No tempo em que maldizer a política pegava bem, neófitos elegeram-se prefeitos dizendo-se “gestores”. Mas coloquemos a frase no singular, porque ela cabe perfeitamente a João Doria em 2016, quando o “gestor” venceu a eleição para a prefeitura de São Paulo já no primeiro turno, aproveitando-se da onda contra Dilma Rousseff e todos os demais líderes petistas, o então prefeito paulistano e candidato à reeleição Fernando Haddad entre eles.
A Lusitana rodou: Doria, mesmo com a paternidade da vacina no Bandeirantes, virou pó; Haddad, ministro da Fazenda. Tudo isso para dizer que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, pode aproveitar-se hoje, 2023, de um tema agora de apelo popular, mas que na época de Haddad prefeito foi explorado à rodo por seus adversários políticos: a diminuição da velocidade nas avenidas da capital.
Paes tem um atropelamento “célebre”, o do ator Kayky Brito, na Barra da Tijuca, para usar como argumento de convencimento. E explicitou isso no ex-Twitter nesta segunda (4):
O atropelamento do ator Kayky Brito mostra bem que a velocidade permitida em muitas vias da cidade é excessiva. Imaginar que nossa Orla – um lugar de contemplação, lazer e paz – tem velocidade máxima de 70km é um absurdo. Independentemente de responsabilidades no caso em…
— Eduardo Paes (@eduardopaes) September 4, 2023
Doria e seu time de marketing fez pespegar em Haddad a autoria de uma tal “indústria das multas” a que a redução expressiva da velocidade nas vias expressas de São Paulo serviria – a diminuição do número de morte no trânsito passou batido, claro. Paes tem pista livre para escapar da ridícula artimanha – e faturar a eleição de 2024, quando deve ser candidato à reeleição à prefeitura do Rio.