NO COMANDO DO MATCH

Whitney Wolfe Herd || Crédito: Jerod Harris/Getty Images for Fortune

Ela é a mulher mais jovem da história a abrir o capital de uma empresa. Conheça Whitney Wolfe Herd, a executiva que se tornou bilionária depois de terminar uma relação séria com o Tinder

Por Anderson Antunes

Dar a volta por cima é o que mais vem à cabeça das pessoas que enfrentam um término de relacionamento conturbado. Deixar o outro no passado e usar o drama que nasce dessas situações para o próprio engrandecimento, no entanto, é tarefa para poucos. Mas Whitney Wolfe Herd, uma jovem empresária americana de apenas 31 anos que trabalhou no Tinder desde seus primórdios, faz parte desse seleto grupo de vencedores resilientes.

Contratada aos 22 para integrar o time que então ainda desenvolvia aquele que viria a se tornar o maior aplicativo de paquera do mundo, hoje um gigante que movimenta bilhões, Whitney foi a responsável por escolher o nome do negócio que estava para nascer – “Tinder”, que em português se traduz como mecha de fogo, simbolizando as primeiras faíscas para uma grande paixão, foi ideia dela.

Depois de ser promovida ao cargo de vice-presidente de marketing, Whitney permaneceu no Tinder até 2014, quando os primeiros sinais de uma crise entre as partes se tornaram evidentes. A história exata sobre o que aconteceu é um mistério até hoje, mas sabe-se que ela acusou seus chefes no aplicativo de assédio, e no fim saiu da empresa com uma indenização de mais de US$ 1 milhão em troca de um acordo de confidencialidade devidamente assinado.

Foi o ponto final de uma relação que estava perto de virar casamento – Whitney receberia ações do Match Group, dono do Tinder, que fez seu IPO no ano seguinte – mas também o pontapé de algo muito maior para a executiva. Com a experiência que havia acumulado no emprego anterior, mais os milhões de dólares em conta, Whitney Herd fundou, ainda no fim de 2014, o Bumble, uma rede social cujo foco é formar casais a partir da geolocalização de seus usuários e permite às mulheres a exclusividade para dar o primeiro passo na conversa.

“Definitivamente, não estamos tentando ser sexistas, esse não é o objetivo”, disse Whitney ao Business Insider em entrevista recente. “Eu sei que os caras ficam cansados de tomar a iniciativa todas as vezes. Por que uma garota deveria ficar sentada esperando? Por que existe essa norma de que, como mulher, você pode conseguir o emprego dos seus sonhos, mas não pode falar com um cara primeiro? Vamos modernizar a paquera”, afirmou. Descrito por Whitney como um “aplicativo de encontros feminista” em razão do nome, algo como “abelha-rainha” em português, o Bumble conta com mais de 55 milhões de usuários em 150 países, dos quais muitos pagam por seus serviços. Seu faturamento em 2020 bateu a marca de US$ 490 milhões e sua estreia na bolsa de valores eletrônica Nasdaq, também no ano passado, levantou mais de US$ 2,15 bilhões.

“Por que existe essa norma de que, como mulher, você pode conseguir o emprego dos seus sonhos, mas não pode falar com um cara primeiro?”

Atualmente com um valor de mercado de US$ 12,4 bilhões – cerca de um terço da capitalização do Match Group – o Bumple também fez de Whitney, dona de 11,6% de seu capital, bilionária, com estimados US$ 1,4 bilhão de patrimônio. O título pomposo, aliás, veio acompanhado de outros: a ex-Tinder também é a bilionária self-made mais jovem do mundo, além da mulher mais jovem em toda a história a oferecer as ações de sua própria empresa na bolsa.

O sucesso de Whitney é inegável, mas a favor dela também pesa o fato de que os aplicativos de encontros vivem sua melhor fase em tempos. Em crescimento de dois dígitos ao ano mesmo antes da pandemia, Tinders, Bumbles e afins bombaram durante a quarentena imposta em vários países para controlar o novo coronavírus, o que levou centenas de milhões de pessoas a ficarem em casa surfando em seus smartphones.

O próprio Tinder liberou durante alguns meses uma de suas opções exclusivas para os assinantes de seus serviços, que é poder escolher qualquer localização do planeta para ir à caça de matches. Como resultados, esses aplicativos conquistaram um público fiel de mais de 400 milhões de pessoas de todos os cantos, o que atraiu anunciantes de todos os tipos de serviços e os levou a superar a marca de US$ 3 bilhões faturados no ano passado.

A previsão é que essa cifra chegue a US$ 4,36 bilhões já em 2023, com boa parte do aumento sendo creditada ao Bumble. Maior concorrente do Tinder, que já não tem mais para onde crescer, o app ainda tem a vantagem de ter em seu comando Whitney, considerada a maior expert da “indústria de matches” do mundo, e ela própria uma “abelha-rainha” disposta a se tornar alguém que dita as regras de seu meio.

“A coisa mais importante para um jovem empreendedor é começar algo”, Whitney disse em uma entrevista para a rede americana de televisão CNBC. “Não se assuste com o ‘e se…’, porque na verdade o único erro é não tentar. Tentar e falhar não é erro, é aprendizado. E eu vou continuar tentando sempre”, ela completou. Melhor que esse perfil de conquistadora só mesmo a história de amor dela, que conheceu seu atual marido em 2013, durante uma viagem de férias em Aspen, nos Estados Unidos. Os dois se esbarraram por acidente no famoso destino de inverno, e foi amor à primeira vista. Em dezembro de 2019, Whitney deu à luz um bebê, e no mesmo mês anunciou que as funcionárias grávidas do Bumble teriam acesso a bônus e licença-maternidade, além de horas flexíveis para trabalhar. Está aí algo que sustenta uma boa relação: a preocupação com o outro, que, dizem, tivesse o Tinder tido com sua ex-funcionária mais famosa, talvez ainda a teria em seus quadros.