O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS (UNAIDS) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) lançam nesta terça-feira (17), Dia Internacional contra a LGBTfobia, um ensaio fotográfico feito pelo premiado fotógrafo americano Sean Black com 24 travestis e mulheres trans de São Paulo. O ensaio é parte do Projeto Fresh, lançado em 2021 pelo UNAIDS, em parceria com a Casa Florescer, reconhecido centro de acolhimento de travestis e mulheres trans.
“Em nossas vidas são tantas coisas ruins que a gente passa e minha foto do ensaio me dá a certeza de que sou capaz de muitas coisas”, diz Sasha Santos, uma das mulheres trans participantes do Fresh, sobre a emoção quando viu o resultado do seu ensaio fotográfico. “Acho que isso é o essencial para a nossa vida: a gente se amar. O meu sonho, agora, é fazer a minha faculdade, ter minha própria casa e ter meus dois filhos. Esse é o meu sonho.”
A história de vida de cada uma das mulheres participantes reflete o impacto das desigualdades, do estigma e da discriminação, que forçaram algumas delas a sair de casa contra a vontade, a recorrer a serviços sexuais para se manter, a não conseguir empregos estáveis, a fazer uso de drogas ou sofrer diversos tipos de violências. Ao buscar acolhimento na Casa Florescer, estas mulheres iniciam um ciclo de autodescoberta e empoderamento, construindo uma trajetória que as levem a sair das situações de vulnerabilidade em que se encontravam e a fazer frente ao estigma e discriminação.
“Foi incrível perceber, ao longo do projeto, como várias das mulheres que tinham uma opinião muito negativa sobre si mesmas, refletindo o estigma que sofrem da sociedade, foram se descobrindo como as pessoas lindas e únicas que são e entendendo como é fundamental cuidar de si mesmas”, conta o fotógrafo Sean Black, especializado no registro da população LGBTQIA+. “As fotografias revelam a essência de cada uma delas e como são pessoas que sonham e querem ser felizes, como todo mundo.”
Em 17 de maio é celebrado o Dia Internacional contra a LGBTFobia. A data surge como referência à decisão da OMS que, em 1990, deixou de considerar a homossexualidade como uma doença.
O estigma, o preconceito e a discriminação tornam o Brasil um dos países mais perigosos para a população LGBTQIA+. Relatório do Grupo Gay da Bahia, que reúne dados públicos de todo o país, mostra que 300 pessoas LGBTQIA+ sofreram morte violenta no Brasil em 2021, 8% a mais do que no ano anterior.
Mas dentro dessa população, existe um grupo que sofre mais intensamente os efeitos do estigma e da discriminação, reforçados pela desigualdade social: são as travestis e mulheres trans. No mundo, elas têm o risco de infecção pelo HIV 12 vezes maior do que em relação à média verificada entre pessoas com vida sexualmente ativa. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam uma prevalência do HIV superior a 30% entre travestis e mulheres trans, enquanto na população em geral esta prevalência é de 0,4%.
O Brasil é, pelo 13º ano consecutivo, o país onde mais pessoas trans foram assassinadas. Relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) indica que em 2021 foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no país, a grande maioria (135) tiveram como vítimas travestis e mulheres transexuais e cinco vitimaram homens trans e pessoas transmasculinas.
O ensaio fotográfico completo de Sean Black estará disponível no site do UNAIDS.