Homens com parâmetros anormais de espermatozoides contam com uma microbiota alterada, que cria um ambiente pró-inflamatório, dificultando a locomoção dos espermatozoides.
Destaques do estudo:
- Este é o primeiro estudo a relatar uma associação negativa entre o micróbio e a fertilidade do fator masculino.
- Especificamente, um microrganismo é associado à produção de ácido L-láctico, potencialmente levando a um ambiente pró-inflamatório no local, o que poderia afetar adversamente a motilidade dos espermatozoides.
- Quando a motilidade é afetada, isso significa que o espermatozoide tem pior capacidade de locomoção, o que dificulta a fecundação.
Nos últimos anos, os estudos científicos têm relacionado a qualidade da microbiota intestinal com diversas características e doenças no ser humano. Mas não é somente o intestino que conta com um conjunto de microrganismos benéficos: a pele, por exemplo, também tem sua rede de defensores. Agora, um estudo novo, publicado em janeiro na Nature, mostrou que o microbioma do sêmen também pode ter relação com a infertilidade masculina.
“A microbiota do sêmen pode desempenhar um papel crucial na influência dos parâmetros do esperma e no aumento da fertilidade masculina. Explorar as funções destes microrganismos no sêmen poderia potencialmente abrir caminho para o desenvolvimento de tratamentos destinados a corrigir quaisquer problemas com os parâmetros do esperma”, explica o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. O estudo é do Departamento de Urologia da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos.
“A infertilidade por fator masculino é comum, correspondendo a 50% dos casos (em 20% é exclusivamente do homem e em 30% é feminino e masculino ao mesmo tempo)”, explica.
O estudo descobriu que um micróbio em particular, o Lactobacillus iners, pode ter um impacto negativo direto na fertilidade masculina. “Por meio da análise do sêmen, os pesquisadores mostraram que os homens com mais deste micróbio eram mais propensos a ter problemas com a motilidade dos espermatozoides. A motilidade é um termo que se refere à capacidade de locomoção. Uma boa motilidade, em espermatozoides, é fundamental para que essa célula encontre e fecunde o óvulo”, explica o médico.
O médico conta que pesquisas anteriores revelaram que os Lactobacillus iners podem produzir preferencialmente ácido L-láctico, potencialmente levando a um ambiente pró-inflamatório no local, o que poderia afetar adversamente a motilidade dos espermatozoides. “Os autores do estudo salientam que a investigação existente sugeriu a ligação entre este micróbio e a fertilidade, mas a maior parte da literatura refere-se ao microbioma vaginal e aos fatores femininos. Este é o primeiro estudo a relatar uma associação negativa entre o micróbio e a fertilidade do fator masculino”, diz o médico.
Os pesquisadores também descobriram que três tipos de bactérias do grupo Pseudomonas estavam presentes em pacientes com concentrações de espermatozoides normais e anormais. Micróbios chamados Pseudomonas fluorescens e Pseudomonas stutzeri eram mais comuns em pacientes com concentrações anormais de espermatozoides, enquanto Pseudomonas putida era menos comum em amostras com concentrações anormais de espermatozoides. No entanto, os resultados indicam que nem todos os membros do mesmo grupo estreitamente relacionado podem afetar a fertilidade da mesma forma, seja positiva ou negativamente.
“Por outras palavras, mesmo micróbios estreitamente relacionados podem nem sempre ter a mesma correlação direta com a fertilidade”, explica o médico.
“Há muito mais para explorar em relação ao microbioma e a sua ligação com a infertilidade masculina. No entanto, estas descobertas fornecem informações valiosas que podem nos levar na direção certa para uma compreensão mais profunda desta correlação”, diz o especialista. “A pesquisa se alinha com evidências de estudos menores e abrirá caminho para futuras investigações mais abrangentes para desvendar a complexa relação entre o microbioma do sêmen e fertilidade”, finaliza o Dr. Fernando.
FONTE: Dr. Fernando Prado: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE).
Instagram: @neovita.br
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