Em solenidade com atletas, presidente assina decreto que reajusta Bolsa Atleta

Após 14 anos sem correção, o programa terá 10,68% de aumento já a partir de julho. O evento foi prestigiado por esportistas de diversas modalidades, como a judoca campeã olímpica e mundial Rafaela Silva e o nadador Gabriel Araújo, campeão mundial e paralímpico.

Ricardo Stuckert / PR

Às vésperas do embarque das delegações para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, os 9.075 integrantes do Bolsa Atleta receberam nesta quinta-feira, 11 de julho, um incentivo a mais para treinarem, competirem e seguirem buscando seus sonhos. Em solenidade no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que reajusta o valor de repasse do programa em 10,86%. O evento contou com a presença de diversos atletas olímpicos e paralímpicos, além de dirigentes esportivos, do ministro do Esporte, André Fufuca, e da primeira-dama, Janja.

“O empresário não tem obrigação de olhar para um atleta que ainda não tem medalha, mas o Governo tem que olhar para todos, para aqueles que podem no futuro ganhar se tiverem condições de praticar esporte,” disse o presidente Lula.

Os novos valores começam a ser pagos ainda neste mês, entre os dias 15 e 18. O reajuste é o primeiro em 14 anos. Com a medida, dos 277 convocados pelo Comitê Olímpico Brasileiro para representar o país na França, os 247 bolsistas do Governo Federal (89% do total) já embarcam com a garantia de valores reajustados.

Íntegra do pronunciamento do presidente Lula

“Quando resolvemos criar o Bolsa Atleta, era porque a cultura brasileira muitas vezes não levava em conta que, antes de as pessoas virarem famosas e terem patrocínio privado, muitas não tinham sequer um tênis para praticar esporte”, lembrou Lula, referindo-se à origem do programa, em 2004, em seu primeiro mandato à frente da Presidência.

“Eu sei o que significou o Bolsa Atleta. Quando a gente conhece a sociedade brasileira, sabe que para muita gente, R$ 3 mil, R$ 4 mil faz muita diferença. Pode ter gente que fala que R$ 3 mil não dá, R$ 2 mil não dá. Mas tem gente que precisa de R$ 1 mil. Tem gente que precisa até de menos, para falar: ‘Vou vencer na vida’. E foi assim que criamos o Bolsa Atleta”, completou o presidente.

Ele frisou que considera obrigação do Estado assegurar condições para que atletas desenvolvam seus talentos. “O empresário não tem obrigação de olhar para um atleta que ainda não tem medalha, mas o Governo tem que olhar para todos, para aqueles que podem no futuro ganhar se tiverem condições de praticar esporte”, afirmou Lula.

Os novos valores do Bolsa Atleta a partir do reajuste assinado pelo presidente Lula nesta quinta-feira.

A solenidade contou com 41 atletas, entre integrantes de modalidades olímpicas e paralímpicas, como a judoca Rafaela Silva, campeã olímpica nos Jogos Rio 2016 e bicampeã mundial (2013 no Rio de Janeiro e 2022 em Tashkent, no Uzbequistão) e o nadador paralímpico Gabriel Araújo, ouro nos 200m livre e nos 50m costas e prata nos 100m costas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2021.

“Eu sei da importância de estar aqui porque sou beneficiada com o Bolsa Atleta há pelo menos 15 anos. É importante para um atleta de alto rendimento ter segurança, tranquilidade de se preparar, se dedicar ao seu sonho, que no meu caso é treinar judô, porque sei que tenho a segurança do Bolsa Atleta todo mês na conta, que posso ajudar a minha família, ajudar no meu material de trabalho”, declarou Rafaela Silva, que discursou em nome dos atletas olímpicos.

Beneficiado com a Bolsa Pódio desde 2019, Gabriel Araújo falou em nome dos paralímpicos e, assim como Rafaela, destacou que o Bolsa Atleta é indispensável na sua trajetória. “Estou na reta final da preparação para Paris e é muito importante esse suporte, esse apoio que a gente tem, porque a gente consegue ter tranquilidade para trabalhar. A gente tendo essa tranquilidade, quando chega para treinar, para competir, tudo fica mais fácil”, afirmou o nadador.

