AS MULHERES QUE ESTÃO MUDANDO O BRASIL

Elas estão transformando o país – e em alguns casos um pouco além – ao liderar, pensar, executar, mostrar, decidir e abrir novos caminhos

Por Paulo Vieira, Carol Sganzerla e Dado Abreu

A presença da mulher em postos de liderança de empresas ainda está bastante aquém do ideal, assim como precisa avançar a equidade de gênero em diversos setores. Mesmo assim, não é fácil fazer uma seleção como a que PODER preparou para esta reportagem, a principal da edição de aniversário. Não se tem a pretensão de encerrar o painel muito diverso da liderança feminina no Brasil, mas as mulheres que aqui estão formam um mosaico modelar. Há gente da vida pública, da iniciativa privada, das organizações sociais, das artes, do conhecimento científico – setor que a pandemia colocou em evidência e em que elas brilham intensamente – e na sociedade de modo geral. Da ministra da Agricultura, a deputada licenciada Tereza Cristina, às novas lideranças trans dos legislativos municipais; da pesquisadora da FMUSP Ester Sabino, que coordenou o sequênciamento do coronavírus assim que ele chegou ao Brasil, à empresária Alcione Albanesi, que vendeu sua empresa para se dedicar 100% à filantropia na Amigos do Bem; da escritora Conceição Evaristo à secretária de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, Patricia Ellen; da empreendedora Dulce Pugliese de Godoy Bueno, controladora da Dasa, à hoje “vice-presidenciável” Luiza Trajano, as mulheres das próximas páginas não apenas fazem a diferença em seus campos de atuação. Elas são a diferença.

 

Tereza Cristina || Crédito: Reprodução

TEREZA CRISTINA, ministra da Agricultura
Um mal comum na Esplanada não costuma acometer a deputada federal licenciada e ministra da Agricultura, Tereza Cristina: a incontinência verbal. É difícil ouvir de sua boca bizarrices ideológicas e ataques à China – que é o principal mercado consumidor de sua pasta. De vez em quando, é verdade, ela precisa ajudar os colegas em apuros e endossa narrativas governamentais fabulosas, como a do boi bombeiro do Pantanal; no Twitter, a ministra também é contida, usando a ferramenta para dar conta de seus atos. E ela tem algo a mostrar. Num governo de parcas realizações e crises infindáveis, seu ministério é uma ilha. Mesmo em 2020, ano zero da crise do coronavírus, o Brasil celebrou um aumento de receita de 4,1% em relação a 2019 das exportações do agro, para US$ 100,8 bi. Agrônoma de formação, a sul-mato-grossense está em seu segundo mandato consecutivo na Câmara. Chegou lá pelo PSB, partido de que foi líder e que rompeu por divergências na votação da reforma trabalhista e no processo contra o então presidente Michel Temer, trocando a sigla pelo DEM, no fim de 2017. A política vem de berço: avô e bisavô foram governadores do Mato Grosso (que ainda não havia sido dividido). Tereza dirigiu por três anos a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) e entre 2007 e 2014, ocupou a Secretarias de Desenvolvimento Agrário, Produção, Indústria, Comércio e Turismo do Mato Grosso do Sul sob o governo de André Puccinelli (PMDB). Em janeiro, a ministra participou virtualmente do último Fórum Econômico de Davos e destacou o investimento crescente de tecnologia no campo, que no Brasil cresceu 50 vezes em seis anos. Ela também lembrou a presença feminina no campo, dizendo que as mulheres dirigem 20% dos estabelecimentos rurais do país. Mulher, popular entre o estrato mais conservador e praticamente unanimidade no agronegócio, Tereza é um nome óbvio para compor a chapa com Bolsonaro em 2022. Mas ela perde força no Parlamento, tendo os balões de ensaio para sua candidatura à presidência da Câmara rapidamente esvaziados. Com o centrão dando as cartas no governo, não vai ser fácil. (Paulo Vieira)

 

Ester Sabino || Crédito: Divulgação

ESTER SABINO, médica e pesquisadora
Não é casual que tantas cientistas e infectologistas mulheres tenham se tornado companheiras assíduas dos brasileiros que assistem aos noticiários. Elas, na opinião da pediatra Ester Sabino, são maioria nos cursos de graduação de medicina – e da área científica de modo geral. Ester convive com elas há muito tempo. A curiosidade guiou seus caminhos acadêmicos, seja no doutorado em imunologia pela USP ou no pós-doc na área de hematologia no Irwin Memorial, nos EUA. Ela chegou ao sangue pelos bancos – de sangue, bem entendido –, e à necessidade de blindá-lo contra o vírus do HIV. Nessa hora, aprendeu a refinar os testes para admissão do sangue que seria usado nas transfusões e, desde então, desenvolveu uma qualidade que dez entre dez CEOs dizem ser a mais imprescindível do líder: saber coordenar equipes. Foi juntando programadores, laboratoristas, médicos e cientistas de áreas distintas que se tornou a primeira brasileira a sequenciar o código genético do SARS-CoV-2, ainda em fevereiro de 2020, em tempo recorde: 48 horas. Dezenas de milhares de outras sequências ainda seriam feitas, mas, como se viria, isso estava longe de ser suficiente para deter o fluxo de mortes. O trabalho da pesquisadora, contudo, indicou quais cepas das muitas variantes que chegavam ao país tornavam-se predominantes, facilitando as práticas de quem teria de lidar com o dia a dia da infecção. No caminho, teve de enfrentar outro adversário, o gestor dos recursos públicos, que, fechando a torneira de verbas, foi interrompendo bolsas de estudo e causando baixas na formação de novos cientistas. Ester se alegrou ao se ver representada com os traços da Magali, maneira com que o desenhista Mauricio de Sousa homenageou a cientistas nos primeiros dias. Quando a pandemia passar, ficará, em ao menos um aspecto positivo. “A proporção de pessoas interessadas em ciência deve aumentar”, disse. Nestes dias, ela tenta desvendar as razões da onda de Covid-19 que voltou a assolar Manaus. “Ainda é difícil entender, estão aparecendo variantes que dão um salto, que de uma hora para outra apresentam dez, 15 mutações. Precisamos entender o que está acontecendo em Manaus.” (PV)

 

