Lipedema: falta de conhecimento ainda é um desafio no diagnóstico e tratamento da doença

Apesar de não ser raro, o lipedema ainda é pouco conhecido, levando à falta de diagnóstico ou a diagnósticos incorretos, o que atrasa o início do tratamento e aumenta a progressão da doença.

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Caracterizado pelo acúmulo de tecido adiposo nas pernas, o lipedema não é uma doença rara, afetando 12,3% das mulheres brasileiras. Ainda assim, a condição é pouco conhecida, tanto por pacientes quanto por médicos. “Isso leva à falta de diagnóstico ou a diagnósticos incorretos, o que atrasa o início do tratamento, aumenta a progressão da doença e, consequentemente, faz com que a paciente sofra física e emocionalmente”, explica a Dra. Heloise Manfrim, cirurgiã plástica, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e da Associação Brasileira de Lipedema (ABL).

“O agravamento do quadro pode levar a dificuldades de locomoção, linfedema, disfunções circulatórias e até problemas ortopédicos”, alerta a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

Segundo a Dra. Aline, devido à falta de informação, a paciente com lipedema frequentemente passa a vida como uma ‘falsa magra’, ou seja, magra da cintura para cima, mas com pernas grossas. “A mulher acredita que esse é o padrão de corpo familiar, já que o lipedema pode afetar várias mulheres da família, então não pensa que pode ser um problema. A crença de que se trata de celulite, obesidade ou retenção de líquido é outro fator que contribui para a demora na busca por auxílio médico”, acrescenta a especialista.

Dra Aline Lamaita

Mesmo quando procuram um médico, não é incomum que se deparem com um diagnóstico incorreto, pois muitos profissionais ainda não consideram a doença como uma possibilidade, classificando-a como obesidade. “Além das complicações, um diagnóstico inadequado pode causar frustração à paciente, pois, além de ser uma condição crônica, o lipedema se caracteriza pelo acúmulo de uma gordura doente, que geralmente não responde a mudanças de hábitos, como dieta e prática de atividades físicas, normalmente recomendadas em casos de obesidade”, alerta a cirurgiã vascular.

Portanto, é essencial estar atenta aos sinais do lipedema e, ao identificá-los, procurar um médico. “Os sintomas da doença incluem: aumento simétrico do tamanho dos membros, principalmente das pernas e quadris (embora também possa afetar os braços); dificuldade em perder peso, especialmente na parte inferior do corpo; dor ao toque; aumento da frequência de hematomas espontâneos e maior tendência ao acúmulo de líquidos”, explica a Dra. Aline Lamaita, que recomenda que as pacientes busquem uma segunda opinião médica caso suspeitem da condição.

“Hoje já existem algumas diretrizes que auxiliam no diagnóstico, mas, por ser uma doença de tratamento multidisciplinar, é necessário que o médico estude o problema e compreenda as várias áreas envolvidas para direcionar as pacientes de forma adequada”, acrescenta a médica.

Tratamento e controle da doença

De acordo com a Dra. Heloise Manfrim, o tratamento do lipedema envolve, além do cirurgião plástico, profissionais como endocrinologistas, nutricionistas e cirurgiões vasculares. “Apesar de estar relacionada a fatores hereditários e hormonais, a doença ainda não tem uma causa definida e, portanto, não tem cura. No entanto, é possível aliviar os sintomas e controlar sua evolução para evitar complicações. Sabemos que o tratamento cirúrgico pode ajudar, mas ele deve sempre estar associado ao tratamento clínico conservador, que se baseia em quatro pilares: dieta anti-inflamatória, atividade física específica para lipedema, terapia física complexa e protocolos medicamentosos específicos para a doença”, explica a cirurgiã plástica, que é autora do livro Lipedema: uma abordagem além da superfície.

A Dra. Heloise destaca que a lipoaspiração tem ganhado espaço como forma de impedir a progressão da doença. “A cirurgia só é indicada quando a paciente já passou por tratamento clínico por mais de seis meses sem apresentar melhora ou quando a queixa estética é mais relevante do que a funcional”, diz a médica, explicando que a lipoaspiração pode ser especialmente útil para aliviar as dores causadas pelo lipedema.

“Além disso, a cirurgia também reduz a largura dos membros afetados. A técnica utilizada varia de acordo com cada caso. Por exemplo, quando a retirada da gordura tem altas chances de resultar em flacidez, podemos recorrer à lipoaspiração com plasma, que aquece e provoca uma retração na pele, reduzindo a flacidez do tecido”, completa a especialista.

Segundo a Dra. Heloise, os resultados da lipoaspiração no tratamento do lipedema são satisfatórios e duradouros. No entanto, mesmo após a remoção da maior parte da gordura, pode restar uma pequena quantidade de células adiposas doentes que ainda possuem a capacidade de acumular gordura.

“Portanto, embora a lipoaspiração traga bons resultados e o emagrecimento natural tenha pouco impacto nas áreas afetadas pelo lipedema, a adoção de um estilo de vida saudável é fundamental para potencializar os efeitos do procedimento e evitar que a doença evolua novamente”, explica a cirurgiã plástica.

Dra Heloise

“Antes e após a lipoaspiração, é essencial incluir bons hábitos na rotina, como praticar exercícios físicos regularmente, ingerir pelo menos dois litros de água por dia e manter uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e verduras, evitando alimentos processados e ricos em gordura, sódio e açúcar”, aconselha a especialista.

A médica acrescenta que o lipedema é uma característica constitucional que pode ser modificada com atividade física, alimentação adequada, medicação e, em alguns casos, o uso de meias de compressão. “Além disso, é essencial tratar outras patologias associadas, como varizes e pressão alta, para evitar complicações”, reforça.

Por fim, a cirurgiã plástica ressalta que a lipoaspiração não é a primeira opção de tratamento para o lipedema, sendo recomendada apenas para casos mais graves ou quando abordagens conservadoras, como terapias de compressão e massagem, não apresentam sucesso.

“Além disso, o lipedema é de difícil diagnóstico e frequentemente confundido com obesidade, pois não existem exames específicos para identificá-lo. Cabe ao médico, durante a consulta, diagnosticar corretamente a doença por meio dos sinais clínicos, recomendando o tratamento mais adequado para cada caso”, finaliza a Dra. Heloise Manfrim.

Fontes:

DRA. HELOISE MANFRIM: Cirurgiã plástica membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), da Associação Brasileira de Cirurgia Plástica (BAPS) e da Associação Brasileira de Lipedema (ABL). Graduada em Medicina pela Universidade de Marília (Unimar) com título de especialista em Cirurgia Plástica pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, é embaixadora da Cirurgia Plástica Funcional. Autora dos livros “O Norte” e “Lipedema: uma abordagem além da superfície”, também é CEO da Clínica Dall’Ago & Manfrim, em Maringá, e fundadora e CEO do CELIP (Centro Especializado em Tratamento de Lipedema). CRMPR 35938 | RQE 20592 | Instagram: @plasticaetal

*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018) e pós-graduação em Medicina Integrativa e Longevidade saudável. A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular