Cultura INC: A Menina e o Pote, animação brasileira estreia em Cannes

O curta-metragem brasileiro “A Menina e o Pote”, dirigido e produzido por Valentina Homem, fará sua estreia mundial no prestigiado Festival de Cannes, na mostra competitiva da Semana da Crítica. O filme, baseado em um conto escrito pela própria cineasta em 2012, explora temas de autodescoberta e iniciação xamânica, embebidos na cosmologia e mitologia indígena brasileira, particularmente das culturas Baniwa e Yanomami.

A história da animação centra-se em uma menina que quebra seu pote, um objeto que simboliza segredos e experiências íntimas. A quebra do pote desencadeia uma série de eventos que levam a menina a uma jornada de transformação, abrindo portais para universos paralelos e possibilitando a criação de um novo mundo. Essa narrativa é contada através da técnica de pintura sobre vidro, que realça a fluidez e a metamorfose constante da protagonista.

Valentina Homem trabalhou em estreita colaboração com a antropóloga indígena Francy Baniwa para assegurar a autenticidade cultural do filme. O roteiro contou ainda com a participação de Nara Normande, Tati Bond e Eva Randolph, que também contribuíram na direção de animação, direção artística e edição, respectivamente. A Menina fala Nheengatu, uma língua indígena que, apesar de ter sido proibida no passado, ainda é falada em algumas regiões do Brasil. A escolha do idioma reflete as conexões culturais e a parceria com Francy Baniwa.

Além do filme, essa colaboração resultou em um projeto na aldeia natal de Francy, Assunção do Içana, focado na dignidade menstrual e geração de renda para mulheres indígenas, demonstrando um forte vínculo simbólico e político com a obra cinematográfica.

“A Menina e o Pote” é descrito por Valentina como uma resposta à crise ambiental atual, particularmente ao desmatamento da Amazônia, e um apelo à necessidade de resgatar e reflorestar os imaginários ancestrais. A cineasta espera que o filme atue como um portal para um futuro mais sustentável e conectado com as raízes culturais indígenas.

“O filme é fruto do nosso sonho coletivo: sonhar com a floresta, ser floresta – resgatar memórias ancestrais, que conservam também o que está por vir. As mitologias ameríndias, ao contrário do pensamento ocidental, não concebem um mundo sem nós. Por isso, penso em nosso tempo como uma era pré-cosmogônica, mas é urgente reflorestar nossos imaginários. Espero que o filme possa ser um portal para um futuro possível”, conclui a diretora.

O curta será exibido no Cinéma Miramar em Cannes,no dia 21 de maio, às 14h15 e às 20h (horário local), no Cinéma Miramar (35 rue Pasteur) e promete ser um marco significativo para a animação brasileira e para a conscientização ambiental e cultural.