Causou auê a indicação do economista Márcio Pochmann para o comando do IBGE, órgão subordinado ao ministério do Planejamento, comandado pela ex-senadora Simone Tebet. Pochmann é considerado muito heterodoxo e fidelíssimo ao PT. Economistas e analistas veem nele alguém que pode deturpar os resultados apurados pelo instituto — como os dados de inflação — quando estes não forem róseos para Lula 3.
A nomeação foi feita pelo próprio Lula e teria desagradado sua ministra, que apoiou vivamente o presidente no segundo turno da eleição de outubro, após disputar o primeiro turno contra Lula e os demais candidatos por seu partido, o MDB.
Em entrevista à Globo News, na noite de quarta-feira (26), ainda antes da confirmação da nomeação, Simone disse que “seria um desrespeito com um presidente que está hoje lá e tem um ciclo que não se encerrou”.
Nesta quinta (27), com o leite derramado, houve análises políticas que impingiram à ministra uma certa escolha de Sofia. No diário Valor Econômico, Bruno Carazza perguntou “até que ponto valerá a pena a Simone Tebet permanecer no governo”. Carazza mesmo responde que as opções políticas da ex-senadora são escassas.
Sem cargo, sem eleição à vista no curto prazo — exceto, talvez, para alguma prefeitura no Mato Grosso do Sul — e egressa de um estado bolsonarista retinto, o melhor seria, por “estratégia de sobrevivência”, ir até 2026, “mesmo pagando o preço de uma relevância cada vez menor no governo”.
Simone não deu curso ao assunto em seu ex-Twitter, preferindo repercutir a melhora da nota do Brasil na agência Fitch. Alguns atores da Faria Lima, porém, espernearam. O influencer Rafael Ferri, que poderia ter fundado a igreja fictícia Guedes é Amor, chamou a nomeação de Pochmann de “inaceitável”.
O economista Edmar Bacha, ex-presidente do IBGE, disse ao Estadão estar ofendido com a nomeação. “Pochmann é um ideólogo. Tem uma visão totalmente ideológica da economia. E não terá problema de colocar o IBGE a serviço dessa ideologia, como fez no Ipea”, disse.
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Ainda na quarta-feira, ao portal Metrópoles, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que jamais discordaria de “Nosso Guia”, no famoso qualificativo criado por Celso Amorim, disse, não exatamente nesses termos, que Pochmann é “solução, não é problema”.