Burguesia digital elege Miami e Austin para gastar riqueza em “cripto”

Austin, no Texas

Metrópoles da Flórida e do Texas tornam-se destinos preferenciais dos millennials que fogem da gentrificação de São Francisco

A elite da tecnologia norte-americana elegeu o sul do país como destino, e a moda segue o mesmo rumo. Nos últimos 18 meses, profissionais jovens e ricos inundaram Miami, Flórida e Austin, no Texas, ao perceberem durante a pandemia que poderiam ganhar seus milhões em criptomoedas sem ter que encarar os invernos gelados de Nova York ou o aquecidíssimo mercado imobiliário da área da baía de São Francisco.

E onde esses millennials consumistas vão, tendem a ser seguidos por hotéis boutique, restaurantes chiques e, claro, marcas de luxo. Em dezembro, a Chanel investiu cerca de US$ 40 milhões em um projeto de dois andares no concorrido Design District de Miami. A gerente geral de moda da Chanel, Joyce Green, disse ao BoF que a loja, a segunda na cidade, era a oportunidade de conexão com uma clientela local e internacional única e em expansão”. A Louis Vuitton também escolheu o mesmo CEP para abrir seu primeiro espaço nos EUA dedicado à moda masculina. O RealReal – mercado online e físico para remessas de luxo autenticadas com base na economia circular – acabou de abrir uma pop-up dentro da Saks Fifth Avenue e a favorita da geração Z, LoveShackFancy, elegeu o arborizado bairro de Coconut Grove para instalar seu QG.

Já a Gucci abrirá sua primeira loja em Austin – cidade famosa por suas universidades e por sediar o SXSW, concorrido festival de cinema, música e tecnologia que acontece na primavera e reúne algumas das cabeças mais relevantes do planeta – e a Hermès também planeja inaugurar uma boutique por lá ainda este ano. A Prada citou Austin como uma de suas prioridades em 2022.

Fato é que as marcas de luxo estão investindo nesses destinos com um interesse raramente visto fora de Nova York ou Los Angeles. “Siga o dinheiro. É para onde as pessoas de alto nível estão se movendo”, disse Alexis Piquero, professor de sociologia da Universidade de Miami ao BoF. “Se sou um empresário e não estou de olho em Miami ou Austin, estou na rota errada.”

Embora a moda esteja interessada em perseguir compradores ricos que se deslocam para esses mercados, essas vendas não virão automaticamente. Os empreendedores de tecnologia que usavam camisetas e jeans em São Francisco não vão de repente gastar 945 dólares em um short Louis Vuitton só porque se mudaram para o Texas.

De qualquer maneira, os varejistas de Austin comemoram o melhor dezembro em 40 anos e atribuem esse crescimento aos novos moradores da cidade. Ao contrário do que acontecia antes, marcas como Dries van Noten, Jil Sander, The Row, Loewe e Thom Browne estão vendendo bem naquelas paragens.

Miami segue sendo um ímã para turistas ricos de toda a América Latina, bem como para a turma que foge do inverno de Nova York. A migração para a cidade triplicou de julho de 2020 a julho de 2021, de acordo com a imobiliária Redfin, enquanto Austin é a área metropolitana que mais cresce nos Estados Unidos, de acordo com o US Census Bureau. As empresas financeiras Blackstone, Apollo Global Management e Moore Capital Management abriram recentemente escritórios em Miami. Os gigantes da tecnologia Oracle e Tesla mudaram suas sedes para Austin, e Apple, Meta e Google estão planejando grandes expansões de escritórios lá também.