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REVOLUÇÃO E RECORDE

Para o ministro do Esporte, André Fufuca, o Bolsa Atleta representou uma revolução fundamental para a melhoria de desempenho no país tanto nos Jogos Olímpicos quanto nos Jogos Paralímpicos nas últimas duas décadas. “Se você analisar o cenário de 2004 para cá, a quantidade de medalhas que o país teve fruto do Bolsa Atleta é muito maior do que em qualquer outro período. Em 2004, nos Jogos de Atenas, o Brasil conseguiu 10 medalhas. Agora, nos Jogos de Tóquio (2021), o Brasil já foi para 21. Isso sem contar que no primeiro ano, em 2004, só 900 atletas eram beneficiados pelo programa”, frisou. Em 2024, o programa atingiu o recorde de contemplados, sendo 8.716 nas categorias Base, Estudantil, Nacional, Internacional e Olímpica/Paralímpica/Surdolímpica do Bolsa Atleta, além de 359 na Bolsa Pódio (a categoria principal do programa), totalizando 9.075 beneficiados. O orçamento previsto para este ano é de R$ 160,4 milhões.

DIGNIDADE

O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, ex-atleta do futebol de cegos, bicampeão dos Jogos Paralímpicos (Atenas 2004 e Pequim 2008), bicampeão mundial (1998 e 2000) e eleito melhor do mundo em 1998, destacou que a importância do programa para pessoas com deficiência vai além dos resultados e conquistas, em função da cidadania que o esporte é capaz de entregar para tantos brasileiros que, por sua deficiência, ainda são invisíveis no nosso país. “O Bolsa Atleta foi o principal instrumento que garantiu as primeiras condições para que os atletas pudessem desenvolver suas atividades, para que pudessem treinar com tranquilidade e representar o nosso país. E segundo, para garantir dignidade para esses atletas. Garantir que pudessem ter suplemento de qualidade, um alimento adequado para performar melhor. O Bolsa Atleta é um dos principais instrumentos que tem levado o Brasil às vitórias. E eu espero que Paris não seja diferente”, continuou Mizael, que recebeu o Bolsa Atleta em sua época de jogador.

PERENE

Já o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley, destacou outro ponto fundamental para o sucesso do Bolsa Atleta: o fato de ele ser uma conquista perene. “É um programa realmente consolidado. E isso é importante, porque tem perenidade. Funciona o tempo todo, é regular. Então, o Comitê Olímpico do Brasil felicita o seu governo (do presidente Lula), felicita o ministro Fufuca, por dar continuidade a esse processo”, declarou o presidente do COB.

ALIANÇA CONTRA FOME

Durante o evento, o presidente Lula adiantou que, apesar de ter sido convidado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, para prestigiar a cerimônia de abertura dos Jogos de Paris, no dia 26 de julho, ele não poderá estar presente. Lula revelou que será representado pelo ministro Fufuca e pela primeira-dama, Janja, que esteve presente ao encontro com os atletas. Janja afirmou que, além de torcer pelos atletas brasileiros, estará engajada em reforçar a mensagem do combate à fome. “Vocês sabem que o presidente Lula é o presidente do G20 este ano e ele lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A gente vai estar fazendo uma atividade lá para adesão da Prefeitura de Paris, de outras prefeituras, movimentando atletas nesse momento. Talvez o esporte seja uma importante ferramenta de combate à desigualdade para você alcançar mais dignidade, uma vida mais digna, mais justa, mais solidária”, frisou Janja.

RECORDE DE MULHERES

O Comitê Olímpico do Brasil divulgou nesta quinta-feira que a delegação de atletas do país para as Olimpíadas de Paris está fechada e contará com 277 atletas, de 39 modalidades. Pela primeira vez na história, o Brasil terá maioria feminina. Serão 153 mulheres, o que representa 55% do total. Em Tóquio 2021, elas eram 47%. Os 277 atletas em Paris 2024 significam a terceira maior delegação olímpica da história, atrás apenas da Rio 2016 e Tóquio 2020 e empatada com Pequim 2008.

 

Fotos: Ricardo Stuckert / PR