O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (6) para avaliar a economia e decidir a próxima taxa básica de juros, a Selic. Analistas do mercado financeiro esperam uma elevação de 0,5 ponto percentual, o que faria a Selic passar de 10,75% para 11,25% ao ano. Esse seria o segundo aumento consecutivo, representando uma das medidas mais fortes desde 2022. O objetivo central dessa decisão é conter a inflação, que se mostra elevada devido à valorização do dólar e ao aumento nos preços globais de insumos.
A cotação do dólar chegou a R$ 5,78 esta semana, acumulando uma valorização de 19,2% em 2024. Esse cenário pressiona a inflação, pois insumos e produtos importados ficam mais caros, impactando diretamente os preços internos. O Banco Central entende que a elevação da Selic pode trazer estabilidade e conter a demanda interna, contribuindo para reduzir a inflação nos próximos meses.
Fatores externos e domésticos
A situação econômica é agravada por fatores internos e externos. Nos Estados Unidos, as eleições geraram incertezas no mercado financeiro global. Uma possível vitória de Donald Trump aumentaria as políticas protecionistas americanas, reduzindo o comércio internacional e restringindo o ingresso de dólares em países emergentes, como o Brasil. Essa situação contribui para manter o dólar em alta.
No cenário doméstico, a expectativa dos investidores quanto ao controle dos gastos públicos também influencia. Há uma pressão para que o governo tome medidas fiscais para evitar um aumento excessivo da dívida pública. A percepção de que as contas públicas estão controladas ajuda a reduzir a pressão sobre o dólar e, por consequência, sobre a inflação.
Impacto da Selic na economia
A elevação da Selic afeta diversas áreas da economia. Abaixo, veja alguns dos principais reflexos:
- Custo do crédito: Com a Selic em alta, os juros bancários tendem a subir. Em setembro, as taxas de crédito já atingiram 39,9% ao ano, encarecendo empréstimos e dificultando o acesso ao crédito para consumidores e empresas.
- Consumo e crescimento econômico: A taxa mais alta deve limitar o consumo e os investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB). Nos últimos meses, a economia surpreendeu com crescimento, mas a nova alta dos juros pode desacelerar esse ritmo.
- Contas públicas: O custo da dívida pública também é afetado pela Selic. Com juros mais altos, o governo enfrenta uma carga maior para manter o pagamento dos encargos da dívida, que nos últimos doze meses já somou R$ 854 bilhões, equivalente a 7,55% do PIB.
- Investimentos e renda fixa: A alta nos juros favorece investimentos em renda fixa, como o Tesouro Direto e debêntures, que passam a ter rendimentos maiores. Em contrapartida, isso reduz a atratividade do mercado acionário, onde os ganhos dependem do crescimento das empresas e da economia.
Como o Banco Central define a taxa
Para definir a taxa de juros, o Banco Central trabalha com metas de inflação estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta de 2024, por exemplo, é de 3%, com uma margem de tolerância entre 1,5% e 4,5%. A expectativa do mercado é que, com a Selic mais alta, o BC consiga reduzir a inflação até o limite permitido.
Ao fixar a Selic, o Banco Central também considera o impacto das suas decisões no médio prazo, pois mudanças nos juros demoram entre seis e dezoito meses para terem pleno efeito. Assim, a decisão desta semana já mira a inflação dos próximos anos, projetando um cenário econômico mais estável para 2025 e 2026.