O Brasil está lançando uma iniciativa pioneira para democratizar o acesso às terapias gênicas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Financiado pelo Ministério da Saúde, o projeto liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem como objetivo tornar esses tratamentos mais acessíveis, expandindo assim suas possibilidades de aplicação. As terapias gênicas representam uma revolução na medicina, envolvendo a manipulação genética para combater uma ampla gama de doenças, desde câncer até síndromes genéticas.
Um dos maiores desafios enfrentados nessas terapias é o alto custo. Tratamentos para condições como distrofia muscular de Duchenne podem chegar a custar até R$ 15 milhões, tornando-os virtualmente inacessíveis para a maioria da população. No entanto, a Fiocruz, através de seu Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), está empenhada em reduzir drasticamente esses custos, visando tornar as terapias gênicas cerca de 10% do valor atualmente cobrado.
A colaboração com a organização norte-americana sem fins lucrativos Caring Cross é fundamental nesse processo, pois possibilitará a transferência de tecnologia para o Brasil. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, ressalta a importância de incorporar essas terapias ao SUS, o que não só democratizaria o acesso a tratamentos inovadores, mas também representaria uma economia significativa para o sistema de saúde pública.
O primeiro projeto dessa estratégia foca na imunoterapia para cânceres hematológicos, como linfomas e leucemias agudas, em parceria com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Essa terapia, conhecida como CAR-T, envolve a modificação genética de células de defesa do organismo para que se tornem mais eficazes na identificação e destruição de células cancerosas. Com a possibilidade de redução de custos de tratamento de R$ 2 milhões para R$ 200 mil, essa iniciativa promete revolucionar o acesso ao tratamento do câncer.
Os testes clínicos para validar essas terapias devem começar em breve, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Uma vez validadas, a intenção é implementar laboratórios modulares em contêineres, permitindo a descentralização dos tratamentos e facilitando o acesso em várias regiões do país. Essa abordagem também poderia beneficiar outros países da América Latina e da África, ajudando a tornar essas terapias mais acessíveis em uma escala global.
Em resumo, a iniciativa da Fiocruz representa um passo importante na democratização da saúde, garantindo que tratamentos inovadores estejam disponíveis para todos, independentemente de sua condição socioeconômica. Ao reduzir os custos e expandir o acesso a terapias gênicas, o Brasil está construindo um sistema de saúde mais inclusivo e sustentável, que pode servir de modelo para o mundo todo.