Meta anuncia fim de programa de checagem de fatos e busca maior liberdade de expressão

Por Agenor Duque

Em uma decisão que promete causar repercussão global, a Meta, empresa controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciou nesta terça-feira (7) que encerrará o programa de checagem de fatos nos Estados Unidos, substituindo-o pelo sistema de “notas da comunidade”. O novo modelo será similar ao adotado pelo X (antigo Twitter), no qual os próprios usuários poderão adicionar contextos e esclarecer informações sobre postagens consideradas imprecisas.

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, justificou a mudança afirmando que é hora de retornar às “raízes da liberdade de expressão” e criticou o atual sistema de moderação como excessivamente parcial. Segundo ele, os verificadores de fatos se mostraram enviesados politicamente e acabaram minando a confiança dos usuários ao invés de construí-la. “Chegou a um ponto em que há muitos erros e muita censura. Precisamos mudar esse cenário”, disse Zuckerberg em um vídeo publicado no blog oficial da empresa.

Essa mudança radical ocorre em meio à reaproximação de Zuckerberg com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Em um gesto que reforça essa nova aliança, a Meta doou US$ 1 milhão (cerca de R$ 6,1 milhões) para o fundo de posse de Trump, que assumirá a presidência em 20 de janeiro. Além disso, Dana White, presidente do UFC e um dos principais apoiadores de Trump, foi nomeado como novo membro do conselho administrativo da companhia, juntamente com Charlie Songhurst, ex-executivo da Microsoft, e John Elkann, CEO da Exor.

A decisão de encerrar a parceria com verificadores independentes foi criticada por grupos que defendem a segurança online. A organização britânica Full Fact lamentou a decisão, considerando-a um retrocesso que poderá impactar a segurança e a qualidade da informação nas redes sociais. Ian Russell, da fundação Molly Rose, expressou preocupação com as consequências da medida, especialmente para crianças e jovens.

A estratégia de Zuckerberg também inclui enfrentar o que ele chamou de “tribunais secretos” na América Latina. Em seu discurso, ele afirmou que esses tribunais têm atuado para impor censura de forma velada, exigindo a retirada de conteúdos sem transparência. “Precisamos do apoio do governo dos Estados Unidos para resistir a essa tendência global de censura. Nos últimos anos, até mesmo o próprio governo americano pressionou empresas como a nossa a censurar conteúdos, o que encorajou outros governos a seguirem o mesmo caminho”, disse o CEO da Meta.

A medida também inclui a remoção de restrições em temas considerados polêmicos, como imigração e identidade de gênero. Joel Kaplan, atual chefe de políticas da Meta, ressaltou que o objetivo é criar um espaço mais aberto para o debate. “Antes, os filtros escaneavam qualquer violação de política. Agora, focaremos apenas em conteúdos que violem leis ou que representem riscos graves. Para outras violações, dependeremos de relatos dos próprios usuários.”

Analistas destacam que essa mudança representa uma tendência de realinhamento das grandes plataformas de tecnologia em relação à moderação de conteúdo. Kate Klonick, professora associada da Faculdade de Direito da Universidade de St John, afirmou que a decisão da Meta reflete uma “mudança inevitável”, influenciada pelo modelo adotado por Elon Musk no X. “Nos últimos anos, as plataformas enfrentaram pressões para garantir segurança e confiabilidade, mas agora vemos um movimento claro em direção contrária, priorizando a liberdade de expressão em detrimento de outros aspectos.”

Zuckerberg anunciou aproximação estratégica com o presidente eleito Donald Trump, buscando apoio para enfrentar o que chamou de “tribunais secretos” na América Latina e a crescente regulamentação europeia que ameaça a inovação. A parceria com Trump se estende também à inclusão de novos membros no conselho da Meta, como Dana White, CEO do UFC e apoiador de longa data do presidente republicano. Com essa medida, Zuckerberg reforça seu alinhamento com lideranças que defendem uma postura mais liberal em relação à moderação de conteúdo.

No Brasil, o governo Lula reagiu com preocupação à mudança, interpretando as declarações de Zuckerberg sobre “tribunais secretos” como uma referência velada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e criticou o posicionamento de Zuckerberg, o que não passou despercebido. O ministro Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews, destacou que a remoção dos filtros de veracidade poderá aumentar a influência de grupos extremistas. 

Em um contexto de crescente preocupação com a liberdade de expressão no país, a reação de Brasília foi vista por muitos como mais um sinal de autoritarismo. Nos últimos meses, o governo Lula tem adotado medidas que restringem a liberdade de imprensa e de opinião, alinhando-se a práticas de controle típicas de regimes totalitários. 

Ao interpretar as declarações de Zuckerberg como uma afronta ao STF, o governo demonstra sua sensibilidade diante de qualquer questionamento público e reforça a percepção de que há uma tentativa em curso de censurar vozes divergentes. Esse clima de censura e repressão gerado pelo governo brasileiro levanta questionamentos sobre os reais interesses por trás das críticas à Meta. Enquanto muitos países buscam equilibrar liberdade de expressão com segurança digital, a resposta brasileira sugere uma inclinação maior ao controle absoluto do discurso nas redes, postura que não apenas isola o Brasil de um debate global sobre inovação tecnológica e direitos civis, mas também mina a credibilidade das instituições democráticas, abrindo espaço para mais polarização e desconfiança por parte da população.

Em tempos quando as gigantes da tecnologia buscam redefinir seus papéis na sociedade, o embate entre Meta e governos ao redor do mundo, promete ser longo e conturbado. Resta saber se a nova abordagem de Zuckerberg conseguirá se impor como um modelo viável para garantir tanto a liberdade de expressão quanto a segurança online.