Atletismo confirma status de potência e reforça o quadro de medalhas brasileiro

Das dez conquistas do país nesta terça-feira, sete vieram no Estádio Olímpico, incluindo dois ouros com duas dobradinhas. O Brasil chega a 48 medalhas e 14 ouros, ocupando a quarta posição. Futebol de cegos e goalball avançam para a semifinal.

JERUSA GEBER DOS SANTOS e LORENA SILVA SPOLADORE- Jogos Paralímpicos Paris 2024 – ATLETISMO –
Foto: Silvio Avila/CPB @silvioavila_photo

Oito ouros, cinco pratas e dez bronzes. Vinte e três medalhas. Segunda colocação parcial no quadro geral de medalhas, atrás apenas da China. A campanha do atletismo brasileiro nos Jogos Paralímpicos de Paris consolida o país como potência da modalidade e, por consequência, como um dos países mais relevantes no quadro geral do megaevento esportivo.

Só nesta terça-feira, 3 de setembro, o país subiu ao pódio sete vezes na modalidade (dois ouros, duas pratas e três bronzes). Em duas ocasiões, dois brasileiros estiveram no pódio ao mesmo tempo e com direito a hino nacional no Estádio Olímpico de Paris. Os títulos vieram com Yeltsin Jacques, nos 1.500m, e com Jerusa Geber, nos 100m, ambos em classes para atletas com deficiência visual.

O dia ainda reservou outros três bronzes para o Brasil, dois na natação e um no tênis de mesa. O país soma agora 48 medalhas, com 14 ouros, 10 pratas e 24 bronzes, na quarta posição geral do quadro de medalhas dos Jogos Paralímpicos. Em todos os resultados, a digital do Bolsa Atleta do Governo Federal.

Confira o resumo:

Jerusa completa o álbum – A acreana Jerusa Geber, de 42 anos, tinha até esta terça-feira um álbum de figurinhas faltando um cromo, uma estampa. Tricampeã mundial dos 100m da Classe T11 (atletas com deficiência visual), com títulos em Jogos Parapan-Americanos e em competições do circuito internacional, faltava a ela um ouro em Jogos Paralímpicos. Foi prata em Pequim (2008) e Londres (2012). Em Tóquio (2021), chegou como favorita, mas a corda que compartilha com o guia se rompeu durante a prova, e ela não conseguiu completar.

Desde a semifinal em Paris, contudo, ela já vinha acenando para a mudança. Estabeleceu o novo recorde mundial em sua série, com 11s80. E, nesta terça-feira, selou o ouro que faltava em sua estante. Fechou a prova perto do recorde que estabeleceu, com 11s83, à frente da chinesa Cuiqing Liu, que ficou com a prata (12s04), e da paranaense Lorena Spoladore, que fechou a dobradinha na prova com o bronze (12s14).

“É um sonho que a gente vinha buscando por anos. Em 2021, chegamos como favoritos em Tóquio e não deu certo. Fica isso na mente da gente, né? Mas, finalmente, aqui em Paris, a gente veio conquistar a medalha que faltava na decoração do meu quadro de medalhas”, disse Jerusa, que corre ao lado do guia Gabriel Aparecido Santos Garcia. “É muito bom ouvir o hino nacional mais uma vez, e principalmente numa Paralimpíada, em uma competição tão importante. O foco maior de todo atleta. É muito emocionante”, completou.

Apenas quatro velocistas cegas na história fizeram os 100m em menos de 12s. Além da acreana, apenas as chinesas Cuiqing Liu e Guohua Zhou, além da britânica Libby Clegg conseguiram. Outras duas atletas do Brasil chegaram perto: a paranaense Lorena Spoladore, que registrou 12s02, em 2019, e a mineira Terezinha Guilhermina, que terminou a distância em 12s10, nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016.

Foi neste último ciclo paralímpico que Jerusa se consolidou como uma das principais velocistas da T11. Após a medalha de bronze nos 200m em Tóquio 2020, ela foi ouro nos 100m e nos 200m no Mundial de Paris 2023, ouro nos 100m e nos 200m nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023, e ouro nos 100m e bronze nos 200m no Mundial de Kobe 2024.

Jerusa nasceu cega. Ao longo da vida, fez algumas cirurgias que possibilitaram que ela enxergasse um pouco, mas aos 18 anos voltou a perder totalmente a visão. Conheceu o esporte paralímpico aos 19 anos, a convite de um amigo também deficiente visual.