Patrícia Ellen || Crédito: João Leoci

PATRICIA ELLEN, secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo
A secretária do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Patricia Ellen, costuma usar uma imagem poderosa para dizer de onde veio e aonde chegou. Nascida no Campo Limpo, na capital paulista, e hoje morando no Alto de Pinheiros, a menos de 20 quilômetros de distância, ela chama atenção para outros 20, os 20 anos a menos de expectativa de vida dos moradores do bairro periférico. Patricia teve, portanto, de se virar nos 30, ou nos 20, para sobreviver do lado agreste da meritocracia selvagem, tendo de começar sua corrida bem longe da linha de largada. Mas isso é passado. Egressa da consultoria McKinsey, ela entrou na vida pública stricto sensu pelas mãos de João Doria e logo teve de se entender com uma mudança de paradigma. A Covid-19 há exato um ano está a exigir medidas complexas, algumas jamais vistas, e aqui a pandemia foi agravada por um administração federal que diverge do receituário de distanciamento social e interrupção de circulação adotados por quase todo o mundo. Para ela, São Paulo consegue se manter como uma “ilha de excelência” na atração de investimentos, e a reforma administrativa feita em 2019 blindou o estado para que houvesse recursos nos próximos anos. Sem filiação partidária, Patricia disse a PODER que “não sabe” se um conhecimento prévio mais apurado da vida política poderia capacitá-la melhor para este momento, em que tantas decisões técnicas se subordinam à lógica dos dividendos políticos. “Esse é um momento de inflexão da política, temos uma chance de reinventá-la, torná-la mais diversa, humana e inclusiva, mas também podemos dar passos para trás.” Se tomado como exemplo o que acontece na sua pasta, a secretária vem contribuindo para tornar a administração pública mais diversa. Patricia diz que incrementou um processo seletivo feito dentro do governo que acabava por desclassificar mais as mulheres, que tendem a ser mais sucintas e tímidas na hora de sumarizar suas realizações. A organização social responsável pelo processo agora leva a metodologia, devidamente melhorada, para outros estados. (PV)

 

Conceição Evaristo || Crédito: Walter Craveiro/Flip

CONCEIÇÃO EVARISTO, escritora
Como aconteceu com Cartola na música, a mineira de Belo Horizonte é uma escritora temporã. E assim como o sambista da Mangueira, que foi servente de pedreiro antes de se tornar compositor, para Conceição também havia primeiro a sobrevivência. Ela foi doméstica até parte da vida adulta, e então, nos anos 1970, foi estudar letras no Rio. As primeiras publicações e o reconhecimento tardariam. Foi preciso antes ser traduzida em outros idiomas para despertar atenção aqui. Em 2003, aos 57, publicou Ponciá Vicêncio, o romance que marcaria sua obra, com a narradora, uma menina negra e pobre numa busca identitária via reflexões memorialísticas. Depois, ganharia o Prêmio Jabuti por Olhos d’Água, quando então ingressa no estamento literário cheio de viagens, festivais e eventos acadêmicos. Tudo isso era cotidiano até março de 2020. Com a pandemia, a escritora se fechou em sua casa e nada produziu durante um semestre. “A pandemia me atravessou por dentro e por fora, fiquei infértil”, disse por telefone a PODER. Nesses dias, teve uma dolorosa reflexão. “Me descobri velha aos 73 anos”, disse. “Eu era muito dinâmica, viajava muito. Mas aí as viagens pararam, entrei no grupo de risco da Covid-19 e foi angustiante saber que, para a sociedade, a vida do velho não importa, que a medicina iria preferir cuidar do jovem. Nunca tinha me visto nessa situação, que é própria da sociedade capitalista: não é considerado quem não rende mais.” Superada a interdição “melancólica”, pretende, em 2021, publicar ensaio, terminar um romance e escrever poesia de inclinação erótica, na falta, segundo ela, de melhor definição. “O que é algo incomum para pessoas da minha geração.” Conceição apoia o protagonismo feminino e acha que cotas são necessárias para “colocar todo mundo no mesmo patamar”. E isso também em relação a negros, indígenas e pessoas de capacidades especiais. Ela crê que no mundo editorial os homens ainda dominam posições-chave e que para combater machismo e racismo há que se contar com o concurso de homens e brancos. A luta tem de ser compartilhada pelos donos dos privilégios. (PV)

 

Alcione Albanesi || Crédito: Reprodução

ALCIONE ALBANESI, fundadora da ONG Amigos do Bem
Pode-se dar mais ou menos carga dramática à história, mas em qualquer versão a trajetória de Alcione Albanesi impressiona. Das rifas que fazia com os presentes que ganhava no Natal ainda criança à empresa que montou aos 16 anos; da loja na rua Santa Ifigênia que a lançou no comércio e depois na produção de lâmpadas LED à dedicação à ONG Amigos do Bem, sua jornada serve para lembrar que há gente que merece ser celebrada no Brasil. Alcione é uma maverick, uma mulher que se fez sozinha a cada passo que deu, como em suas investidas à China, país que visitou mais de 70 vezes. Em sua primeira viagem a Xangai, sem conhecer ninguém nem ter qualquer informação prévia sobre métodos de negociação chineses, voltou ao Brasil com dois contêineres cheios de lâmpadas. Deu ruim, por incompatibilidade de sistemas, e ela acabou morrendo com um prejuízo de US$ 100 mil. Mas foi o início torto de uma história de gigantesco sucesso, em que foi líder de seu segmento. Alcione hoje se dedica 100% a Amigos do Bem, instituição premiada como a melhor ONG de 2020 e que atende 75 mil pessoas no sertão brasileiro. “Deixei uma empresa líder de mercado, que faturava milhões, para me dedicar voluntariamente em tempo integral na transformação de vidas. Hoje não faço conta de quanto poderia ganhar, mas de quantas vidas posso transformar”, disse a PODER. Sua mãe, que a ensinou que “viver não é um simples espaço entre o nascer e o morrer”, foi uma inspiração óbvia dessa guinada, mas a filantropia talvez se impusesse em sua vida de qualquer forma, a julgar por essa convicção: “Não podemos aceitar a desigualdade gritante de nosso país”. A Amigos do Bem atua em vários flancos, provendo alimentação, saúde e educação para brasileiros que, para ela, “não tem nada, ninguém para entregar currículo, sinal para ficar pedindo esmola”. A liderança feminina que traz ganhos às empresas, porque “a sensibilidade e a intuição da mulher ajudam a encontrar soluções inovadoras” também foi colocada a serviço da ONG e ajuda a “romper um ciclo cultural de submissão no sertão”. (PV)

 

