Candidato a entrar na próxima edição do Guinness, Hugo Farias cumpriu à risca o que prometeu: correr 42,195 km todos os dias durante um ano. Ele finalizou o que chamou de Projeto Propósito 365 Dias, 365 Maratonas há exatamente um mês, no dia 27 de agosto, e correu inacreditáveis 15.400 km durante um ano, ou seja, o equivalente a uma viagem de ida e volta de São Paulo a Nova York. O belga Stefaan Engels fez o mesmo entre 2010 e 2011, assim como o inglês Gary McKee, que terminou sua 365ª maratona no final do ano passado. Mas nenhum deles fez o registro para entrar no livro dos recordes, processo que inclui vários equisitos r – o que não é o caso de Hugo, que planejou tudo desde o início e deve enviar todas as evidências exigidas pelo Guiness até o final de setembro.
É verdade que ele não começou do zero, já que corria e praticou triatlo durante um tempo. Sua primeira e única maratona oficial foi a de Buenos Aires, na Argentina, em 2019. Para cumprir o desafio a que se propôs, uma de suas primeiras providências foi deixar o cargo de executivo da IBM, onde trabalhou por mais de duas décadas. Seu último dia na empresa foi 18/05/2022 e. a partir daí, começou a se dedicar 100% ao projeto, treinando duas vezes ao dia, de manhã e à tarde. Correu a primeira maratona em 28/08 do ano passado.
Durante todo o tempo, ele foi acompanhado por uma equipe multidisciplinar formada por preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, além de uma médica cardiologista e de um pesquisador do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Esse grupo monitorou Hugo antes e depois de cada corrida para verificar batimentos cardíacos, pressão arterial, peso corporal etc – nem mesmo o estado psicoemocional ficou de fora, já que isso também foi avaliado por meio de questionários que Hugo respondia antes e depois de cada maratona.
Claro que houve vários perrengues – o principal foi uma lesão na virilha que o obrigou a percorrer os 42 km caminhando. Com isso, o tempo médio de cinco horas de corrida dobrou, e Hugo precisou caminhar durante cinco dias seguidos até se recuperar totalmente para voltar a correr, o que fazia na cidade de Americana, no interior paulista, onde mora. Ele conversou com a revista PODER online para contar o que planeja daqui para a frente.
Mais do que um projeto de corrida, o desafio foi um projeto de vida?
Sim, exatamente isso. Eu tinha uma carreira que estava indo em uma direção e escolhi mudar, escrever uma nova história. Tenho 44 anos e decidi que, nessa segunda metade da minha vida, iria fazer coisas de impacto para inspirar outras pessoas. Esse é um projeto sobre acreditar em si mesmo, acreditar que pessoas comuns são capazes de fazer coisas extraordinárias e que incluiu disciplina, superação, planejamento, compromisso, foco, resiliência, fé, família, liderança e trabalho em equipe.
Como tem sido sua rotina de treinos desde que você completou a 365ª maratona?
Eu gostaria de estar correndo mais do que estou correndo atualmente, mas tenho aproveitado para descansar. Eu passei de cerca de 300 km por semana para algo em torno de 20 a 30 km, mas venho aumentando gradativamente a distância, porque quero me manter próximo dos 50 km semanais.
Meu corpo entrou em estágio de recuperação. Tenho feito sessões de fisioterapia para “soltar” os músculos das pernas que andam bem doloridos. E continuo sendo avaliado para saber como está o meu corpo em todas as áreas: sistema cardiovascular, peso, a parte óssea etc. Recentemente, fiz algumas ressonâncias magnéticas para avaliar o impacto nas articulações, comparando com os resultados dos exames feitos ano passado. Felizmente, não houve prejuízos – ao contrário, minhas articulações estão de acordo com o que se espera em alguém com a minha idade e que pratica atividade física regularmente. Não tenho todos os resultados ainda.
Quais são seus planos daqui para a frente?
Vou escrever um livro para registrar tudo e levar essa mensagem de propósito adiante. O livro também vai incluir informações sobre o trabalho médico e esportivo realizado. Isso para contribuir não só com os leitores, mas também com a comunidade científica que tem interesse em saber mais sobre o processo.
Além disso, pretendo ingressar no mercado de palestras. O projeto é relacionado ao esporte, mas pode contribuir não só com o desenvolvimento das pessoas em um sentido mais amplo, mas também com o mundo corporativo. Farei outros desafios no futuro, que ainda estou estruturando. Por enquanto, vou escrever com o livro, as palestras e eventuais parcerias com empresas.