Por Bernardo Bittar, de Brasília
Prefeito eleito do Recife, João Campos (PSB) está invicto. Levou todas as eleições que disputou até hoje. Elegeu-se deputado federal aos 25 anos com a maior votação da história de Pernambuco e, aos 27, é o prefeito mais jovem a administrar o Recife.
João é também o prefeito mais jovem da safra dos vencedores de 2020.
À suposta inexperiência, ele rebate com a história familiar: João é herdeiro de um dos mais tradicionais clãs políticos brasileiros e mistura duas grandes marcas em sua história.
O prefeito eleito é filho do ex-governador e ex-ministro de Lula Eduardo Campos, que morreu num acidente aéreo durante sua campanha para a presidência da República, em 2014; e bisneto de Miguel Arraes, uma das grandes lideranças oposicionistas nos anos 1960, que também governou Pernambuco – de quem João herdou o trejeito de levantar as mãos durante os discursos.
Tratado como uma opção mais moderada no campo da esquerda, venceu a prima, Marília Arraes (PT), após uma das campanhas mais acirradas do segundo turno – e a proximidade familiar não poupou os adversários dos ataques abaixo da cintura.
A pedido de PODER Online, o prefeito eleito faz um panorama das eleições e antecipa as principais medidas de seu mandato, que começa em janeiro.
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PODER Online – Como avalia o desempenho dos partidos de centro-esquerda nas eleições? Acredita que eleitores evitaram candidatos menos moderados, como Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (Psol)?
João Campos – Acredito que a polarização excessiva não é o caminho. Então, nas urnas, o povo brasileiro fez escolhas evitando candidatos com discurso mais radical. Aqui, no Nordeste, por exemplo, a centro-esquerda está bem representada com vitórias do PSB e do PDT no Recife, em Fortaleza, Maceió e Aracaju. Quanto ao nosso perfil, não somos moderados. Somos candidatos com lado, posicionamentos claros e foco no social, mas, ainda assim, buscamos o diálogo e a unidade para garantir que as transformações tão desejadas de fato ocorram nos próximos anos.
PODER Online – A visita de Ciro Gomes e o apoio público que lhe deu indicam uma aliança com o PDT em 2022? Você apoiaria Ciro nas próximas eleições presidenciais?
JC – Nós olhamos, sim, com simpatia, para as postulações do nosso campo, o da centro-esquerda, incluindo a do companheiro Ciro Gomes, um quadro qualificado e que estuda o Brasil e seus desafios há anos. O bloco composto pelo PSB, PDT, REDE e PV mostrou que é possível alinhar objetivos em torno de uma aliança que vise o melhor para o povo brasileiro.
PODER Online – Quais os principais projetos para Recife no primeiro ano de gestão? Teremos Carnaval?
JC – Iniciamos a transição de governo e pautamos o nosso trabalho para os próximos noventa dias, a partir de janeiro. Sobre os Carnaval, vamos ouvir as autoridades sanitárias e conversar com todo os segmentos envolvidos no maior evento cultural da nossa cidade. Só assim, embasados pela ciência, tomaremos a nossa decisão. Por outro lado, temos a meta de fazer o Recife largar na frente na retomada econômica. Para tanto, vamos lançar o Crédito Popular do Recife, garantindo até R$ 3 mil em empréstimos para cerca de 10 mil recifenses ao ano. Outras iniciativas, como a implantação da Invest in Recife, agência de fomento para a atração de investidores, e o Desenvolve Recife, também devem potencializar a geração de emprego e renda na capital. Essas são entregas que visam combater a desigualdade social, que é a maior chaga do Brasil e que também atinge o Recife. Nesse caso, educar é o caminho prioritário para emancipar as pessoas e assegurar crescimento com mais equidade. A nossa proposta é duplicar o número de vagas em creches, alfabetizar na idade certa (até os 7 anos de idade) e qualificar os jovens através do Embarque Digital, programa que preparará para as demandas do setor de tecnologia da informação.