Não que deputados federais e senadores precisem de atmosfera, mood, zeitgeist, ou, no popular, consulta às bases, para propor e votar projetos que julgarem convenientes. Caso precisassem, jamais aprovariam anistias a multas por descumprimento de regras que eles mesmo estão sempre a criar para a eleição imediatamente anterior. É o que acontece exatamente agora, em comissão especial da Câmara, que discute a chamada PEC da Anistia, que deve perdoar multas bilionárias da eleição de 2022.
Ao justificar a posição unânime do PT em favor da PEC da Anistia, a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, chamou as multas aplicadas aos partidos de não “exequíveis” e considerou-as dignas de inviabilizar o funcionamento dos partidos. Isso foi só o aperitivo, pois a coisa escalou e a deputada chegou a considerar “absurda” a existência da Justiça Eleitoral. O ministro do STF Alexandre Moraes teve, ato contínuo, de vir a público defender o TSE e os TREs do “desconhecimento” de uma, como disse, “presidente de partido”.
Com tudo isso, na noite desta quinta (21) foram conhecidos os melhores parlamentares da Câmara e do Senado segundo o site Congresso em Foco. O prêmio, que já é bastante tradicional, teve a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) e o senador Fabiano Contarato (PT-ES) apontados melhores parlamentares segundo o público; já um júri de jornalistas que cobrem o Congresso escolheu Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da PEC da reforma tributária, melhor deputado federal; e Eliziane Gama (PSD-MA), melhor senadora.
Apenas o Psol, dentre os partidos dos ganhadores, se posicionou contra o “Anistião”, mas Sâmia não aludiu à PEC urdida na Câmara em seu discurso de agradecimento. “Vejo esse prêmio como um recado contra a violência politica de gênero (…) O machismo, o racismo, a transfobia são uma realidade na politica brasileira. mas nunca sem resposta”, disse, conforme registrou o Congresso em Foco.
Já Contarato, que tem dois filhos e mantém uma relação homoafetiva, comentou em seu discurso o projeto que não reconhece os casamentos entre pessoas LGBT, em tramitação, acredite se quiser, na Câmara. “As nossas famílias não são piores do que as de ninguém que está aqui. A mesma certidão de casamento que eu tenho, os meus colegas também têm. As mesmas certidões de nascimento que vocês têm, os meus filhos também têm.”