O domingo começou com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o terceiro chefe da pasta em dois anos e dois meses de presidência Bolsonaro, fora do governo.
Se demissionário ou demitido, parecia pouco importar. Os principais jornais do país sustentaram a saída do general do ministério e noticiaram ao longo da tarde uma conversa do presidente com a cardiologista Ludhmila Hajjar, cotada para seu lugar.
Ao mesmo tempo, uma sequência de tuítes do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dava insólito aval para a médica. “Coloquei os atributos necessários p/ o bom desempenho à frente da pandemia: capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas. São exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila”, escreveu.
Diante disso, cabe perguntar: Lira troca ministro?
Eventualmente, sim.
“Não é uma coisa impensável, houve momentos de pressão do Congresso para mudanças no Executivo. A grande surpresa é o presidente Jair Bolsonaro deixar que os parlamentares pressionem o governo”, aponta o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília Carlos Moura.
Desde a abertura de diálogo entre o palácio do Planalto e o Centrão, o governo se vê como credor das eleições para a presidência das Casas legislativas. Mas a recíproca é verdadeira: a de que aliados do presidente no comando do Congresso garantem, em última análise, a existência do governo Bolsonaro.
“Esse jogo vai permanecer até que alguém coloque o pé na porta”, analisa o cientista político Henrique Silvestre, da HC7 Consultoria.
O clima em Brasília é de instabilidade. A queda de um ministro, especialmente por determinação do Congresso, é algo que ainda não se viu sob Bolsonaro. No Planalto, assessores dizem que o presida não deverá ter paciência para negociar uma forma amena de segurar Pazuello.
Embora o ministro tenha dado sinais de cansaço, desmentiu publicamente a informação de que pretende deixar o cargo por questões pessoais. Disse que não está doente e que não pretende pedir baixa.
É sabido na Esplanada dos Ministérios, contudo, que o general não vê a hora de “cumprir sua missão” e sair do governo.
Atualização das 14h45: após reunir-se uma segunda vez com Jair Bolsonaro, desta vez no Planalto, na manhã desta segunda (15), a cardiologista Ludhmila recusou o convite. Não faltaram, desde que seu nome veio à tona no domingo (14) à tarde, os tradicionais ataques de reputação feitos pelo bolsonarismo-raiz.