Yeltsin e o guia Guilherme dos Santos ao lado do recorde mundial estabelecido na final dos 1.500m. Foto: Silvio Avila/CPB

Dobradinha e recorde – Yeltsin Jacques e Júlio César Agripino inverteram nesta manhã os lugares que ocuparam na prova dos 5.000m do atletismo. Na prova mais longa, Júlio levou o ouro e Yeltsin saiu com o bronze. Nesta terça-feira, foi a vez de Yeltsin celebrar o ouro e Júlio ficar com o bronze nos 1.500m da classe T11, para atletas com deficiência visual.

Yeltsin fez 3min55s82 e quebrou os recordes mundial e paralímpico que eram dele mesmo, obtido em Tóquio 2021, com 3min57s60. Júlio completou o percurso em 4min04s03. A prata ficou com o etíope Yitayal Yigzaw, que correu em 4min03s21. “Tive uma lesão. Quando me recuperei, sofri com uma virose, isso atrapalhou nos 5000m. Mas nos 1500m é mais força, já sou forte geneticamente e deu certo. Eu até tinha apostado que viria o recorde com 3min53s, ou 3min54s, veio com 3min55s. Muito feliz por repetir o que fiz em Tóquio. O Brasil se tornou força nas provas de meio fundo e de fundo. Pesquiso bastante sobre fisiologia, somos fortes e só temos a crescer e conseguir ótimos resultados”, disse Yeltsin.

Raissa lançou o dardo a 23,51 metros para conquistar a prata na classe classe F56 (competem sentados). Foto: Silvio Avila/CPB

Prata no dardo – Raissa Machado foi a segunda colocada na prova do arremesso de dardo da classe F56 (competem sentados). Ela lançou 23,51m e ficou atrás somente dos 24,99m de Diana Krumina, da Letônia. Essa é a segunda medalha de Raissa. Em Tóquio, foi prata na mesma prova. No Mundial de Kobe 2024, ela conquistou a medalha de ouro. “Acordei sabendo que uma medalha seria minha, não importava a cor. Agora é começar a me preparar para o ouro em Los Angeles (nos Jogos Paralímpicos de 2028)”, disse Raissa.

Rayane Soares da Silva – Jogos Paralímpicos Paris 2024 – ATLETISMO -Foto: Wander Roberto/CPB @wander_imagem

Prata nos 100m – Numa prova decidida por milésimos de segundo, a maranhense Rayane Soares conquistou a medalha de prata nos 100m T13 (deficiência visual), com 11s78. Com isso, estabeleceu o novo recorde das Américas. O título ficou com Lamiya Valiyeva, do Azerbaijão, que cruzou a linha de chegada com o tempo de 11s76. O bronze foi para a irlandesa Orla Comerford, que completou a distância em 11s94. Foi também a primeira medalha paralímpica de Rayane na carreira. Outra brasileira envolvida na disputa, a sul-mato-grossense Gabriela Mendonça, completou a prova na sexta colocação, com 12s67.

Bronze no salto – O rondoniense Mateus Evangelista conquistou a medalha de bronze na final do salto em distância T37 (paralisia cerebral). O salto que lhe garantiu o pódio foi de 6,20m, o seu melhor na temporada. Foi a terceira medalha de Evangelista em Jogos Paralímpicos. Ele também havia sido bronze em Tóquio 2020 e soma uma prata no Rio 2016. O título ficou com o argentino Lionel Impellizzeri, que saltou 6,42m. A prata, que até a última rodada ainda era de Mateus, acabou ficando com o queniano Samson Opiyo, que saltou os mesmos 6,20m de Mateus, mas teve um segundo melhor salto que o segundo do brasileiro. “Estou muito feliz, levando mais uma medalha para o Brasil. Mais uma para Rondônia, para Porto Velho. Para minha esposa, para o meu filho Luca”, disse.

Mateus Evangelista – Jogos Paralímpicos Paris 2024 – ATLETISMO – Foto: Wander Roberto/CPB @wander_imagem

TÊNIS DE MESA – Bruna Alexandre fechou o primeiro set, conseguiu ficar novamente à frente do jogo com 2 x 1, teve chances de levar a quarta parcial para a fase de desempate, mas acabou sofrendo a virada na semifinal da classe 10 do tênis de mesa. Numa reedição da final de Tóquio, desta vez na briga por vaga na decisão em Paris, a brasileira foi novamente superada pela chinesa naturalizada australiana Qian Yang. A partir terminou em 3 sets a 2, com parciais de 11/6, 3/11, 11/9, 9/11 e 3/11, em 34 minutos.

