Especialistas afirmam que é importante relacionar as ideias dos autores com a atualidade no Enem
Todo ano, durante o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), os estudantes respondem a diversas perguntas sobre escritores brasileiros, desde suas obras até o contexto histórico em que viveram.
Contudo, ao contrário do que muitos alunos acreditam, não é suficiente apenas memorizar os livros. Segundo Vanessa Botasso, coordenadora de redação do Poliedro, é essencial interpretar a relação das obras com a atualidade. “No Enem, além de conhecer algumas das principais ideias dos autores mais citados, é fundamental entender a quais temas ou discussões eles costumam se relacionar”, explica a especialista.
Ailton Krenak – “Ideias para adiar o fim do mundo”
Vanessa destaca o escritor Ailton Krenak, um líder indígena e intelectual reconhecido pela ABL (Academia Brasileira de Letras), como um autor indispensável para os estudantes. De acordo com a CNN, em seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, Krenak critica a visão autodestrutiva da modernidade ocidental, defendendo modos de vida mais harmoniosos com a natureza e questionando o desenvolvimento econômico a qualquer custo.
“No Brasil, sua obra é central para discutir a crise ambiental, a exploração de recursos naturais e o apagamento de culturas tradicionais”, afirma Vanessa.
Carlos Drummond de Andrade – “Sentimento do mundo”
Outro autor frequentemente mencionado nas provas é Carlos Drummond de Andrade, especialmente pelo livro “Sentimento do mundo”. A obra expressa a angústia do poeta diante das mudanças políticas e sociais durante a Segunda Guerra Mundial.
Botasso analisa que a obra retrata a dualidade de um artista. Isso porque, embora triste com os rumos da sociedade, mantém um otimismo frente aos sentimentos de empatia e solidariedade. “No contexto brasileiro, o livro é relevante para discutir questões sociais contemporâneas, como a desigualdade e a exclusão, promovendo reflexões sobre a responsabilidade coletiva e a justiça social”, completa.
Gilberto Dimenstein – “Cidadão de papel”
Na obra “Cidadão de papel”, Gilberto Dimenstein denuncia a fragilidade dos direitos sociais no Brasil, especialmente para populações vulneráveis, como crianças e adolescentes. Vanessa ressalta que a principal contribuição da obra é evidenciar a discrepância entre as garantias constitucionais e a realidade, destacando a distância entre teoria e prática.
“Essa obra é crucial para abordar a desigualdade no acesso a direitos básicos e mostrar como a cidadania plena ainda é uma realidade distante para muitos brasileiros”, comenta.
Machado de Assis – “Papéis avulsos”
A coletânea “Papéis Avulsos”, de Machado de Assis, é outra leitura importante para os candidatos do Enem. Por meio de contos curtos, o autor aborda temas universais, como hipocrisia e contradições, com um olhar irônico e crítica sutil.
De acordo com Vanessa, a habilidade de Machado de captar a complexidade da condição humana e das estruturas sociais do século XIX é essencial para entender as contradições da sociedade brasileira. “Seus contos são extremamente valiosos para discussões contemporâneas, pois permitem reflexões sobre temas ainda relevantes no Brasil atual.”
Paulo Freire – “Pedagogia da autonomia”
Por fim, Vanessa menciona o educador Paulo Freire e sua obra “Pedagogia da autonomia”. Neste livro, Freire defende uma educação que respeite a autonomia e a liberdade dos indivíduos, incentivando o pensamento crítico e a participação ativa dos educandos. “Freire destaca a educação como um agente de transformação social, propondo que o ensino seja um ato político e libertador, capaz de combater as desigualdades educacionais”, conclui Vanessa.