NON-STOP – SELTON MELLO

Selton Mello é do tipo que emenda um projeto no outro. Também é chocoholic confesso e conta que a sobremesa é a primeira coisa que olha no cardápio

Por Márcia Rocha e Camila Boni
Fotos Maurício Nahas

Para Selton Mello, O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, é o nosso Cidadão Kane [um dos filmes mais conhecidos de Orson Welles]. Entre seus personagens favoritos estão, nesta ordem: Chicó, de O Auto da Compadecida, João Estrella, de Meu Nome Não É Johnny, e Leléu, de Lisbela e o Prisioneiro. Selton Figueiredo Melo é assim mesmo: cheio de opinião. “Meu sobrenome saiu escrito errado na primeira novela que fiz, aos 8 anos, e achei bonito. Mesmo criança já tinha noção estética e percepção de que aquele “l” a mais faria alguma diferença”, explica ele, que já atuou em mais de 30 filmes. Um deles, O Palhaço, no qual se desdobrou como diretor e ator, representou o Brasil no Oscar, em 2012. “O trabalho é minha vida. Ali, eu coloco tudo que penso, sonho e desejo.” Entre suas principais referências estão Paulo José, Clint Eastwood, Sean Penn e Woody Allen. “Ele se desafiam o tempo todo”, afirma Selton que, aos 44 anos, também é cineasta, diretor, produtor e dublador. Além disso, toca violão, guitarra, baixo e bateria. Tem como fazer mais alguma coisa? Tem. Vamos à lista: em parceria com a produtora Moonshot Pictures, dirigiu a série Sessão de Terapia, exibida pelo canal GNT. Entusiasta da psicanálise (faz terapia há mais de dez anos), quis apresentar ao público uma obra que comovesse e desmistificasse a profissão de um psicanalista.

Mês passado, Selton estreou em Soundtrack com Ralph Ineson, de Game of Thrones, como parceiro de cena – interpretando em inglês, of course. Seu terceiro longa, O Filme da Minha Vida, é baseado no romance Um Pai de Cinema, do chileno Antonio Skármeta, de quem recebeu carta branca para transformar o livro em filme. Claro que não conseguiu ficar apenas atrás das câmeras e deu vida a Paco, um dos personagens. “Em tempos tão sombrios, esse projeto exalta o lado bendito da vida. Sempre espero que o público se transforme e que saia diferente da sala escura”. Por se tratar de uma história de família, dedicou o trabalho aos pais, Selva Aretusa Figueiredo de Melo e Dalton Natal Melo. 

“A ESTRUTURA DO PODER É ALGO TÃO MISTERIOSO, VIOLENTO E DIFÍCIL DE COMPREENDER QUANTO UM MISTÉRIO POLICIAL. HOJE, VIVEMOS UMA MISTURA DE REALISMO E SURREALISMO. E NÃO É SÓ NO BRASIL”

Atualmente, está filmando O Mecanismo, nova série de José Padilha para o Netflix sobre corrupção no Brasil, que estreia ano que vem. Na galeria de personagens que ainda gostaria de fazer está Simão Bacamarte, de O Alienista, conto de Machado de Assis. E ele já deu um jeito de fazer o projeto sair do papel. Questionado sobre a atual conjuntura política e econômica do país, Selton apresenta sua tese: “A estrutura do poder é algo tão misterioso, violento e difícil de compreender quanto um mistério policial. Dentro de qualquer organização sempre existem aqueles que sabem quase tudo e os encarregados de controlar quem sabe tudo. H0je, vivemos uma mistura de realismo e surrealismo – e não é só no Brasil”. Em seu perfil no Instagram, ele se declara Capricorniano com ascendente em Virgem e lua regida por Isaac Karabtchevsky. Conta que faz jus à descrição desses dois signos de Terra: é focado, perfeccionista, metódico e ambicioso. Por outro lado, também se diz sensível. Quando o assunto é dinheiro, porém, a objetividade volta e ele garante que faz questão de cuidar pessoalmente de seu patrimônio e que nunca quis ficar rico. “Não tenho carro, ganhei o suficiente para comprar uma casa, um conforto para meus pais, e para escolher o que fazer. Não faço nenhum trabalho por dinheiro”. 

 

Assistentes de fotografia: Caio Toledo e Charles Willy

* Matéria publicada em agosto de 2017