Dulce Pugliese || Crédito: Reprodução

DULCE PUGLIESE DE GODOY BUENO, empresária
Ser chamada de mulher mais rica do Brasil diz pouco sobre Dulce Pugliese. Esse tipo de comenda serve apenas para informar sobre a titularidade de um patrimônio bilionário, não como ele foi conquistado. No caso dela, exigiu engenho, suor e uma parceria produtiva com o ex-marido Edson de Godoy Bueno, mantida mesmo após a dissolução do casamento. Pediatra com mestrado em administração pela Universidade do Texas, ela foi professora na UFRJ antes de fundar com Edson a Amil, empresa que ao vender, em 2012, seria responsável pelo arranque de sua fortuna. Após a Amil veio a Dasa, líder do setor de medicina diagnóstica no Brasil com marcas de complexidades distintas como Delboni, Lavoisier, Alta e Salomão Zoppi. E também a Ímpar, rede de hospitais que controla o 9 de Julho e o Santa Paula, em São Paulo, e o São Lucas, no Rio, entre outros. Em 2019, uma holding uniu as empresas que faturam juntas cerca de R$ 7 bi. A verticalização desses negócios é uma tendência no setor de saúde, não apenas para usufruir de potenciais sinergias, mas pela possibilidade de atuar numa fase preventiva, ou mais precoce, do tratamento de doenças. Na pandemia, a Dasa vem participando de estudos de relevância mundial, como o do sequenciamento genético do vírus da Covid-19 dos primeiros contaminados do Brasil (trabalho capitaneado por Ester Sabino). O estudo seguiu com a identificação, mais recentemente, do código genético da variante inglesa do vírus. Em janeiro, a Dasa valorizou na bolsa com os papéis subindo quase 270% em uma quinzena. Junto à empresa americana Covaxx, a Dasa participa do desenvolvimento de um novo imunizante contra a Covid-19, na qual investiu R$ 15 bi. Quando Edson de Godoy Bueno morreu, em 2017, o jovem Pedro de Godoy Bueno, enteado de Dulce, já era presidente havia dois anos – ele assumiu o comando com 24 anos, em um bem estruturado processo sucessório. (PV)

 

Jaqueline Goes || Crédito: Reprodução

JAQUELINE GOES DE JESUS, biomédica
Juntamente com Ester Sabino, a biomédica baiana coordenou a equipe que fez o sequenciamento do genoma do coronavírus da Covid-19 logo que ele chegou ao Brasil. Doutora formada pela Ufba, em Salvador, e pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP, ela ganhou expertise em sequenciamento ao lidar com o HTLV-1, vírus aparentado do HIV que surgiu junto com os casos de zika e chikungunya. Recentemente, disse a uma publicação da Ufba que enfrentou “muita coisa para chegar onde está”, mas não “situações explícitas de racismo ou misoginia na academia”. Ela prefere falar em “tons de preconceito” manifestação do racismo estrutural presente na sociedade.

 

CÁRMEN LÚCIA, ministra do STF
Ex-procuradora-geral de Minas Gerais, chegou ao Supremo Tribunal Federal em 2006 e foi a segunda mulher a ocupar uma vaga da mais alta corte de Justiça do país – e a primeira a trajar calças numa sessão do plenário, onde a tradição exigia uso de saia ou vestido. Presidiu o Supremo de 2016 e 2018, gestão que foi marcada por sua recusa em colocar na pauta a análise sobre prisão após segunda instância.

 

Sueli Carneiro || Crédito: divulgação

SUELI CARNEIRO, filósofa e ativista
Fundadora do Geledés, primeira organização negra e feminista de São Paulo, Sueli tem livros publicados sobre a condição da mulher negra na sociedade brasileira. Ela se define simplesmente por “ativista”, o que faz jus a seu modus operandi que está bem longe de caber na academia. Em 1989, por exemplo, fez uma pesquisa em cartórios e fóruns paulistas para identificar condenações por discriminação racial. Este ano foi merecedora do prêmio anual da Associação dos Estudos Latino-Americanos, da Pensilvânia, por sua obra.

 

 

 

 

Fernanda Montenegro || Crédito: Institucional

FERNANDA MONTENEGRO, atriz
Nascida Arlette Pinheiro em 1929, a carioca é o rosto do teatro e da TV que o Brasil talvez ainda não esteja preparado para perder. Única brasileira a concorrer ao Oscar de melhor atriz, por Central do Brasil, de Walter Salles, teve seu primeiro grande papel no teatro, do qual é a “grande dama”, em A Moratória, nos anos 1950. Com novelas e seriados para a TV Globo, disse ao projeto Memória, da emissora, que sua “principal preocupação é trabalhar em estado de aleluia”. “Não é rir à toa. É ter entusiasmo, estar disposta a ser feliz.

 

 

 

 

ANNA SARA LEVIN, médica infectologista do Hospital das Clínicas de SP
Professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias e coordenadora do Grupo de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a médica esteve desde o princípio no comitê de frente criado pelo HC para enfrentar a pandemia. A especialista é integrante do grupo de consultores para a Covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS) e apareceu, em estudo divulgado pela revista PLOS Biology em outubro de 2020, no ranking dos cientistas mais influentes do mundo.

 

Luiza Helena Trajano || Crédito: Reprodução/Facebook

LUIZA HELENA TRAJANO, empresária
Presidente do conselho de administração da Magalu, a rede de varejo que essa paulista de Franca fez crescer e multiplicar, a empresária é talvez a principal ativista por equidade de gênero do mundo corporativo, especialmente em postos de liderança. Cofundadora e presidente do grupo Mulheres do Brasil, ela considera a mulher um grande ativo no trabalho por ser alguém acostumado a “implodir fronteiras e fazer muita coisa ao mesmo tempo”. Luiza, que teve uma aproximação com Dilma Rousseff durante seu primeiro mandato e chegou a ser cotada para ministra, voltou em 2021 a ter seu nome ventilado para a vida política, como uma possível vice-presidente em 2022.

 

 

CLAUDIA ANDUJAR, fotógrafa
A artista dedicou vida à defesa dos direitos indígenas. Em meados de 1970, com a descoberta de minérios nobres nas terras indígenas e o início da construção da Rodovia Perimetral Norte, sua fotografia se tornou instrumento de denúncia. Seu primeiro contato com os ianomâmi aconteceu em decorrência de uma reportagem para a revista Realidade, onde trabalhou de 1966 a 1971. Grande parte do seu trabalho, inclusive, foi realizado para publicações, como The New York Times Magazine e Life. Na Bienal de São Paulo, em 2006, Claudia expôs a série  Marcados, composta por retratos de identificação que tinham como objetivo mapear o povo ianomâmi. Em um depoimento para o filme A Estrangeira, de Rodrigo Moura, curador do pavilhão dedicado à artista no Inhotim, a fotógrafa conta que já foi chamada entre este povo de “a mulher estrangeira”, mas também de “mamãe”.

