Anvisa revoga proibição geral aos implantes hormonais; decisão preserva autonomia de médicos e pacientes

Em nova resolução, Anvisa volta atrás na suspensão generalizada dos implantes hormonais, reiterando o uso desses tratamentos como uma exceção que, quando devidamente indicada, melhora qualidade de vida e saúde dos pacientes.

foto Reprodução Internet

Na quinta-feira (21), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nova resolução a respeito dos implantes hormonais. No documento, a agência reguladora voltou atrás na decisão tomada anteriormente de proibir, de maneira generalizada, a comercialização, manipulação, propaganda e uso dos implantes hormonais, independentemente da finalidade. Na nova resolução, mantém-se a proibição da prescrição e uso desses implantes para fins estéticos, ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo, mas é permitido que sejam usados em casos específicos, por exemplo, em tratamentos ginecológicos e para homens com deficiência de testosterona comprovada. “A revogação reitera o que nós especialistas sempre defendemos: o uso dos implantes hormonais é de exceção. É para alguns pacientes selecionados que preferem, escolhem ou precisam dessa via de tratamento. É uma opção de tratamento. É algo que eu sempre defendi”, diz o ginecologista Dr. Igor Padovesi, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS).

O Dr. Igor ressalta que o problema nunca foi os implantes hormonais, mas sim quem os prescreve. “A preocupação das sociedades médicas em relação ao uso comercial e abuso dos implantes hormonais. Hoje existe, realmente, um uso excessivo e abusivo desses hormônios no Brasil. Farmácias magistrais estão produzindo implantes sem nenhuma regulação e com alto viés comercial, utilizando substância sem evidências para finalidades estéticas”, diz o médico, que ressalta, no entanto, que a suspensão generalizada dos implantes hormonais manipulados não é o caminho adequado para resolver a situação, o que pode, inclusive, prejudicar pacientes que realmente se beneficiam desse tipo de tratamento, quando devidamente indicado. “O problema não está nos implantes hormonais, afinal, a prescrição indiscriminada e o mau uso não se restringem a eles. É algo que é verdade para várias coisas na medicina atualmente. Por exemplo, estamos vivendo uma febre do uso de medicamentos injetáveis, como o famoso Ozempic. E mesmo com a proibição dos implantes hormônios, a tendência é que, quem pratica esse mau uso, continue a fazê-lo por outras vias”, destaca;

O médico pontua que um dos principais problemas que motivou a proibição original foi o uso inadequado de outras substâncias na forma de implante com viés muito comercial, como ocitocina, NADH, oxandrolona, que não são adequadas nessa forma. “A utilização clássica dos implantes hormonais é para administração de hormônios como testosterona, estradiol e gestrinona para o tratamento de mulheres na menopausa, homens com deficiência de testosterona e certas doenças ginecológicas. Porém, recentemente, houve uma expansão do uso desses implantes, inclusive para outras finalidades que não o tratamento de doenças, como emagrecimento e ganho de massa muscular. Farmácias de manipulação começaram a produzir todo tipo de medicamento na forma de implantes, sem um embasamento científico. E, assim como em qualquer área, existem profissionais que não são éticos. Então, por ser um procedimento potencialmente lucrativo, muitos profissionais começaram a prescrever tais implantes mesmo quando não há indicação”, afirma o médico.

A nova resolução publicada pela ANVISA confirma a falta de cabimento na proibição generalizada do uso dos implantes publicada anteriormente e, além disso, preserva a autonomia do paciente e do médico que, sabendo de todas as questões que envolvem os implantes hormonais, podem escolher essa via em uma decisão compartilhada. “Esses implantes hormonais de estradiol, gestrinona e testosterona são opções de tratamento para problemas ginecológicos e homens com deficiência de testosterona comprovada. O implante é apenas uma via de administração desses hormônios cujo uso só tem aumentado no mundo todo e existem evidências que comprovam sua eficácia”, diz o Dr. Igor Padovesi.

A revogação também reforça, mais uma vez, a necessidade de regulação adequada dos implantes hormonais, com criação de protocolos de tratamento, além da conscientização da população sobre esse tema. “Esse é um assunto complexo que precisa ser discutido de maneira mais ampla, envolvendo também o Conselho Federal de Medicina, uma consulta pública a sociedade, uma análise mais profunda dos dados disponíveis e uma regularização adequada, em vez de uma proibição generalizada com base em opiniões enviesadas de um tratamento eficaz utilizado há décadas em todo o mundo. É preciso também investir em mais pesquisas sobre o assunto. Infelizmente, muitos pesquisadores têm receio de se aprofundarem no assunto para não se indisporem com as sociedades médicas”, pontua o especialista.

Por fim, o Dr. Igor Padovesi reforça que os implantes hormonais podem ser usados de forma séria, ética e responsável como uma opção de tratamento nos casos adequados. “Os implantes são apenas uma via de tratamento e o problema está em quem os prescreve. Quando devidamente indicados e acompanhados por um profissional sério, que inclusive deve informar ao paciente sobre as polêmicas e posicionamento das sociedades sobre o tema, os implantes hormonais são capazes de melhorar a qualidade de vida e a saúde de uma série de pacientes”, finaliza.

FONTE: *DR. IGOR PADOVESI: Médico Ginecologista, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS). Formado e pós-graduado pela USP, onde foi preceptor da Disciplina de Ginecologia, é ex-instrutor dos cursos de pós-graduação e outros cursos da área de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Albert Einstein e membro do corpo clínico do mesmo hospital. Associado à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) da qual fez parte da Diretoria de Comunicação Digital (2016-2019). Também é membro sênior da European Society of Aesthetic Gynecology (ESAG) e doutorando com projeto na área de cirurgias íntimas. Em 2024, conquistou o prêmio internacional com o 1º lugar no Congresso Mundial de Ginecologia Estética na Colômbia, com trabalhos científicos sobre ninfoplastias. Instagram: @dr.igorpadovesi