Com o resultado, Bruna ficou com a medalha de bronze, a segunda conquistada por ela nos Jogos Paralímpicos de Paris. A outra foi na dupla feminina, ao lado de Danielle Rauen. A atleta catarinense é o principal nome da história do tênis de mesa paralímpico brasileiro. Soma agora seis medalhas paralímpicas: uma prata e cinco bronzes. Em Paris, Bruna se tornou ainda a primeira brasileira a disputar Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Ele, ao lado das irmãs Bruna e Giulia Takahasi, o time que defendeu o Brasil na disputa por equipes dos Jogos Olímpicos.

Qian Yang vai defender o título conquistado no Japão contra a polonesa Natalia Partyka, que foi medalhista de ouro nas edições de que eliminou Shiau Wen Tian, de China Taipei, num duelo também definido por 3 sets a 2. Partyka tem no currículo o tetracampeonato paralímpico individual da classe 10 do tênis de mesa, conquistado  em 2004 (Atenas), 2008 (Pequim), 2012 (Londres) e 2016 (Rio de Janeiro). Em Tóquio, ela perdeu na semifinal para australiana que eliminou Bruna e ficou com o bronze.

DANI NAS QUARTAS – A paranaense Danielle Rauen venceu na manhã desta terça a croata Mirjana Lucic por 3 sets a 0 (11/8, 12/10 e 11/6) e está na quartas da classe 9 (para andantes) da chave individual. Na mesma categoria, a paulista Jennyfer Parinos perdeu para a ucraniana Iryna Shynkarova por 3 a 1 (11/9, 13/11, 7/11 e 11/1) e está eliminada. Cátia Oliveira (classe 2, cadeirantes) e a carioca Sophia Kelmer também foram eliminadas. Catia Oliveira foi vencida pela polonesa Dorota Buclaw por 3 sets a 1 nas quartas de final. Foi a mesma etapa em que Sophia, 16, mulher mais jovem da delegação, foi derrotada pela chinesa Wenjuan Huang por 3 a 0.

Jogos Paralímpicos Paris 2024 – Natação – MAYARA PETZOLD, na Arena Paris La Defense. Foto: Marcello Zambrana/CPB @marcellozambrana

BRONZE DE MAYARA – A mineira Mayara Petzold conquistou a medalha de bronze nos 50m borboleta da classe S6, destinada a atletas com limitações físico-motoras, com o tempo de 37s51. As chinesas Yuyan Jiang (35s03) e Daomin Liu (37s10) faturaram ouro e prata, respectivamente. Mayara nasceu com uma deficiência similar ao nanismo. Ela começou na natação por recomendação médica, aos quatro anos de idade, e conheceu a modalidade paralímpica aos 13 anos.

Jogos Paralímpicos Paris 2024 – Natação – Mariana Gesteira, na Arena Paris La Defense. Foto: Ana Patrícia Almeida/CPB @anapatricia.foto

BRONZE DE GESTEIRA – A fluminense Mariana Gesteira conquistou o bronze nos 100m costas da classe S9 (limitação físico-motora). A prova foi vencida por Christie Raleigh-Crossley, dos Estados Unidos, que estabeleceu um novo recorde paralímpico, com 1min07s92. A prata ficou com Nuria Soto, da Espanha (1min09s24). Mariana bateu logo em seguida, com 1min09s27.

Seleção empatou em 0 x 0 com a China e avançou para a semifinal. Disputa por vaga na decisão será contra a Argentina, atual campeã mundial. Foto: Alexandre Schneider/CPB

Futebol de Cegos – Nesta terça-feira, o Brasil também teve outras conquistas expressivas em esportes coletivos. No futebol de cegos, venceu o Japão, por 1 x 0, com gol do artilheiro Jefinho, e se classificou para a semifinal em primeiro lugar no Grupo A. O Brasil venceu todas as três partidas e ainda não levou gol. O adversário na semifinal será o segundo colocado do Grupo B.

Goalball – No goalball masculino, os brasileiros também avançaram para a semifinal, com uma vitória sobre a Grécia por 12 x 7. Os atuais campeões paralímpicos vão enfrentar na semifinal a Lituânia, vice-campeã em Tóquio.

Ciclismo de Estrada – No ciclismo de estrada, os brasileiros competiram na classe C1-C3, que é para paratletas com deficiência físico-motora. Carlos Alberto Gomes ficou em quinto lugar, Rafael Andriato, em 12º, e Lauro Chaman, em 18º. A competição foi vencida pelo italiano Paolo Cecchetto.

Judô – No judô, a brasileira Karla Cardoso, da classe B1 (deficiência visual), foi derrotada pela ucraniana Nataliia Oliinyk, nas oitavas de final. A competição foi vencida pela japonesa Yui Fujioka.

Fonte: Gov.br