 

Andrea Marques || Crédito: Agência Petrobras

ANDREA MARQUES DE ALMEIDA, CFO da Petrobras
Atuar por 25 anos em áreas de gerenciamento de risco e tesouraria global da empresa responsável pelas tragédias de Mariana e Brumadinho talvez seja a exigência máxima a que um executivo desse setor deveria ser submetido. Mas ao chegar à Petrobras e se tornar a primeira CFO mulher da petroleira, a engenheira de produção com MBA em finanças pela Ibmec-RJ e cursos de gestão em Wharton e no MIT, Andrea Marques de Almeida encontrou um novo mundo. Ela, inclusive, pode se orgulhar dos bons resultados da Petrobras apresentados no fim de fevereiro. O último trimestre de 2020 teve lucro líquido sete vezes maior em relação ao mesmo período de 2019.

 

 

ELIANA SOUSA SILVA, educadora e ativista social
Fundadora e diretora da Redes da Maré, que atua há décadas no complexo de favelas que abriga 140 mil pessoas no Rio de Janeiro, é uma das ativistas mais engajadas em proteger os mais vulneráveis e consciente da educação como poder transformador – o cursinho pré-vestibular gratuito criado pela ONG em 1998 permitiu que cerca de 2 mil jovens fossem aprovados em universidades.

 

Teresa Vendramini || Crédito: Roberto Setton

TERESA VENDRAMINI, presidente da Sociedade Rural Brasileira
Pecuarista e socióloga paulista, dirigiu o Núcleo Feminino do Agronegócio antes de se tornar a primeira mulher a presidir a centenária Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das mais tradicionais entidades de defesa do produtor agrícola, fundada em 1919 pela aristocracia cafeeira. Sobre o fenômeno da liderança feminina no campo, Teka diz: “As mulheres têm um olhar mais amplo nas fazendas. A gente parece polvo, vê tudo, da cerca ao funcionário que não parece muito bem”.

 

 

 

 

JOANITA MAESTRI KAROLESKI, diretora do programa de doações da JBS no Brasil
Joanita teve a missão de investir R$ 400 milhões em esforços sanitários e sociais em decorrência da Covid-19. A equipe liderada por ela construiu dois hospitais, comprou 2 mil leitos e doou mais de 300 respiradores para hospitais públicos. À frente do Fundo JBS pela Amazônia, se comprometeu com o aporte de R$ 250 milhões em cinco anos na conservação da região e desenvolvimento de comunidades locais.

 

Liliane Rocha || Crédito: Mário Bock/Divulgação

LILIANE ROCHA, fundadora  da Gestão Kairós
Consultora de diversidade e sustentabilidade em empresas, Liliane é formada em relações públicas e vem atuando para fazer da diversidade uma palavra que efetivamente tenha algum significado no mundo corporativo. Tendo passado pelo Votorantim Metais e Walmart, ela escreveu Como Ser um Líder Inclusivo (Scortecci Editora) e nele alerta para algo que deveria ser óbvio. Com mais da metade da sociedade brasileira formada por mulheres e negros, se essa parcela acha que tem poucas chances de entrar no mercado como ainda acontece, trata-se de uma sociedade que “não é saudável”.

 

 

  • Daniela Cachich, VP de marketing da PepsiCo
  • Katia Vaskys, CEO da IBM Brasil
  • Tania Cosentino, presidente da Microsoft Brasil
  • Maitê Lourenço, CEO do BlackRocks Startups
  • Michele Robert, CEO da Gerdau
  • Andreia Dutra, presidente da Sodexo
  • Gisselle Ruiz Lanza, CEO da Intel Brasil

 

Cristiana Arcangeli || Crédito: André Schiliró/Divulgação

CRISTIANA ARCANGELI, CEO da Beauty’in
Uma das mais bem-sucedidas empreendedoras do país. Além da Beauty’in, Cristiana já esteve à frente de outras quatro empresas: Phytoervas, Phyta, PH – Arcangeli e Eh. Apresentadora por quatro temporadas do Programa Shark Tank Brasil e palestrante nos temas de empreendedorismo, inovação, beleza e empoderamento feminino, é sócia do Fundo de Investimento Phenix e lançou, ano passado, o programa Empreender Liberta.

 

 

 

 

 

 

 

MARIÂNGELA SIMÃO, diretora da Organização Mundial da Saúde
Durante 30 anos trabalhou no SUS, coordenando a estratégia de combate ao HIV no Brasil. Chegou à OMS, onde é diretora- -geral-assistente para medicamentos, vacinas e produtos farmacêuticos, após passar pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre Aids, em Genebra. Segundo ela, o acesso universal à saúde criado no Brasil serve como inspiração para outras nações.

 

Maria Cristina Peduzzi || Crédito: TST/JUS

MARIA CRISTINA PEDUZZI, presidente do TST
Primeira mulher a presidir o Tribunal Superior do Trabalho (TST), a brasileira nascida no Uruguai entrou no tribunal em 2001 nomeada por FHC na vaga destinada à advocacia. Eleita presidente em 2020, ela está preocupada em estabelecer segurança jurídica nas relações conflituosas entre empregador e empregado. Em sua posse, citou o pensador israelense Yuval Harari, mostrando-se preocupada com o impacto tecnológico nas novas relações de trabalho.

 

 

 

 

 

ANDREA PINHEIRO, managing director do BR Partners
Referência em um meio predominantemente masculino, é sócia fundadora do banco de investimentos BR Partners, um dos principais do país. Iniciou a carreira no banco da família, o BMC, e, em 2009, aceitou o convite de um amigo para começar uma butique de fusões e aquisições. E voilà. Em 2020, mesmo com a pandemia, o BR Partners teve receita total de R$ 222,3 milhões, com crescimento de 35,6%.

 

Marta || Crédito: Daniela Porcelli/Getty Images

MARTA, jogadora de futebol
Seis vezes melhor jogadora do mundo segundo a Fifa, um recorde não superado nem mesmo por Messi ou Cristiano Ronaldo, a alagoana é ainda a maior artilheira da seleção brasileira. Tendo seu enorme talento reconhecido inicialmente na Suécia, para onde foi com 18 anos, Marta jamais conseguiu ganhar uma Copa do Mundo com o Brasil, embora tenha se esforçado tremendamente para isso – participou de cinco. Antes discreta em sua vida pessoal, ela anunciou recentemente, pelo Instagram, seu romance com a também jogadora Toni Pressley, zagueira e colega do Orlando Pride, da Flórida.

