Em remake do guarda da esquina de 1968, “Estadão” critica “apito de cachorro” de Bolsonaro

Jornal vira trend topic por ver em agressão de deputado bolsonarista Douglas Garcia a jornalista Vera Magalhães recepção de mensagem emitida antes pelo próprio presidente

Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas e Douglas Garcia || Crédito: Isac Nóbrega/PR/Alan Santos/PR/Divulgação/Alesp

O jornal O Estado de S.Paulo,o invulgar Estadão, pode já não pautar o debate nacional como, digamos, nos tempos de Antônio Conselheiro, mas nesta quinta-feira (15) conquistou o prodígio de ter um de seus editoriais alçados à condição de “trend topic” do Twitter.

Em “O apito de cachorro”, o editorialista anônimo do bravo matutino faz a ilação necessária entre a agressão do deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Rep-SP) à jornalista Vera Magalhães durante o debate dos candidatos ao governo paulista na terça (13) e a agressão – com tais e quais palavras – feita antes por Jair Bolsonaro à mesma jornalista.

“O episódio não serve somente para confirmar o padrão bolsonarista de desrespeito a mulheres, a jornalistas profissionais e à imprensa independente. Foi uma oportunidade para ver, na prática, como o discurso virulento de Bolsonaro se presta a atiçar seus camisas pardas a transformar palavras em ação. É a versão bolsonarista do “dog whistle”, expressão da política norte-americana que pode ser traduzida literalmente como “apito de cachorro” e que serve para definir frases do líder que são entendidas por seus seguidores como uma espécie de comando”, diz o editorial.

O apito de cachorro pode ser traduzido por outro benchmark da política nacional que os cientistas políticos brasileiros gostam de lembrar, a preocupação com o “guarda da esquina” manifestada pelo vice-presidente Pedro Aleixo, em 1968, na aurora da decretação do AI-5.

“O problema de uma lei assim não é o senhor [Costa e Silva, então presidente da República], nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina.”

Se é necessária alguma interpretação, trata-se de autorizar a violência para qualquer estrato de autoridade – como o do antigo guarda da esquina dos anos do regime militar.

De volta a 2022, o Estadão também foi na jugular do candidato a governador Tarcísio Gomes, o Tarcisão, que condenou Douglas e prestou solidariedade à jornalista, mas não foi enfático conra seu ex-chefe, Jair Bolsonaro:

Diz o jornal: “É preciso condenar o próprio presidente Bolsonaro, que soprou o apito. O candidato Tarcísio chamou o deputado de “idiota” e pediu desculpas à jornalista. Mas nada disse sobre a mesmíssima agressão que Bolsonaro cometeu contra Vera Magalhães”..

Waaal.

Tarcisão ficou na miúda nesta quinta (15).