Com expectativa zero, um Lula borocoxô finalmente deve receber Zelensky

Lula e Volodymyr Zelensky || Crédito: Ricardo Stuckert/PR/ Reprodução/YT

Presidentes encontram-se em Nova York nesta quarta (20); brasileiro vem fazendo acrobacias verbais para não condenar Rússia e Vladimir Putin, para descontentamento do ucraniano

Lula tem agenda nesta quarta (20), em Nova York, com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky.

O presidente tem desde a campanha de 2022 irrefreável comichão de participar de foros internacionais e reunir-se com a maior quantidade de chefes de estado possível. Exceto com Zelensky. Poucas vezes viu-se o brasileiro tão borocoxô antes de um encontro desse nível.

Pudera. Lula destoou dos Estados Unidos e da Europa ao adotar certa neutralidade em relação à invasão da Ucrânia, evitando com sofreguidão chamar a Rússia e Vladimir Putin de agressores. O Brasil condenou formalmente a invasão, mas o petista critica as sanções econômicas contra Moscou e já disse – para depois deixar a emenda pior do que o soneto – que Putin não seria preso caso viesse ao Brasil, o que configuraria desrespeito a acordos internacionais.

Zelensky, por seu turno, tornou-se, ao menos em 2022, um superheroi do Ocidente, viajando para encontros internacionais e recebendo seus homólogos às vezes na Ucrânia. Sem dar muito valor a solenidades e ritos diplomáticos, aproveita-se de sua juventude, força midiática, figurino de campanha e da posição de combatente do lado certo da força, digamos, para muitas vezes constranger quem não está 100% com ele.

Sim, como Lula.

Nesta quarta, o presidente deu resposta protocolar – e tautológica – sobre sua expectativa em relação ao encontro. “A expectativa é de uma conversa de dois presidentes de países. Cada um com seus problemas, cada um com as suas visões”.

Waaal.

Os dois estiverem juntos no Japão, em maio, em encontro do G-7, e Lula saiu pela tangente, não cumprimentando Zelensky para espanto de Joe Biden, ao lado do brasileiro na ocasião. Contra todas as evidências, Lula falaria depois que tomou bolo do ucraniano.

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O discurso de Zelensky na Assembleia Geral da ONU, na terça (19), surpreendeu negativamente analistas quando ele falou de certa “desnuclearização” de seu país, como que a reclamar de volta um arsenal atômico legítimo.

O jornalista Igor Gielow, da Folha de S.Paulo, sublinhou a seguinte passagem do discurso do ucraniano: “O mundo decidiu que a Rússia deveria ser a única dona desse poder” [que havia sido legado pela dissolução da União Soviética]. “A história mostrou que era a Rússia que merecia o desarmamento nuclear nos anos 1990.”