, de desrespeito à divergência e de não compreender as diferenças. O caminho para a solução de muitos problemas é a ciência, os fundamentos econômicos, sociais, os princípios e a Constituição Federal. Mas há essa dificuldade de compreensão dos poderes, de que cada um tem o seu papel – e que tem de ser cumprido, pois são constitucional e legalmente previstos, sem interferir no poder do outro. E o ambiente de pacificação deve ser buscado dentro da compreensão de que os poderes são autônomos, livres, e têm que conviver harmoniosamente. Não há muito segredo nisso: é obedecer à Constituição, fazer com que as instituições cumpram seus papéis sem interferir nas outras e que respeitemos as posições de cada qual.

PODER: QUAL O MAIOR INTERESSE DO SENADO, PARA O BRASIL, NESTE MOMENTO?
RP: Eu vejo um momento ainda turbulento no Brasil e no mundo em razão da pandemia do coronavírus, que nos exige soluções novas para um problema que é novo, é inusitado, que foi muito severo com o país. Isso afeta tudo. Estou propondo que a gente tenha uma atuação parlamentar imediata, assentada em bases da pacificação, de consenso, de trabalho, de muita energia para resolver os problemas, mas dentro de um trinômio de saúde pública, de desenvolvimento social e crescimento econômico do país.

PODER: O SENHOR DEFENDE A EXTENSÃO DO AUXÍLIO EMERGENCIAL POR MAIS TEMPO E JÁ DECLAROU QUE HÁ RECURSOS A SEREM REMANEJADOS NO ORÇAMENTO. JÁ O GOVERNO BOLSONARO DIZ QUE O PAÍS VAI QUEBRAR SE ISSO ACONTECER. COMO PRETENDE COMPATIBILIZAR DIAGNÓSTICOS TÃO DIFERENTES? HÁ MESMO RECURSOS A SEREM REMANEJADOS? QUAIS SÃO?
RP: Há uma compreensão de todos que o auxílio emergencial precisa existir nestes próximos quatro meses. É uma percepção que nós do Congresso externamos ao Executivo e o Executivo concordou com a ideia de que teria que ter o auxílio. O que nós pretendemos é que, uma vez aprovado [o texto da PEC] no Senado, já haja por parte do governo uma efetivação do auxílio emergencial, considerando que há uma tendência muito clara de a Câmara dos Deputados, diante da importância disso para o país e para viabilização do auxílio emergencial, também aprová-la num tempo que seja adequado.

PODER: O DEPUTADO RODRIGO MAIA, EX-PRESIDENTE DA CÂMARA E MEMBRO DO SEU PARTIDO, TEM AFIRMADO QUE O ACM NETO (PRESIDENTE NACIONAL DO DEM) ENTREGOU O PARTIDO DE BANDEJA PARA O PLANALTO. COMO AVALIA ESSA CRÍTICA?
RP: Não me permito discutir questões partidárias sentando na cadeira de presidente do Congresso. O foco é o mandato de presidente do Senado. Serei o mais colaborativo possível em relação aos outros poderes, obviamente resguardando a independência do Senado, além de buscar ajudar o governo a executar políticas públicas.