Identificando e combatendo a depressão na juventude: Sinais de alerta e como ajudar

Hoje, no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, a atenção aos sinais de depressão na juventude é crucial para oferecer o apoio necessário e prevenir tragédias

A Revista Poder bateu um papo com a Dra. Patrícia Peixoto, psicóloga especializada em neuropsicologia, para discutir a importância de identificar sinais de depressão na juventude, especialmente no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

A depressão é uma das doenças que mais afetam jovens no Brasil e no mundo. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 30% da população mundial vai passar por algum momento depressivo ao longo da vida. É crucial que os responsáveis estejam atentos aos sinais iniciais da doença e levar a um acompanhamento psicoterapêutico.

Pesquisas indicam que, apesar da doença ser mais facilmente identificada na fase adulta, em cerca de 50% dos casos os sintomas aparecem na adolescência. De acordo com Patrícia, os jovens são vistos como um grupo de risco para a depressão, já que esse é um dos momentos na vida com maior vulnerabilidade psicológica.

“A adolescência é um período delicado na vida de qualquer pessoa, já que é nessa fase que descobrimos quem queremos ser, com quem queremos estar e o que gostamos de verdade”, diz a Patrícia Peixoto. “A vida social, escolar e familiar durante esse período são bases que impactam diretamente na mente em desenvolvimento do adolescente, que está aprendendo a lidar com frustrações”, aponta.

Principais sintomas:

Para identificar a depressão nos jovens, os responsáveis devem ficar atentos a uma série de sinais. De acordo com a Patrícia Peixoto, são eles:

  • Isolamento social de familiares e amizades;
  • Cansaço constante e falta de interesse em práticas sociais (vontade de ficar na cama durante o dia);
  • Alterações repentinas de humor;
  • Constante tristeza;
  • Inquietação e ansiedade (preocupação constante, fobia social);
  • Dificuldade de concentração;
  • Declínio no rendimento escolar;
  • Frequentes queixas de insônia;
  • Autoestima baixa;
  • Pouca ou nenhuma vontade de se alimentar.

Um dos fatores mais agravantes a respeito da depressão nessa fase da vida é o suícidio – essa é a segunda principal causa de morte em pessoas entre 15 a 29 anos. “Quando o jovem começa a falar muito sobre machucar a si mesmo, ou sobre a morte, é importante que o responsável preste atenção nesses sinais para evitar que chegue nessa atitude extrema que é atentar contra a própria vida”, diz Patrícia Peixoto.

“Só o próprio hábito de brincar muito com assuntos mórbidos, junto de outro sintoma da depressão, é algo que o responsável deve levar em consideração e tratar com atenção. Observar esses pontos e conversar a respeito deles, acompanhado da terapia, pode ser determinante para salvar a vida do jovem que está com depressão”, diz Patrícia.

Acompanhamento na terapia:

Ao identificar os sinais de depressão, é fundamental que os responsáveis acompanhem o jovem para o tratamento psicoterapêutico – é importante salientar que, no princípio, o adolescente pode apresentar dificuldades em conversar com um profissional, já que é difícil abrir detalhes íntimos com alguém desconhecido. Nesse caso, um primeiro contato menos intensivo deve ser feito, como uma conversa a respeito do tema.

“É comum que os jovens se sintam envergonhados ou tenham algum tipo de dificuldade em iniciar o tratamento psicoterapêutico, já que há uma resistência natural em ceder detalhes da vida íntima para um completo estranho, que seria o psicólogo. Os responsáveis devem estar presentes nesse processo sem pular nenhuma etapa, conquistando de pouco em pouco esse espaço na cabeça do adolescente e quebrando as barreiras que impedem ele de se comunicar com o terapeuta”, diz Patrícia Peixoto.

Como agir:

Chamar os sintomas de “frescura” ou “drama”, além de pressionar atitudes no adolescente, são péssimos exemplos de conduta em casos de depressão. De acordo com Patrícia Peixoto, as melhores ações que os responsáveis podem tomar durante o tratamento são:

  • Apoiar e mostrar interesse na vida pessoal;
  • Conversar a respeito do futuro que interesse ao jovem;
  • Ceder em momentos de isolamento necessário, com respeito visível ao espaço;
  • Exercitar a autoestima com comentários positivos;
  • Convidar para passar momentos em família sem pressionar;
  • Constantemente pontuar a importância que tem para a família e amigos;
  • Ser ouvinte sem julgamentos, servindo como uma figura de alicerce e não de autoridade.

“Cada um desses tópicos servem para localizar os responsáveis como figuras seguras na cabeça do jovem. Ele passará a enxergar com segurança a família e se sentirá mais disposto a combater a depressão. É fundamental que os pais e tutores adotem esse comportamento mais acessível para que o tratamento tenha o máximo de efetividade. Quando o jovem está doente, ele precisa não só de apoio, mas de uma rede de acolhimento e conforto – quando isso ocorre dentro de casa, é maravilhoso e impacta positivamente no resultado da terapia”, diz Patrícia Peixoto.

Sobre Patrícia Peixoto: Patrícia Peixoto é psicóloga e especialista em Neuropsicologia e Terapia Cognitivo-comportamental. Com 7 anos de experiência, atua principalmente com crianças e adolescentes, buscando oferecer o melhor em atendimento e orientação para famílias.