“Terceirização de ativos” do BC vira nova munição do PT contra Campos Neto

Roberto Campos Neto e Gleisi Hoffmann || Créditos: Jefferson Rudy/Pedro França/Agência Senado

Menção do presidente do Banco Central em entrevista a executivos do fundo BlackRock gera bola de neve envolvendo reservas internacionais e atiça militância

Não é preciso muito esforço para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ganhar os holofotes ou os “trend topics” das redes sociais. Atores da esquerda e centro-esquerda têm o economista na conta de verdadeiro belzebu, em linha com o que pensa — ou ao menos vocaliza — o presidente Lula.

Mas há horas em que o próprio Campos Neto ajuda voluntariamente a insuflar o apetite da tigrada. Em gravação levada ao ar na quinta (20) e feita para a seção brasileira do BlackRock, o gigantesco fundo de investimentos globais com sede nos Estados Unidos, ele mencionou a possibilidade de “terceirizar” a gestão de ativos hoje feita diretamente pelo BC.

Campos Neto está em férias e a entrevista foi feita em junho. O economista falou ao chairman e à CEO da BlackRock Brasil, que atuaram como, digamos “âncoras”. Campos Neto disse que a ideia, ou a hipótese, de colocar alguns ativos sob gestão terceirizada faria parte de uma lógica de aprendizagem, para capacitar os funcionários do BC a entender e lidar bem com certos ativos com os quais ainda não estão familiarizados. E que isso já aconteceu anteriormente.

Na grita dos detratores, o ponto problemático é que os ativos que seriam terceirizados — e não há nenhum indício que isso deve acontecer — fazem parte das chamadas reservas internacionais, que cresceram exponencialmente durante os dois primeiros mandatos de Lula, na esteira do boom das commodities. Mas Campos Neto em nenhum momento fala de “reservas internacionais”.

Também virou munição para os detratores que o “cavalo de Troia” de Bolsonaro no governo Lula, como o PT já chamou o presidente do BC, desse entrevista justamente à BlackRock, que administra recursos que valem cerca de seis vezes o PIB brasileiro e tem grande influência sobre players do capitalismo global.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi à luta em seu Twitter: “Campos Neto, responsável pelo Brasil ter o maior juro do planeta, agora quer terceirizar ativos do BC. É isso, tirar do Estado e deixar ao bel prazer do mercado. E o que acontece com as reservas de U$340 bilhões?”