 

 

 

 

  • Vivien Rosso, CEO do A.C. Camargo Cancer Center
  • Soraya Corona, diretora-geral do Grupo Bio Ritmo e Smart Fit
  • Anne Willians, presidente do Instituto Nelson Willians
  • Claudia Woods, diretora-geral da Uber
  • Karla Felmanas, vice-presidente da Cimed
  • Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz
  • Mafoane Odara, consultora e ativista em Direitos Humanos e Diversidade
  • Nathalia Arcuri, fundadora da plataforma de educação financeira Me Poupe!

 

Mary Del Priore || Crédito: divulgação

MARY DEL PRIORE, historiadora
Formada pela PUC-SP, com doutorado em história social pela USP e pós-doutorado na francesa École des Hautes Études, tem dezenas de livros publicados, entre eles A História das Mulheres do Brasil, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti. Especialista em história colonial e história de gênero, lançou recentemente Sobreviventes e Guerreiras, uma espécie de antologia de sagas de mulheres que “romperam com o pacto de submissão”, como definiu. Entre elas, quatro que perderam a vida: Daniella Perez, Marielle Franco, Cláudia Lessin Rodrigues e Aída Curi. Em recente live com Joyce Pascowitch, ela ainda mencionou a importância de Jacqueline Pitanguy, feminista pioneira, que se mantém atuante e que teve papel preponderante de mobilização durante a Constituinte de 1988.

 

 

NECA SETUBAL, socióloga, presidente do conselho da Fundação Tide Setubal
Filha de Olavo Setubal, herdeira e acionista do Itaú Unibanco, dedica a vida em projetos para melhoria da educação e desenvolvimento social. É mestre em ciência política e doutora em psicologia e autora de vários livros, entre eles Cortes e Recortes da Terra Paulista, vencedor do Prêmio Jabuti em 2006.

 

Ilona Szabo || Crédito: Juan Dias/Divulgação

ILONA SZABÓ, cientista política
Num recém-iniciado governo Bolsonaro, Ilona foi a pivô involuntária da primeira crise entre o ex-ministro Sergio Moro e a realpolitik bolsonarista. Nomeada por Moro como suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, órgão de consulta sobre o sistema penitenciário, a socióloga teve seu nome contestado, o que obrigou o então ministro a desconvidá-la. Fazia sentido para a cognição bolsonarista: Ilona teve participação ativa na grande campanha desarmamentista de 2003. Ilona é cofundadora do Instituto Igarapé, think tank que estuda a segurança pública no Brasil e do movimento de renovação política Agora (junto com a secretária paulista Patricia Ellen), foi indicada como Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial e é a única brasileira citada entre os 50 pensadores de ciência política do mundo em 2020 segundo a revista britânica Prospect.

 

 

Erika Hilton || Crédito: Reprodução/Facebook

ERIKA HILTON, vereadora
O début político de Erika Hilton, mulher trans que chegou ao Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal paulistana, com o peso de 50.508 votos – a maior votação do Brasil de uma mulher para vereador em 2020 –, não podia se dar em época mais beligerante. Eleita numa onda que também fez mulheres trans vereadoras em Belo Horizonte e Aracaju, ela considerou sua vitória um “tapa na cara do sistema transfóbico”, mas o sistema nem sempre quer dar a outra face. Logo no primeiro mês de atuação na Câmara, a parlamentar do Psol recebeu duas tentativas de intimidação.

 

 

SCARLETT ZERBETTO MARTON, filósofa
Quando o departamento de filosofia da FFLCH, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, era mais amiúde chamado de Olimpo, Scarlett se movimentava com a leveza de quem nasceu para viver entre os deuses. Ou entre os professores do departamento. Maior exegeta do filósofo Friedrich Nietzsche no Brasil (o que vai muito além dos aforismos de Humano, Demasiado Humano), ela tem cerca de 20 livros publicados, quase todos sobre a obra do alemão. Ela também criou o GEN (Grupo de Estudos Nietzsche) e os Cadernos Nietzsche.

 

Andrea Alvares || Crédito: Roberto Setton/Divulgação

ANDREA ALVARES, VP de marketing, inovação, internacionalização e sustentabilidade da Natura
A executiva fez carreira em transacionais como P&G e PepsiCo até chegar à Natura há cinco anos. Na empresa, atua para levar o propósito cada vez mais ao dia a dia dos stakeholders – funcionários, consultoras independentes, clientes. A Natura já é o estado da arte dessa nova maneira de fazer negócios no Brasil, mas o trabalho jamais cessa. Quanto à inovação, ela é chave na companhia, que investe cerca de 2,4% de sua receita líquida anual no setor. Em 2020, inaugurou o parque tecnológico na Grande São Paulo, que cresceu quatro vezes em relação ao que já existia. A ideia é desenvolver protótipos em até 40% do tempo antes necessário.

 

ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA, escritora
O encontro com o educador Paulo Freire no exílio, em Genebra, deixou marcas na trajetória da jornalista, feminista e professora. Junto a ele, fundou o Instituto de Ação Cultural, voltado para os países lusófonos de África. Com a anistia, retornou ao Brasil, trabalhou com o antropólogo Darcy Ribeiro quando ele foi vice-governador de Leonel Brizola, no Rio, e representou o país em comissões da OEA. Autora de dez livros, acaba de lançar Liberdade (Ed. Rocco). Imortal pela Academia Brasileira de Letras, ela vê coragem no feminismo brasileiro de hoje. “Um terreno que já foi desbravado por nós”, como disse em entrevista ao O Estado de S. Paulo.

 

Maya Gabeira || Crédito: Ana Catharina/Divulgação

MAYA GABEIRA, surfista
Surfista de ondas gigantes, ela é a recordista da modalidade entre as mulheres, tendo surfado uma onda de 22,4 metros em Nazaré, em Portugal, em 2020. O feito adquire ainda mais grandeza e dramaticidade pelo fato de Maya ter se acidentado e quase morrido no mesmo local em 2013.

