No verão, os índices de radiação aumentam e, além de preocupação com a pele, o couro cabeludo também precisa de cuidados. Mas, essa região é muitas vezes esquecida e também faz parte da pele, merecendo todo cuidado de proteção, já que a área também pode apresentar lesões causadas pelo sol, até mesmo tumores. “Eles podem aparecer em diferentes tamanhos e formas, por isso, a prevenção e a detecção precoce são os melhores caminhos para evitar complicações”, afirma a dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “O câncer de pele no couro cabeludo é perigoso se não for diagnosticado e tratado, pois há risco de metástase para o cérebro. Apesar de não serem classificados como tumores cerebrais, as metástases cerebrais são tipos de câncer que chegam no cérebro após circular pelo corpo, e temos a impressão de que eles são até dez vezes mais comuns do que os tumores cerebrais justamente por termos muito mais diagnósticos de câncer de mama, pulmão, pele e intestino do que tumores no cérebro. É uma questão estatística”, explica o oncologista Dr. Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra) e pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra). O tipo de câncer de pele com pior prognóstico é o melanoma e, segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), para o triênio de 2023 a 2025 a estimativa de novos casos no Brasil: 8.980, sendo 4.640 homens e 4.340 mulheres – esses valores correspondem a um risco estimado de 4,37 casos novos a cada 100 mil homens e 3,90 a cada 100 mil mulheres.
O oncologista explica que o melanoma é um câncer derivado das células pigmentares da pele. “É o tipo de câncer de pele mais mortal. Ele pode se espalhar para outras partes do corpo precocemente, quando as lesões ainda são muito pequenas”, explica o Dr. Ramon. O problema é mais suscetível em pessoas com cabelos muito finos, ralos e principalmente em calvos. A dermatologista Dra. Claudia Marçal afirma que os cabelos são uma proteção natural contra as radiações solares, porém, na medida em que os cabelos vão escasseando, perde-se essa proteção. “Indico aplicar um protetor solar em spray para alcançar a área. Caso a pessoa seja calva, ela pode utilizar o mesmo produto aplicado no rosto, com FPS de, no mínimo, 30 e PPD 10, reaplicando a cada duas horas. Além disso, principalmente para quem trabalha exposto ao sol, deve-se usar bonés e chapéus”, recomenda a médica.
Apesar do prognóstico ruim, a incidência de tumor nessa área não é tão grande quanto em outras. Dependendo do tipo de câncer de pele, os sintomas e a apresentação podem ser diferentes. Os cânceres de pele não melanoma, os mais comuns, costumam se apresentar com lesões de pele que não cicatrizam e parecem incomuns ou doem, sangram e formam crosta por mais de quatro semanas, segundo o oncologista. “Já o câncer de pele melanoma é caracterizado por uma lesão que muda de forma, cor, tamanho, sangra ou desenvolve uma borda irregular”, explica o Dr. Ramon. “Uma nova grande mancha marrom na pele, às vezes contendo manchas escuras salpicadas; um novo ponto na pele que muda de tamanho, forma ou cor; uma ferida que não cicatriza; tudo isso pode ser sintoma de um câncer melanoma”, diz a dermatologista.
Uma das formas de acelerar o diagnóstico do câncer de pele é por meio do autoexame do tecido cutâneo, utilizando principalmente a regra de manchas e lesões ABCDE (A de assimétrica, B de bordas irregulares, C de cores desiguais, D de diâmetro maior que 6 milímetros e E de evolução – quando crescem aceleradamente). “No couro cabeludo, essa detecção é mais difícil de ser feita individualmente, mas você pode pedir ajuda ao seu companheiro, familiar ou amigo. Basta alguns minutos, uma vez por mês, de preferência com luz natural, verificar alguma mudança na região. Normalmente, surge uma ferida pequena com casquinha que sangra facilmente”, diz o Dr. Ramon. “Além disso, se a ferida for maior que seis milímetros, se houver coloração dupla ou tripla e se não cicatrizar em quatro semanas, é fundamental procurar o médico imediatamente para obter um diagnóstico preciso e tratamento adequado que, normalmente, é cirúrgico para retirada total da lesão e deve ser realizado o mais precocemente possível”, finaliza a dermatologista.
FONTES:
DR. RAMON ANDRADE DE MELLO: Médico oncologista em São Paulo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), Brasil, vice-líder do programa de Mestrado em Oncologia da Universidade de Buckingham (Inglaterra), Doutor (PhD) em Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Tem MBA em gestão de clínicas, hospitais e indústrias da saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo. É pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da European School of Oncology (ESO). O oncologista tem mais de 122 artigos científicos publicados, é editor de 4 livros de Oncologia, entre eles o Medical Oncology Compendium, Elsevier, de 2024. É membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e do Centro de Diagnóstico da Unimed, em Bauru, SP. Instagram: @dr.ramondemello
*DRA. CLAUDIA MARÇAL: Médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Possui especialização pela AMB e Continuing Medical Education na Harvard Medical School. É proprietária do Espaço Cariz, em Campinas – SP, speaker de laboratórios globais de dermocosméticos e de fabricantes de equipamentos. CRM: 78980 / RQE: 31829. Instagram: @draclaudiamarcal
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