 

 

 

 

ADRIANA VAREJÃO, artista plástica
As flores coloridas estão para a obra de Beatriz Milhazes assim como os azulejos que parecem verter sangue dos trabalhos da carioca Adriana Varejão. O barroco mineiro que a impressionou e marcou sua produção (“Tive uma epifania”, disse à Folha de S.Paulo) aparece nas pinceladas fortes, nas linhas que lembram ao mesmo tempo os capitéis das colunas gregas e os cabelos dos anjos de pedra-sabão. Com um dos pavilhões mais emblemáticos do Instituto Inhotim, de Brumadinho (MG), ela afirmou com sua obra uma arte personalíssima, dir-se-ia mesmo viril, numa trajetória incomum para a sua geração, que parece até hoje, 40 anos depois, um tanto estupefata e perplexa com a redescoberta da pintura e das possibilidades de combinação de tintas coloridas.

 

Maria Bethânia || Crédito: Jorge Bispo/Divulgação

MARIA BETHÂNIA, cantora
Talvez alguns ainda se lembrem que no a.c. (antes do coronavírus) as pessoas se aglomeravam em casas de espetáculo para ver shows. Quem teve oportunidade de assistir a qualquer um da baiana de Santo Amaro certamente viveu uma experiência próxima do místico. O magnetismo hipnotizante da intérprete explica as filas de homens e mulheres à porta do camarim dispostos a prestar qualquer tarefa para a qual tenham a felicidade de ser convocados pela entourage de artista. Seu irmão Caetano concede mais uma live, e Bethânia segue sendo a dominatrix.

 

 

 

TABATA AMARAL, deputada federal
Sexta deputada federal mais votada do Estado de São Paulo nas eleições de 2018, com 264.450 votos, Tabata Amaral foi criada na periferia de São Paulo e possui formação em ciências políticas e astrofísica na Universidade de Harvard. É autora do Projeto de Lei 506/21, em análise na Câmara dos Deputados, que torna crime fazer apologia ao retorno da ditadura militar no país. Sua principal pauta é a melhoria da educação no Brasil.

 

Carol Sandler || Crédito: Gladstone Campos/Divulgação

CAROL SANDLER, fundadora da plataforma Finanças Femininas
Jornalista formada pela PUC-SP e com especialização em economia e relações internacionais no Institut d’Études Politiques de la France, em Paris, Carol fundou a plataforma de educação finaceira Finanças Femininas há nove anos, quando precisou abrir picadas metafóricas para incutir o tema em seu leitorado – não parece, mas 2012 era uma época em que, segundo ela, mulheres não se interessavam por investimentos. A empreendedora gosta de mencionar pesquisa que atrela abusos domésticos a abusos financeiros e por isso vê seu trabalho como uma maneira de fomentar o empoderamento feminino.

 

 

 

 

 

Lygia Fagundes Telles | Crédito: Adriana Vichi/Divulgação

LYGIA FAGUNDES TELLES, escritora
Feminista convicta, foi a terceira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL). As Meninas, de 1973, tornou-se um clássico – e recebeu o Prêmio Jabuti – ao expor a ótica de três garotas em um país sufocado pela repressão política sobre temas como sexo, assédio, casamento, trabalho. “Antes, a mulher era explicada pelo homem, disse a jovem personagem do meu romance. Agora é a própria mulher que se desembrulha, se explica”.

 

 

 

 

 

  • Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica
  • Maria Lucia Cucci, diretora de mídia na TracyLocke Brasil
  • Claudia Cohn, CEO do Alta Excelência Diagnóstica
  • Juliana Azevedo, presidente da P&G no Brasil
  • Cristina Junqueira, fundadora do Nubank
  • Clara Sverner, pianista
Sonia Hess || Crédito: Angela Rezé/Divulgação

SONIA HESS, empresária e vice-presidente do Grupo Mulheres do Brasil
A confecção do casal Duda e Adelina nasceu por acaso, de uma compra excessiva de tecidos, e coube à filha Sonia tempos depois fazer da Dudalina uma das marcas mais bem-sucedidas do Brasil. Não fosse isso, dificilmente teria convencido seus 15 irmãos a vender mais de dois terços da empresa para fundos estrangeiros. Hoje muito ativa no Mulheres do Brasil, ela absorve a inteligência emocional de Luiza Trajano, que Sonia destaca como um dos grandes atributos da parceira.

 

 

 

 

CAROLA MATARAZZO, diretora-executiva do movimento Bem Maior
Iniciativa de pesos-pesados como Elie Horn, Rubens Menin e Luciano Huck, o Movimento Bem Maior tem o objetivo de dobrar o montante hoje destinado à filantropia no Brasil em dez anos. Administradora formada pela Faap, Carola trabalhou a vida inteira no terceiro setor, sempre na tradicional Liga Solidária, de que foi presidente de 2012 a 2018, quando então mudou-se lock, stock and barrels para o MBM.

 

Carmen Silva || Crédito: Divulgação

CARMEN SILVA, líder do MSTC
“Quem não luta tá morto” é uma das frases que a líder do Movimento Sem-Teto do Centro gosta de dizer, e certamente não será por falta de lutas que a ativista irá partir desta para melhor. Aos 60 anos, há 30 em São Paulo, ela se tornou uma das lideranças mais carismáticas (e efetivas) dos vários grupos de moradia que buscam uma condição digna de vida na capital paulista. Figura importante da famosa Ocupação 9 de Julho, ela se candidatou a vereadora do PT em 2020, mas os quase 13 mil votos não foram suficientes para elegê-la

 

 

ELLEN GRACIE, ex-ministra do STF
Causa perplexidade saber que a primeira ministra do STF só tomou posse em dezembro de 2000. Indicada por Fernando Henrique, a carioca Ellen Gracie, que vinha de carreira nos TRFs, acabaria ainda por presidir o Supremo em 2006. Aposentada em 2011, ela curiosamente volta agora, dez anos depois, para trabalhar num núcleo de conciliação criado ano passado por Luiz Fux. A peleja que se avizinha não é simples – a ação em que a Gradiente processa a Apple pelo uso do nome iPhone, registrada pela brasileira sete anos antes do lançamento do aparelho pela empresa californiana.

 

Rosa Weber || Crédito: Rosinei Coutinho/SCO/STF

ROSA WEBER, ministra do STF
Uma das duas ministras mulheres do STF, a porto-alegrense Rosa Weber chegou ao Supremo em 2011, indicada por Dilma Rousseff, substituindo outra mulher, Ellen Gracie. Tendo sido aprovada em primeiro lugar no vestibular da faculdade de direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ela faria sua carreira na magistratura na área do trabalho, no TRT da 4ª região e depois no TST. Em 2019, seu voto no STF sobre a possibilidade de prisão em segunda instância, antes do trânsito em julgado, tema que ganhou relevância por conta da detenção de Lula, foi particularmente aguardado. Ela foi contra esse entendimento, ajudando a formar a maioria apertada de 6×5 que daria o novo respaldo jurídico para a liberdade do ex-presidente.

 

 

NÉLIDA PIÑON, escritora
Umas das mais célebres autoras brasileiras, Nélida coleciona prêmios, homenagens e títulos Doutores Honoris Causas no Brasil e no mundo pela sua vasta produção em 60 anos de carreira literária. Aos 83, lançou no fim do ano passado um romance épico, Um Dia Chegarei a Sagres (Ed. Record) e recebeu o Jabuti por Uma Furtiva Lágrima (Ed. Record), seu livro de crônicas.

 

Carla Lyrio || Crédito: Sargento Johnson Barros/CECOMSAER

CARLA LYRIO, médica e primeira oficial-general da FAB
Desde 1990 na Força Aérea Brasileira, a belorizontina já havia sido a primeira mulher a comandar uma organização militar da esquadra, em 2015, mas no fim do ano passado, ao receber o posto de brigadeiro, tornou-se a primeira oficial-general da história da corporação. Cerca de apenas 9% do efetivo das Forças Armadas é composto por mulheres. No Exército, nenhuma mulher alcançou a patente máxima, de general.

 

 

MAUREEN BISILLIAT, fotógrafa
Filha de uma pintora inglesa com um diplomata argentino, tendo vivido em seis países diferentes na infância e na adolescência, Maureen poderia ter escolhido o lugar que quisesse para viver, mas foi parar na São Paulo dos anos 1950. Mais tarde, na década de 1970, após cursos em Nova York e Paris, ela passou a integrar o elenco estrelar do semanário Realidade. O jornalismo Brasil Grande, um tanto ainda tributário dos tempos dourados de David Nasser/Jean Manzon em O Cruzeiro, permitiu que ela viajasse pelo gigante adormecido (e desconhecido), e se deixasse enamorar pelos índios do Xingu, tema relevante de sua obra. Ano passado, ela foi o centro de uma cinebiografia e de uma exposição no Instituto Moreira Salles. Aos 90 anos, não dá a menor pista de que pretende sossegar.

 

Ingrid Silva || Crédito: Divulgação

INGRID SILVA, bailarina
A carioca tem uma daquelas histórias de vida de enredo de novela pré-adolescente. Filha de mãe doméstica e pai funcionário da Aeronáutica, ela ingressou no balé por conta de um projeto social da Mangueira. Aos 12 anos, chegou a um dos corpos estáveis do Municipal carioca – era a única menina negra – e se encontrou definitivamente na dança clássica. Depois de passagens pelo Corpo e pela companhia de Deborah Colker, ingressou, em 2008, no Dance Theatre of Harlem, em que hoje é a primeira bailarina. Nos Estados Unidos, Ingrid também criou projetos de impacto para jogar luz na questão da desigualdade racial. Sua plataforma EmpowHer NY compartilha histórias de negras e latinas que, apenas em razão de seus nomes característicos, são discriminadas por atendentes do serviço de saúde.

 

  • Dora Cavalcanti Cordani, advogada criminalista, diretora fundadora do Innocence Project Brasil
  • Marly Parra, membro da Comissão de Ética em Governança do IBGC e conselheira no iHub Investimentos XP
  • Maristela Mafei, fundadora do Grupo Máquina PR e empreendedora Endeavor
  • Bia Aydar, publicitária e presidente da Semparar Comunicações
  • Camila Junqueira, Managing Director da Endeavor Brazil
  • Patrícia Villela Marino, presidente no Instituto Humanitas360
  • Renata Campos, presidente da Takeda Brasil

 

Elza Soares || Crédito: Pedro Dimitrow

ELZA SOARES, cantora
A palavra resiliência demoraria ainda muito para deixar o léxico físico-químico, mas Elza Soares já havia nascido dotada dessa qualidade. Aos 12 anos, casou forçada; aos 13, teve seu primeiro filho; aos 15, perdeu o segundo; aos 21, ficou viúva. Quando as coisas pareciam que ficariam melhores, como quando viveu com Garrincha, foi alvo das pedras nada metafóricas da tradicional família brasileira, inconformada com o início clandestino daquele romance. Mas como Elza veio do “planeta fome”, como disse aos 13 anos a Ary Barroso, apresentador do programa de calouros mais famoso do rádio brasileiro dos anos 1940, seria preciso muito mais do que pedras para derrubá-la. Não se sabe, na verdade, o que é capaz de derrubá-la. Na última década lançou um disco por ano, em média. Com tudo isso, a carne negra segue sendo a mais barata do mercado.

 

Paula Paschoal || Crédito: Divulgação

PAULA PASCHOAL, general manager do PayPal Brasil
Num setor que ainda que é proverbialmente dominado pelos homens, o de tecnologia, Paula é uma das vozes mais ouvidas. Não apenas para falar sobre os rumos da nova economia, mas também sobre a nova organização empresarial. A diversidade é preocupação central na PayPal, empresa a que ela chegou por meio de um headhunter depois de ralar em posições pouco glamourosas, como o de recepcionista de hotel. Curiosamente, ela imaginava que o PayPal não iria responder bem ao anúncio de sua gravidez, mas aconteceu o contrário, e ela credita à maternidade o aprimoramento de sua carreira executiva.

 

JACQUELINE PITANGUY, ativista
Socióloga e cientista política, se notabilizou pelo modo como conseguiu avançar com as pautas da mulher na Constituição de 1988, uma época em que a liderança feminina era diminuta no mundo corporativo e mesmo na vida pública. Foi ela a responsável pelo que ficou conhecido como “lobby do batom”, que conseguiu unificar uma estratégia de atuação entre as 26 parlamentares mulheres do Congresso Constituinte e os homens sensíveis àquelas causas. Hoje é coordenadora da Cepia, ONG sem fins lucrativos que luta pelos direitos humanos.

 

Nísia Trindade Lima || Crédito: Divulgação/Fiocruz

NÍSIA TRINDADE LIMA, presidente da Fiocruz
A socióloga entrou involuntariamente no meio da “guerra das vacinas” entre o governo federal e o governador paulista, João Doria, que largou na frente ao vacinar em São Paulo a primeira brasileira com o imunizante “do Butantan”. À Fiocruz, que ela dirige, cabe fabricar e fazer o envase das vacinas da Oxford-AstraZeneca. Nísia esteve no aeroporto durante a chegada das doses e fez um rápido e bonito discurso centrado no valor da ciência. Sua tese de doutorado Um Sertão Chamado Brasil foi considerada a melhor de doutorado em sociologia no Iuperj, instituição em que cursou mestrado e doutorado.

 

 

 

ROSA GRENA KLIASS, paisagista pioneira
O paisagismo mal figurava no cardápio de disciplinas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU-USP, mas a chegada de um professor de Berkeley de origem portuguesa acabou por selar o destino da aluna e futura arquiteta Rosa Kliass. Ela deixou marcas na paisagem de São Paulo, como numa reforma da avenida Paulista e, recentemente, na cara do Parque da Juventude, que emergiu após a demolição do complexo do Carandiru. A escala dos trabalhos de Rosa ao longo das décadas foi crescendo exponencialmente, como o que fez para o Mangal das Garças, de Belém (PA). O nome da paisagista voltou a circular nas recentes obras na icônica Praça do Pôr do Sol, em São Paulo. Com tapumes impedindo o acesso da praça desde o início da pandemia, poucos perceberam que a prefeitura maculava com cercas e grades o lindo projeto concebido por Rosa e Miranda Magnoli, nos anos 1970. Cercar a enorme praça com todos aqueles aclives e declives, eis algo que não fazia qualquer sentido naquela época.

 

Adélia Prado || Crédito: Reprodução/Facebook

ADÉLIA PRADO, escritora e poetisa
A poesia está nas coisas simples, tenta com paciência ensinar homens e mulheres que não tem medo de enxergar o óbvio – e dele tirar seu fazer artístico. A mineira Adélia Prado, que tematizou como poucas a condição feminina e as relações familiares, se inscreve nesse panteão de heróis que se mantêm à margem do noticiário. Filha de ferroviário e dona de casa, Adélia, hoje aos 85 anos, escreveu os primeiros versos aos 15, e não se deixou levar pelas armadilhas do tempo. Temporã, foi ingressando em “suportes” distintos, poesia, romance, conto, à medida que as décadas passavam. Aos 70, debutou na literatura infantojuvenil.

 

BEATRIZ MILHAZES, artista plástica
A carioca segue sendo uma das artistas valorizadas fora do Brasil, ou a mais: depois de bater o recorde de um brasileiro com a milionária tela O Moderno, vendeu uma obra na SP-Arte por US$ 4 milhões em 2016. A cor e os motivos ornamentais dão marca autoral ao trabalho de Beatriz. Com peças no acervo do MoMA, de NY, está em cartaz com sua maior individual em São Paulo, até maio, no Masp e no Itaú Cultural. Um lenitivo coloridíssimo para a simbólica avenida Paulista nestes tristes tempos.

 

Sonia Guajajara || Crédito: Eric Terena/Mídia India

SÔNIA GUAJAJARA, líder indígena
Se mulheres e negros são sub-representados na política, que dizer dos chamados povos originários? Na Câmara, há apenas uma deputada, Joenia Wapichana (Rede-RR). Mas o partido também colocou na linha de frente Sônia Guajajara, que foi candidata a vice-presidente na chapa encabeçada por Guilherme Boulos em 2018. Formada em letras e enfermagem, e tendo sido coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, ela vem atuando na pandemia. Para ela, trata- -se de um “ato de violência” a priorização apenas dos “aldeados”, os indígenas que vivem em aldeias demarcadas, no plano nacional de imunização contra a Covid-19. A liderança diz que isso deixa de fora pelo menos metade dos indígenas.

 

 

 

LAURITA VAZ, ministra do STJ
Coube a esta goiana ser, em 2016, a primeira mulher a presidir o Superior Tribunal de Justiça, corte criada pela Constituição de 1988. Promotora do Ministério Público de Goiás e depois do MPF, chegou a ser subprocuradora-geral da República. No STF participou de julgamentos notáveis, como o que concedeu prisão domiciliar ao médico Roger Abdelmassih e outro que negou HC (habeas corpus) ao ex-presidente Lula.

 

Albertina Duarte || Crédito: Fernando Torres

ALBERTINA DUARTE TAKIUTI, ginecologista e obstetra
Referência no cuidado da saúde feminina, há 40 anos acolhe principalmente jovens mulheres em situação de vulnerabiliade no HC. Chefe do Ambulatório de Ginecologia da adolescência da USP, chegou a ser cotada para o prêmio Nobel da Paz. Em entrevista recente a Revista J.P., disse que, por conta de seu trabalho nem sempre consegue dormir. “Já fiz parto de uma menina de 10 anos. Fiquei horas com ela. Já tinha acolhido menina de 2 anos vítima de abuso, voltei para casa muito mal após operá-la.”

 

 

 

NINA SILVA, fundadora do movimento Black Money
A lógica é simples. Se uma empresa não tem mulheres nem negros em cargos de liderança, não deve servir para receber o dinheiro de mulheres nem de negros. Assim, dessa maneira, Nina Silva, administradora que passou duas décadas entre equipes de TI construindo indicadores de desempenho (os famigerados KPIs), matou dois coelhos com uma caixa d‘água só: fomentou a diversidade nas empresas e fez o dinheiro circular entre os negros. Nina foi considerada uma das 100 personalidades afrodescendentes jovens mais influentes por uma organização parceira da ONU.

 

Patricia Iglesias || Crédito: Divulgação

PATRÍCIA IGLECIAS, CEO da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de SP)
Com atuação destacada na temática de meio ambiente há 30 anos, é a primeira mulher a presidir a mais antiga agência ambiental brasileira. Foi secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e é professora associada na Faculdade de Direito da USP, onde desenvolve linha de pesquisa em direito privado ambiental. Recebeu a premiação Destaque Sustentabilidade – WOCA – em reconhecimento pela sua atuação no programa Cidades do Pacto Global da ON

 

 

 

 

MULHERES DO BRASIL
Criado em 2013 como um movimento suprapartidário pela empresária Luiza Helena Trajano a partir da união de 40 mulheres, o grupo tem como principal objetivo estimular a participação feminina na construção de um país menos desigual. Entre as ações já feitas pela iniciativa, que hoje reúne mais de 70 mil participantes, está a realização de programas de capacitação e sensibilização de empresas para a inserção de refugiados no mercado de trabalho, palestras sobre violência doméstica em canteiros de obras e o Fundo Dona de Mim, com o propósito de oferecer microcrédito produtivo voltado a mulheres microempreendedoras individuais (MEI).